Capítulo 13

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Estamos sentados no sofá, um ao lado do outro, cada um com sua taça de vinho nas mãos. Nossas mãos desocupadas estão entrelaçadas.

Era engraçado como não era desconfortável ficar em silencio com Kobbi por alguns instantes. Pelo contrário, eu sentia uma sensação de... paz.

- Como estão as coisas na Belle Conseil? Está gostando de estudar lá? – Kobbi pergunta.

- Estou.

- Está mesmo? – ele pergunta. Acho que notou que eu não estava sendo totalmente sincera.

- É só que... é um pouco mais difícil para mim do que para o Pierre, por exemplo. Sinto que os professores me tratam de maneira diferente por eu ser...

- Uma mestiça. – ele completa.

Algo no jeito que ele fala me incomoda. Eu nunca havia pensando em mim daquela forma.

- Eu sei bem o que você está sentindo, mon petit. – ele fala, com a voz tranquila.

- Sabe?

- Sim, sei. Meu pai não é daqui. É da República do Congo. Ele veio para Paris para tentar uma vida melhor quando era jovem. – penso um pouco e percebo que isso explicava o seu nome tão diferente, assim como o meu. – Ele conheceu a minha mãe e os dois se casaram. Aquele café que nós visitamos é deles.

Abro a boca, me sentindo surpresa. Ele continua.

- Eu nasci aqui em Paris, mas, não sei... nunca me senti um parisiense de verdade. Ou nunca me trataram como um. Diga-me, você já comeu um croissant tão bom quanto o do meu pai?

- Nunca!

- Pois é. Mas mesmo assim, o seu café não está na lista dos melhores cafés da cidade... - olho para ele, tentando entender o seu raciocínio. – Se fosse de um francês, com certeza estaria!

Eu não podia negar o que ele estava dizendo, por que todos os dias durante as aulas eu sentia aquele tipo de exclusão.

- Para você, quando estava estudando, como foi? – pergunto.

- Foi muito difícil! Todos os dias eles queriam me mostrar que ali não era o meu lugar, então eu tinha que me esforçar o dobro dos meus colegas. No final das contas acho que valeu a pena.

Dou um sorriso triste em resposta.

- Tenho que fazer a mesma coisa. – digo. Ele dá um pequeno sorriso e acaricia o meu rosto. – Mas você nasceu aqui, então porque..?

- Por que você acha que os seguranças me tiraram do Le Dandy naquele dia, Lara Jean? Porque eu sou negro!

Eu não digo nada, porque no dia eu tinha pensado a mesma coisa, o que havia me deixado ainda mais indignada.

- Eu não pertenço a este lugar e está estampado na minha pele. Assim como está estampado nos seus olhinhos puxados... – ele diz e passa o dedo na ponta do meu nariz.

O tema da nossa conversa é pesado, mas não me sinto incomodada. Pelo contrário, Kobbi a está conduzindo de forma leve.

- Isso lhe afeta muito, não é? – pergunto. Kobbi dá de ombros antes de responder.

- Já me afetou. Hoje não me afeta tanto. Não sei, é como se... como se eu não me sentisse pertencente a lugar nenhum. Você se sente assim também?

Ele pergunta e não sei o que responder num primeiro momento. Na Virginia eu me sentia muito americana, mas é claro que me sentia excluída em alguns momentos ou sentia algum tipo de preconceito, mas não tão intenso como eu sentia aqui na França. Quando fui para a Coreia com as minhas irmãs, pensei que me sentiria conectada com o lugar de alguma forma, mas não foi assim que me senti. Senti-me mais conectada à minha mãe do que ao país em si.

Para sempre sua, Lara JeanOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz