Capítulo 38

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(Música para o capítulo "Lay Me Down - Sam Smith")

Houve uma vez, um dia em algum lugar, eu me lembro de ter visto ou escutado a seguinte frase: "Se você puder escolher entre falar a verdade e ser gentil, escolha ser gentil". Naquele momento eu não dei muita importância, muito menos concordei com aquilo. Porque pra mim existem verdades e mentiras, apenas. Você escolhe dizer a verdade ou você escolhe mentir, não existe essa de ser "gentil". A partir do momento que você escolhe ser gentil suavizando a verdade, em parte aquilo se torna mentira. Pelo menos um pouco daquilo não é mais verdade. Você escolheu ser gentil... Entre ser sincero ou não, você prezou por ser legal com alguém.

Então agora eu me pergunto, Charlotte disse a verdade ou foi gentil?

Não me impressionaria se ela tivesse mentido pra não me decepcionar (mais). Eu quase posso imaginar a cena em que ela decidiu que era melhor inventar uma carta pra não precisar dizer os reais motivos daquela partida. Ela era doce, tão preocupada com não me machucar que acabou se esquecendo que eu iria preferir a verdade dela ao invés de todo um texto que acabou comigo.

Se ela não foi honesta na carta quanto as razões dela, quais eram os motivos reais?

Eu tenho consciência de todos os meus erros. Não foram poucos, nem perto disso. Charlotte evitava se pronunciar e quase nunca queria conversar sobre, pelo menos nas vezes que eu tentei, ela não quis. Talvez isso estivesse incomodando demais, tanto que ela não conseguiu aguentar ficar comigo por mais que gostasse de mim. Eu sinto que errei tanto com ela, que acabei provocando tudo isso. No fundo eu sabia que a culpa era minha. Ela não merecia suportar toda minha instabilidade. Além de perdê-la, eu perdi por minha culpa. Charlotte se foi por minha causa. Princesa eu não tive a intenção.

Porém, se ela foi embora assim de repente para simplesmente se afastar de mim. Onde ela foi? Ela realmente foi?

Eu não posso permitir que ela termine tudo assim, sem nem ao menos me deixar conversar com ela. Eu tenho muita coisa para dizer também. Trilhões de motivos para continuarmos juntos. Eu a amo. Eu amo aquela mulher mais do que qualquer coisa e se eu ainda tenho a chance, preciso ir atrás dela. Ela escreveu na carta que estava me salvando da bomba relógio que era estarmos juntos, mas francamente, eu não me importaria em nada de ter que explodir por estar com ela.

Eu precisava encontrá-la. Precisava vê-la. Eu não podia apenas ficar sentado na frente daquela janela vendo a chuva cair. Não mesmo. Então subitamente todas as minhas lágrimas secaram e meu corpo se agitou automaticamente. Engoli o choro, respirei fundo e me levantei sabendo exatamente onde eu devia ir. Precisava ir até ela.

Depois de colocar uma roupa arrumada o suficiente pra sair em público, eu só me importei em pegar as chaves do carro e sair dirigindo pelas ruas chuvosas de Londres e ir até o apartamento dela. Com uma única esperança e uma carta em mãos.

Desliguei o motor e nem me atentei em trancar o carro, eu apenas desci do veículo e com passos apertados e ritmados atravessei a rua. Quando na porta do edifício onde ela morava, eu toquei o interfone. Pressionei o botão sem dó nenhuma, e nenhum receio de afundá-lo por isso. E depois de uma certa insistência da minha parte, alguém atendeu e meu coração disparou.

- Quem é?

Não era voz dela. Não era a Charlotte quem atendeu.

- Sou eu, Thomas.

Um silêncio se instalou. A pessoa do outro lado não respondeu por alguns longos segundos.

- Espera um minuto, 'tô' descendo fica aí. - Ela disse e desligou em seguida. Me fazendo esperar completamente apreensivo.

Maybe | Tom Holland Where stories live. Discover now