Parte 60

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Escutei batidas à porta.

- Pode entrar! - me perguntei quem seria.

- Olá querida, vim ver como está! - era o Dr. Takahashi.

Ele adentrou o meu quarto no hospital, mas ele não estava vestido com o típico jaleco médico, com a touca e a máscara, como sempre o via. Ele estava vestido normalmente, como um homem comum. Ele tinha cabelos pretos curtos, que caiam em sua testa. Vestia uma jaqueta de couro preta, por baixo uma camiseta básica, preta também. Usava uma calça jeans rasgada nos joelhos e um coturno preto bastante surrado. Havia um capacete em uma de suas mãos.

Ele aparentava ter a minha idade. Talvez de uns 5 a 10 anos mais velho que eu. E era muito bonito.

- Dr. Takahashi? - eu falei surpresa, me sentando na cama.

- Meu turno acabou e resolvi passar aqui para ver como estava, antes de ir. - ele fez uma pausa ao se sentar na minha cama e colocar o capacete no pé do leito, escorando o cotovelo nele. - E então? Como está? - sorriu docemente.

Era a primeira vez que enxergava o sorriso do doutor. Ele tinha uma boca atraente.

Ele estava sendo informal. Mas ainda tecia aquele olhar de médico, tentando traçar um diagnóstico.

- Eu estou bem! Só entediada! E frustrada! - eu comecei a resmungar. - To tão sem coisa para fazer que já decorei todos os procedimentos dessa ala, já posso ajudar as enfermeiras! Já sei o nome de todas elas e ... de todos os turnos, hein! - fiz uma pausa para respirar e ele ria. - E doutor, eu não consigo me lembrar! Isso é muito frustrante! - fiz uma cara emburrada.

- Eu sei do que você precisa! - ele exclamou empolgado. - Você precisa de ar! - ele ria enquanto pegava na minha mão. - Venha, vamos dar uma volta!

Eu estava totalmente sem reação. Surpresa. Ele me ajudou a descer da cama, abriu meu armário, pegou uma muda de roupa e entregou a mim.

- Vá, tira esse pijama de moribundo! - falou com autoridade de médico, apontando para eu me trocar no banheiro. - Vamos dar uma volta na minha moto!

- Eu posso? ... Sair? Pensei que só com alta ...

- Se você contar para alguém, eu vou negar! - ele me olhou de cima para baixo, sério. Mas logo depois, deu um sorriso.

O vazio da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora