Maybe | Tom Holland

Capítulo 44

Charlotte on.

 Se Caio desse mais alguns passos naquela sequência contínua de vai e vem dentro do cômodo, ele provavelmente iria furar o carpete do meu quarto. E se ele continuasse roendo as unhas naquela velocidade agoniante, não iria demorar muito para seus dentes alcançaram a carne viva do dedo.  

 Depois que eu despejei a história toda e tudo que eu estava aguentando sozinha em cima dele, Caio começou um surto desenfreado e uma série de perguntas mais sem controle ainda. Já fazia mais de uma hora que estávamos trancados dentro do quarto discutindo sobre aquilo, enquanto ele andava de um lado para outro na mesma direção.

Pra lá e pra cá, pra lá e pra cá. Sem parar. 

Ele com certeza iria furar meu carpete.

Roendo as unhas e gesticulando ao mesmo tempo que não aceitava nenhuma resposta minha. 

Há mais de uma hora. 

Aposto que naquele momento, o desespero dele era maior do que de qualquer outra pessoa envolvida. E eu só conseguia observá-lo, sentada no meio da cama, com o rosto molhado e levemente inchado, e as pernas cruzadas. Sentindo um pequeno alívio sobre os ombros. 

-Ela te sequestrou, bateu em você, te obrigou a sair da cidade, ameaçou todo mundo a sua volta, por causa do seu namorado? NÃO É POSSÍVEL! Ela é doente! 

-Não grita porfavor. 

-Desculpa se meu colapso ao saber desse absurdo te incômoda. - Sua voz se pronuncia com total ironia.

Reviro os olhos no mesmo instante, e quase posso enxergar dentro da minha própria cabeça.

-Você precisa voltar! Precisa voltar pra Londres, precisa voltar pra ele. O que você ainda tá fazendo aqui? - Ele murmurou, com uma voz tão convicta e certa que eu por pouco não concordei. 

Nas primeiras vezes que ele disse aquilo, meus olhos encheram d'água e eu começava a explicar a história toda de novo. Mas dessa vez, eu me limitei a soltar um forte suspiro frustração com todo ar dos meus pulmões. 

-Eu não posso Caio, você sabe que não dá!

-Por que? Só porque uma psicopata ameaçou acabar com a vida de todos que você ama?

Ele parou de andar apenas para dizer a frase e depois voltou a martelar o pobre piso com os pés. Incansavelmente mantendo o mesmo ritmo. Posso jurar que daqui algum tempo outro morador dessa casa vai aparecer e reclamar do barulho. 

-Exatamente por isso! - digo, com calma na voz mas começando a perder a paciência.  

-E ela, essa tal de Sofia, é o nome dela não é? 

Concordo com a cabeça e ele retoma, parecendo calcular a situação consigo mesmo.

-Você sabe que se essa mulher ficar com o Thomas, ela vai acabar com a vida dele do mesmo jeito, não sabe? Porque se ele ama você, ele não vai querer ficar com ela, logo será um completo infeliz.

O problema de discutir com meu irmão, era que ele sempre tinha a merda da razão. Mas será que Tom iria mesmo ser infeliz com ela?

-Eu não sei se ele vai ficar com a Sofia. Eu só não posso permitir que ela machuque alguém por minha causa. 

-Você diz como se ela não estivesse já machucando várias pessoas. - Ele crispou os lábios, dizendo algo certo mais uma vez. - Você está sofrendo, o Thomas está sofrendo, a Liz… Todo mundo já foi machucado. Por Deus Charlotte, você quase infartou naquela piscina hoje.