Capítulo 37

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Charlotte on

Nem 2 casacos foram capazes de me aquecer do frio insuportável que fazia em Londres naquela manhã. O céu nublado comum, dessa vez estava mais escuro que o normal, com nuvens escuras e carregadas ao extremo. Sem dúvida nenhuma iria cair uma tempestade de água na cidade em breve mas eu não estarei aqui pra ver. Dentro de alguns minutos eu já estaria bem longe de Londres.

Sentada em um banco de madeira sozinha, na estação com uma mochila e uma passagem nas mãos. Eu estava apenas esperando o trem chegar para que eu finalmente embarcasse e acabasse de vez com aquilo. Deixar pra trás tudo de uma vez. O café, meu apartamento, meus melhores amigos, o Thomas e todos os momentos felizes que eu vivi aqui ficariam de vez pra trás, junto com a cidade de Londres. Cada uma daquelas coisas se tornaria passado, e apenas parte da minha história. As despedidas sempre me são dolorosas. Tão dolorosas quanto a agulha que tateia a veia perdida, porém, no lugar desta quem sofre é o coração. Como sedativo, um súbito sono me fez dormir mais cedo esta noite, esperando talvez, que tudo não passasse de um sonho. Mas então eu acordei, e aqui estou.

Assim que o trem parou e eles deram início as chamadas de embarque, eu peguei minhas coisas e respirei o ar gelado da capital inglesa pela última vez. Entrei no vagão, encontrei meu assento e me acomodei ao lado de uma senhora, que tinha o semblante feliz. Minha mente voou até o Senhor Lúcio e mesmo antes de realmente ir, eu já morria de saudades dele. Imagino que vá ser assim daqui pra frente... Morrer de saudades do que ficou.

De todas as mágoas, de todas as cenas tristes e de todas as noites em claro chorando, dar adeus é uma dor incomparável ao resto. O que era pra ser a última noite mais feliz da minha vida, se tornou a memória mais triste e bonita que eu levaria pro resto da vida.

Mas, mesmo com tudo isso, eu ainda era Charlotte Smith e ainda possuía meu lado ruim. E mesmo que eu estivesse de mãos atadas, sem alternativas e sem escolhas, eu estava indo embora com a maior ira dentro de mim. Uma raiva que me transformava em uma pessoa fria e cheia de vontade de cometer um crime de ódio. Eu podia não ser capaz disso, mas o que não faltava em mim era vontade. Sofia Collemam além de tirar tudo de mim, também despertou a minha pior versão.

Enfim, o trem partiu. Minha vida em Londres chegou realmente ao fim junto com a minha história de amor com Thomas. Minha nova - antiga - vida me esperava agora. De volta ao interior, de volta à minha família e de volta ao início. Oficialmente, acabou Tom... E eu vou morrer de saudades baby..

Thomas on

Eu pensei que fosse ser uma noite tranquila como qualquer outra. Nós iríamos nos entender e ficaria tudo bem, voltaria tudo ao normal. Mas como um soco doloroso na boca do estômago, eu assisti Charlotte chorar enquanto dizia coisas lindas e ao mesmo tempo tristes e sem sentido algum pra mim. Qual era a razão daquelas lágrimas, daquele desespero eu não conseguia entender porém assim que eu encarei aqueles olhos vermelhos, eu sabia que não tinha nada bem. Não era um choro de emoção, não... Era algo que realmente estava machucando a minha pequena.

De imediato eu pensei que fosse algo que eu fiz, busquei na minha memória qualquer coisa que eu poderia ter feito ou dito pra deixá-la tão chateada. Me culpei assim que a primeira lágrima escorreu. Eu estava fazendo mal pra ela? Onde exatamente eu errei? Eu precisava consertar, e diante daquilo não cabiam apenas desculpas mas aí... Ela disse que me amava. Disse que eu fui a intensidade e o amor mais sincero que ela já viveu e que eu fiz dela feliz. Eu fiz ela feliz. Charlotte disse "Eu te amo" e naquele instante me fez o cara mais feliz e completo do mundo.

E depois disso eu entendi que não podia ser culpa minha. Mas então o que era? O que machucava e a deixava tão triste? Eu não aguentava ver aqueles olhinhos cheios d'água e aquela voz tão fraquinha e não saber o motivo. Não saber o que fazer pra melhorar. Doía muito mais em mim vê-la chorar do que qualquer outra coisa já doeu. Me senti um completo incapaz, e parecia que nenhuma palavra minha a confortava e aquilo começou a me quebrar por dentro. Apesar dela não dizer, estava escrito no seu rosto que não tinha absolutamente nada bem. E quando eu tentei dizer que também a amava mais que tudo, ela não deixou.

Maybe | Tom Holland Where stories live. Discover now