Capítulo 42

4.4K 267 344
                                    

Charlotte on

-Nós não temos o dia inteiro minha deusa.

-Termino em 5 minutos.

-Você disse isso da uma última vez que eu te chamei. - Ele grita do andar de baixo. - Te espero no carro.

Talvez eu tenha dito, mas eu nunca sou muito pontual e faltava somente uma última pincelada de blush sobre as maçãs do rosto e eu estaria pronta.

Como combinado nós iríamos fotografar hoje, mas diferente do que eu imaginava, Caio programou as fotos para serem feitas ao ar livre e não em um estúdio com um fundo branco simples e um equipamento de iluminação mais simples ainda. Ele queria inovar seus métodos aparentemente e por isso decidiu arriscar e fazer as fotos em três ambientes diferentes, lá fora.

E eu não sei porque esperava que fosse algo contrário a isso. Meu irmão não gostava da mesmice e era adepto de toda e qualquer saída do tradicional. Era óbvio que ele iria querer me usar para inovar e testar as técnicas que ele tinha ao ar livre.

Era óbvio.

Ele não perderia a oportunidade por nada.

Caio propôs três ambientes diferentes, com três trocas de roupa diferentes e eu teria que me arrumar sozinha, porque a equipe de produção dele contava com um total de 0 pessoas além dele mesmo. Então eu precisei providenciar duas roupas para fotos em um campo e uma roupa de banho para fotos em uma piscina. Preparar cabelo e maquiagem usando apenas as únicas míseras habilidades que eu tinha. Precisei me virar sozinha e o resultado teria que ser suficiente.

E lá estava eu.

Sentada na minha penteadeira improvisada, que nada mais era do que uma mesa próxima a um espelho. Terminando de colorir minha pele com produtos antialérgicos e me encarando com completo desdém. Encarando minha própria imagem com uma grande e ridícula indiferença por mim mesma.

Eu estava bonita. E a Charlotte em seu estado de espírito normal, estaria se sentindo a garota mais linda e desejada do planeta. Fazendo poses, caras e bocas em frente ao espelho e com um sorriso exagerado no rosto.

Mas não, eu não estava me sentindo bem e também não estava no meu estado de espírito normal. Aquela mulher no espelho não tinha o menor brilho, ou o menor ânimo. Eu só conseguia olhá-la com a maior frieza e apatia. Não por causa dela mesma ou da aparência. Não era só para ela que eu olhava com desdém. Na verdade, qualquer coisa à minha volta não tinha a menor graça. Então meus olhos viam tudo com uma tamanha indiferença absurda.

Faziam semanas que eu havia perdido a vontade de fazer o que quer que seja. Semanas que o sorriso nos meus lábios não era sincero. Semanas e mais algum tempo que nada era o suficiente para preencher o vazio que me afastar de Tom gerou em mim. Chorar antes de dormir já não era novidade, muito menos me lembrar dele com tudo que eu via pela frente. Uma mísera frase que fosse, levava minha mente de volta até onde eu o deixei. Não era suportável, mas era inevitável.

Talvez fosse até necessário. Uma dor necessária e grande o suficiente para me fazer entender que eu fiz a coisa certa em deixá-lo para protegê-lo... Talvez eu precisasse ficar extremamente triste para superar tudo que aconteceu... Ah, a quem eu estou tentando enganar? Isso não vai acontecer.

A dor não era necessária, ela só era irrevogável.

Eu perdi o controle sobre meus sentimentos, quando desisti de lutar com eles. Parei de tentar ver o lado bom, e parei de tentar ser o minimamente possível feliz. E foi com isso, que eu me tornei desafeiçoada com qualquer coisa.

Eu passei à apenas existir e sentir saudade. Saudade era sem dúvidas a definição para tudo que eu sentia, e era imensurável. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. É isso, é esmagadora e impiedosa a saudade que eu sinto de você Tom.

Maybe | Tom Holland Where stories live. Discover now