Maybe | Tom Holland

Capítulo 36

2 dias depois
17 horas restantes.

Charlotte nunca foi muito fã de acordar, como qualquer outra pessoa comum na verdade, mas simplesmente porque levantar da cama e abandonar a preguiça após uma noite de sono era muito difícil. No entanto, naquele dia em especial, ela nunca desejou tanto não ter que acordar. Não ter que sair da cama, não precisar sair de casa e não precisar aproveitar aquele dia como se fosse o último. Mas de fato era, o último dia de uma eternidade de dias numerados com ele.

Abrir os olhos e saber exatamente o que tinha que fazer naquele dia nunca doeu tanto. Tomar a decisão certa parecia ser a pior coisa que ela poderia fazer. E doeu mais, olhar no relógio e saber que restavam apenas horas pra tudo acabar.

Ainda deitada na cama, encarando o teto, Charlotte sentia uma dor de cabeça tremenda que nenhum comprimido, seria capaz de amenizar. Não era dor física, ela simplesmente doía e não iria parar até ela dizer adeus pra ele e finalmente ter encerrado o pior dia da sua vida.

Charlotte sabia o que fazer, pois durante os dois dias que passaram ela havia feito uma nota mental de tudo que precisaria ser feito antes que ela deixasse Londres.

Ela ligou e conversou com seus pais, avisando que voltaria pra casa em breve, pra sua casa no interior da Inglaterra. Pediu demissão no café e mal conseguiu explicar seus motivos para o gerente, precisou inventar qualquer desculpa dizendo que teria que voltar pra casa dos pais. Comprou uma passagem de trem só de ida, e fez suas malas.

A parte mais complicada é claro, era se despedir tanto de Liz quanto de Jake sem poder dizer as verdadeiras razões daquela partida. Com o melhor amigo foi até um pouco mais fácil, ela apenas disse que precisava ficar com os pais e ele entendeu, então deram seu último abraço apertado atrás do balcão. Aproveitou aquele mesmo momento pra se dizer tchau ao Sr. Lúcio, que por sua vez não aceitou de jeito nenhum a partida dela, segundo ele o café jamais seria o mesmo sem a "Carlotinha sorrindo atrás do balcão" e quando ela explicou que iria pra casa, Lucio fechou a cara e se recusou a terminar a xícara de café. Vê-lo daquele jeito, levou mais um pedaço do coração quebrado de Charlotte... Ela sentiria tanta falta daquele café e das pessoas que ali, ela tinha.

Lottie não podia de forma alguma contar pra alguém o porquê de tudo aquilo, então se despedir da melhor amiga foi definitivamente uma das coisas que mais doeu. Ela sempre, em toda vida e a vida toda, contou tudo para Elisabeth e agora teria que ir embora mentindo pra sua melhor amiga. Para o bem dela. Charlotte programou o discurso todo na sua cabeça e decidiu que iria dizer que precisava de distância de tudo, principalmente de Tom. Talvez assim, Liz entendesse melhor e aceitasse. Mas, independente do que ela dissesse, o último abraço lhe custaria as lágrimas mais grossas que já rolaram pelo seu rosto.

Feito tudo isso, com a mala fechada e a passagem pronta faltava apenas uma parte, a pior parte. Faltava apenas uma pessoa, a pessoa mais importante. Thomas. E de todas as maneiras de dizer adeus, Charlotte escolheu passar uma última e mais especial noite com ele. Entretanto, ela sabia que seria totalmente incapaz de realmente dizer adeus e não iria conseguir inventar qualquer desculpa ou história pra justificar seu partida. Com isso, ela decidiu fazer diferente: Iria escrever uma carta, e só entregaria no fim da noite. - Portanto, faltava escrever a carta também.

Charlotte se sentou na cama, respirou fundo ajeitando a postura e fechou os olhos, buscando dentro de si mais uma vez, todos os motivos que ela tinha pra prosseguir com aquilo. Ela passava o tempo todo reafirmando dentro de si, pra tentar não pensar em desistir. Ela não podia desistir, o medo que ela sentia do que Sofia era capaz de fazer, era o suficiente pra motivá-la. Então o próximo passo foi levantar, sentar na escrivaninha e com o lápis nas mãos, escrever a carta que colocaria um ponto final na sua história de amor.