Capítulo 1

26.1K 1.3K 1.1K
                                    


Charlotte on

O despertador me chama, insistentemente me chama.

Tento abrir os olhos, mas falho logo em seguida. Minhas retinas queimam com as tentativas, graças a luz do sol que já invade o quarto pela janela pouco aberta, juntamente a brisa fria típica de Londres.

Sinto o lençol fino se tornar insuficiente para me aquecer assim que o vento toca minha pele, causando um arrepio de ponta a ponta em minhas partes expostas. O que causa um incômodo tão difícil de ignorar, que acabo cedendo e despertando por completo e desgrudando as pálpebras.

Encolho os braços e meus músculos estão rígidos, implorando para que eu os estique. Obedeço suas vontades e ergo os membros, me espreguiçando.

A música do celular ainda atormenta meus ouvidos. Meu desejo mais sincero no momento, é pegar o aparelho e arremessa-lo o mais longe possível.

Mas não posso, não tenho dinheiro para colocar outro telefone no lugar.

Respiro fundo e por fim, contrariando meus instintos, me levanto para o mais novo "Hoje".

Hoje é mais um dia exatamente igual aos anteriores.

Acordar, tomar banho, colocar uma roupa simples... E realmente básica porque, sinceramente, eu vou trabalhar e não preciso impressionar ninguém.

Não que as pessoas devam se arrumar pra impressionar alguém, porém na maioria das vezes é isso que acontece. Nós nos arrumamos imaginando o que aquela pessoa específica vai pensar quando nos vir e acabamos por, sem querer, ficar refém do que as pessoas vão achar.

Não quero generalizar que todas as pessoas sejam assim mas sinceramente, eu sou.

Na verdade eu sou algumas coisas. Não diria que é muito fácil me entender e nem que todo mundo que gosta de mim.

No entanto, me permiti fazer uma lista. Uma lista tola de qualidades e defeitos que eu julgo ter.

Sobre as qualidades, posso começar por: Divertida, romântica, emocional compreensiva e corajosa. (ou pelo menos uma tentativa disso tudo).

Na verdade, não sei dizer se ser emocional é uma qualidade, já que isso torna as pessoas um pouco... Ingênuas às vezes.

E para os defeitos, pude listar: Impaciente, extremamente impaciente; insegura; tímida e, ligeiramente, confusa.

Enfim, retomando minha atenção para as portas do guarda-roupa escancaradas, espero que alguma idéia do que vestir venha como uma luz sobre minha cabeça. E como isso não acontece, sou obrigada a abrir a segunda gaveta e pegar uma camiseta preta para usar com a minha velha e cotidiana calça jeans.

Posso jurar que a qualquer momento essa peça de roupa irá sair andando por conta própria.

Antes de sair me olho no espelho, arrumo o cabelo solto e analiso ponta a ponta do meu reflexo. Fazendo uma nota mental de como estou me sentindo e esse pensamento conduz meu humor pelo resto do dia.

Logo que saio do meu quarto, passo na cozinha para surrupiar na geladeira alguma coisa fácil de comer como uma maçã, e antes de deixar totalmente o apartamento, retorno alguns passos até o quarto de Liz.

- Bom dia darling, queria apenas falar que já são 8h15 e você ainda ta na cama. - Digo, apoiada no batente da porta a vendo deitada com o celular em mãos.

- Graças a Deus, hoje é meu dia de folga e eu não pretendo levantar dessa cama tão cedo.

- Ok, seu dia de folga igual à seu dia de dar uma arrumada nessa casa! Bye bye. - Encerro rapidamente sem deixá-la argumentar contra e corro minhas pernas diretamente para fora de casa.

Eu moro com a Liz em Londres faz 1 ano. Nós nos mudamos pra cá porque sempre foi nosso sonho morar na capital da Inglaterra, onde tudo para ser mais possível.

Por sorte, recebemos o apoio de nossas famílias e isso facilitou tudo, recebemos ajuda para fazer a mudança. Porém, agora, somos apenas nós duas pra sustentar o apartamento. Não que seja completamente difícil, só não é completamente... Fácil.

Elisabeth trabalha em uma livraria a poucas quadras de onde moramos, e eu ganho minha vida em cafeteria no centro da cidade, no centro comercial da cidade. O lugar onde construções e edifícios comerciais gigantescos e riquíssimos dominavam.

Posso apostar todas as minhas fichas que apenas um salário de um daqueles empresários dariam cinco do meu, facilmente. Cinco ou muito mais.

Eu consigo ir andando até a trabalho, não é nenhum um pouco longe de onde eu moro, então basta colocar os fones de ouvido e caminhar.

E como eu adoro essa parte dos meus dias.

Adoro simplesmente, andar pelas ruas de Londres, sentindo o vento gelado batendo contra a pele do meu rosto. Posso observar as pessoas, pensar na vida e também nas reticências que minha mente vai colocando quando eu estou distraída.

Rapidamente, entro no café recém aberto e encontro Jake atrás do balcão.

Jake, o colega de trabalho que acabou se tornando mais que isso. Acabou se tornando o indivíduo que tomou liberdade para se auto denominar meu amigo próximo.

Sr.Evans, o gerente do lugar, está atrás do balcão também, sustentando no rosto a carranca de todo dia.

As mesas estão, relativamente, movimentadas e cheias nesse horário da manhã. Sempre há aquelas pessoas que buscam seus expressos e seus cappuccinos antes de irem para seus escritórios chiquérrimos.

- Bom dia, senhorita Smith - Sr.evans me cumprimenta com a voz rouca de todas as manhãs e eu apenas retribuo com um sorriso simpático.

Olho para Jake, ele parece incomodado com algo. Seus lábios estão crispados e o olhar sonolento cheio de desgosto matinal.

- Posso saber o motivo dessa cara fechada?- Pergunto logo que o Evans se afasta.

- Cheguei atrasado de novo e levei advertência outra vez.

- Mas é a 5 vez no mês, jake! Para de ficar saindo toda noite

- Simplesmente não dá pra passar o dia inteiro aqui, e não sair pra distrair a noite Charlotte! - Ele responde entre dentes.

Reviro os olhos tão forte que eles doem. A forma como ele fala, faz parecer que o trabalho é um tormento insuportável.

Exagero absurdo típico de Jake Ross.

- Ok ok, então recompensa seu atraso trabalhando! Mesa 5 ta chamando. - Aponto com a cabeça para o cliente com a mão estendida, e eu percebo automaticamente que se trata do Senhor Jones, o mesmo que vem aqui todas as manhãs.

Honestamente, depois de um ano trabalhado aqui posso dizer que reconheço muitíssimo bem os rostos que vejo todos os dias.

Do lado de dentro do balcão, amarro o avental em minha cintura e arregaço as mangas, suspirando fundo e trazendo ar aos pulmões, buscando a disposição para começar o trabalho.

E dessa forma pouco agitada, começava mais um dia exatamente igual aos outros.

Ou pelo menos era isso que eu pensava.

Maybe | Tom Holland حيث تعيش القصص. اكتشف الآن