Parte 19

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- S/N o que está acontecendo? Pelo amor de Deus, me responda! - Gojo dava tapinhas no meu rosto para tentar me trazer à realidade.

Eu estava paralisada, olhando para o teto. As lágrimas desciam pelos cantos dos olhos. Meu corpo não respondia e eu não conseguia respirar.

Ele pegou seu celular no criado-mudo para chamar ajuda.

Só o Geto sabia sobre o ritual de beijos. Só ele me chamava de cookie. Não lembrava de dividir isso com ninguém. Como era possível alguém descobrir essas coisas e brincar com meus sentimentos desse jeito? Quem faria isso? Será que ... uma ideia absurda passou pela minha cabeça. Mas me apeguei a ela como se fosse oxigênio.

- Geto ... - eu falei com a voz fraca.

Gojo parou de digitar na hora e olhou para mim sério.

- Era o Geto nas mensagens ... - eu fui me recompondo, ainda com o rosto pálido.

Me sentei na cama e olhei o Gojo com os olhos arregalados. Ele se levantou, vestiu uma bermuda qualquer, foi até um canto do quarto, pegou a camisa branca do smoking jogada no chão, veio até mim e me cobriu. Não disse uma palavra. Sentou ao meu lado e me ajudou a vestir a camisa. Abotou-a, botão por botão.

- Isso é impossível! - ele finalmente disse secamente.

- Me dá meu celular, deixa eu falar com ele! - Eu ordenei ao Gojo, sem escutar uma palavra que ele tinha acabado de falar. - Deixa eu falar com o Geto! Meu Geto ... - comecei a chorar vendo que o Gojo não me obedecia. Ele estava imóvel.

- Por que ... - ele tremeu a voz de raiva e fez uma pausa para estabilizá-la - por que você acha que era ele, S/N?

- Meu Geto ... - eu balbuciei entre prantos e cobrindo a boca com as mãos.

Me recordei de dizer isso repetidas vezes quando me contaram que ele havia morrido. De não acreditar e tentar ligar pra ele, sem resposta. Depois, ter que aceitar que a morte dele era verdade, caindo no chão em prantos, corroída pela dor nos ossos. A dor nos ossos me corroia agora também! Tudo estava voltando à tona. Tudo! Absolutamente tudo!

- GOJO! - eu gritei com ele - Me dá meu celular! - eu estava descontrolada.

- Por que, S/N? Por que você acha que era ele? - ele repetiu a pergunta sério e imóvel.

- Só ele me chamava de cookie! Só ele sabia do ritual de "eu te amo" em beijos! Só ele! Não tinha como mais ninguém saber! Tudo bem se alguém sabia sobre o cookie, podem ter escutado. Mas como saberiam sobre o ritual? Isso era uma coisa minha e só falei pra ele! Ele falou para alguém? Não, por que ele faria isso? Foi ele quem mandou aquelas mensagens, Gojo! - eu vomitei o que se passava pela minha cabeça, terminei quase sem fôlego.

- Ritual? - ele estava tentando entender ainda.

- Esse aqui! - eu simulei com a ponta de dois dedos um beijo no pescoço, no queixo, nas bochechas e na boca dele - Eu faço isso para dizer "eu te amo", sem exatamente dizer ... entende? - eu expliquei mais calma - Ontem eu fiz isso em você. - virei o rosto meio envergonhada por ele saber agora.

Ele se mexeu. Chegou mais perto de mim e me deu um abraço muito apertado, enfiando o rosto no meu pescoço. Eu retribui.

- S/N ... - ele começou a falar com a voz calma, descolando o rosto do meu pescoço e ficando face a face comigo - eu sabia sobre o cookie! Escutei inúmeras vezes ele se referir a você assim! E tenho certeza que muitas pessoas escutaram isso dele também!

- Mas ... - tentei discordar, na esperança de ele não ter razão e o Geto estar vivo.

- Não tenho certeza sobre o ritual, mas eu vou investigar, S/N! Alguém saber sobre o ritual é uma coisa. Outra coisa é saber que você fez ele ontem, aqui no meu quarto! Como saberiam? Estamos sendo espionados? - ele fez uma pausa - Pensa S/N! Usa a cabeça!

Eu comecei a chorar. Eu queria usar a cabeça, mas estava tão difícil raciocinar.

- É muito duro o que eu vou te dizer agora, mas ... olha pra mim ... - eu olhei ele nos olhos e ele segurou minha nuca com uma das mãos - o Geto morreu! Ele ... morreu, entendeu? Aquele filho da p ...

Ele me soltou bruscamente. Levantou da cama e se virou para a porta, de costas para mim. Estava enxugando os olhos. Houve raiva na sua última fala. Fazia tempo que não escutava o nome Geto saindo da boca dele. Acho que isso o abalou também.

Eu levantei da cama e o abracei pelas costas. Abracei forte.

Ele pegou algo no bolso da bermuda. Vi que era meu celular. Ele digitou algo e em seguida me passou o celular. Fiquei alguns segundos encarando a tela. Ele havia respondido o número desconhecido:

"Pare agora com essa palhaçada!".

"Gojo".

Eu fiquei grata por isso ter acontecido perto do Gojo. Eu não sei o que poderia ter feito se estivesse sozinha. Eu fiquei perturbada! Eu poderia cair numa armadilha qualquer, como um rato numa ratoeira. Esse meu estado emocional me fazia uma presa fácil.

Bloqueei o contato do celular. De agora em diante, eu não deixaria a história do Geto me abalar mais. Ele estava morto e era passado.

- Eu quem vou investigar isso! Escutou, Gojo? - falei firme e dei um beijo doce nele - Se tem alguém nos espiando, acho que deveríamos dar um showzinho extra, não acha? - provoquei-o, passando a mão no pau dele, por cima da bermuda.

Me afastei, comecei a recolher as minhas coisas e ao mesmo tempo fiz uma ligação ali mesmo para um amigo que rastreava números de celulares. Quem sabe acharia alguma pista.

Gojo ficou parado sem reação. Seu pau estava duro. Dei um sorriso, ainda falando ao telefone e sai do quarto. Fui nas pontas dos pés para o meu. Torcendo para não encontrar ninguém. Eu ainda estava só com a camisa do Gojo.

O vazio da morteWhere stories live. Discover now