Parte 57

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P.O.V.: S/N

Abri os olhos muito rápido e a claridade os irritou. Fechei rapidamente e levei a mão aos olhos. Escutei alguém falar algo ao longe. Tentei abrir os olhos de novo e esperei eles se acostumarem com a claridade.

Estava deitada, vi as lâmpadas no teto branco. Ao passar a mão pelo meu campo de visão, eu vi um cateter enfiado nas costas das minhas mãos, protegido por esparadrapos. Hospital? Eu estava em um hospital?

Tentei erguer minha cabeça, mas ela doeu muito. Voltei a deitá-la. Nesse instante, alguns médicos chegaram e começaram a me examinar.

Eram muitos médicos, percebi um aglomerado de enfermeiros que se juntaram no canto da sala e cochichavam baixinho.

Notei um movimento sobre minhas pernas e um latido. Percebi que aquele peso se deslocou pelas minhas pernas e veio subindo. Outro latido. Alguém mexeu minha cabeça levemente e consegui ver minha barriga.

- O cão do Megumi? O que ... ele está fazendo aqui? - eu falei baixinho. Ele abanava o rabo, todo feliz.

Os médicos se entreolharam e pareciam perplexos.

- Ela está falando normalmente! - S/N, minha querida, consegue me ouvir? Se sim, aperte a mão da enfermeira que está segurando a sua mão direita.

Eu o obedeci e olhei para ele. Ele deu um sorriso maravilhado.

- Mas ela parece estar tendo alucinações. Escutou ela citar um cão? - um outro médico falou alarmado.

- Todos vocês, parem, por favor! Estamos assustando a paciente! - um dos médicos deu um basta naquilo. - S/N, minha querida, você está nos vendo?

- Sim, doutor!

- Que ótimo! Você sabe onde está?

- Em um hospital! - eu respondi com a voz fraca.

- Muito bem! Está sentindo isso aqui?

- O senhor está tocando meu pé direito.

- E agora?

- Está tocando minha mão esquerda.

Ele fez uma série de exames. Ele era muito gentil. Resolvi não falar nada sobre o cãozinho do Megumi. Ele era uma maldição, então, só eu via. Não quis passar por louca.

- S/N, você sabe porque está aqui?

Essa pergunta me causou um frio na barriga. Eu engoli seco. Eu não conseguia organizar os pensamentos. Não conseguia puxar na memória.

- Doutor, eu ... - meu rosto começou a ficar angustiado.

- Tudo bem, não se esforce! Tá bom? - ele colocou a mão em meu ombro e deu tapinhas leves. - É muito comum a cabeça ficar bagunçada logo que você acorda. Então, relaxe! Dê tempo para a sua cabeça se organizar, tá bem?

- O que aconteceu comigo? - eu o questionei aflita.

- A senhorita bateu a cabeça muito forte e passou uns dias aqui no hospital, desacordada. - ele fez uma pausa. - Nós estamos muito felizes por você ter acordado! Por isso foi aquele fuzuê de médicos e enfermeiros aqui no seu quarto! - ele sorriu alegremente. - Vamos preparar um quarto melhor para você agora e já voltamos te buscar, ok?

- Ok, doutor! Obrigada! - ele era muito gentil comigo. Fiquei mais calma.

- Não há de quê! Descanse! - ele me comprimentou com a cabeça e se retirou do quarto.

Estava meio atordoada, poderia ser a medicação. Escutei o latido do cãozinho do Megumi, ainda na minha barriga. E senti seu rabinho bater sobre o lençol. Levei minha mão em sua cabeça e comecei a acariciá-lo. Peguei no sono, sem perceber.

O vazio da morteWhere stories live. Discover now