PRÓLOGO

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— E 1, e 2, e 3 e, 4!

Eu escutava minha professora contar o ritmo da música que estávamos dançando pela milésima vez naquele dia, e eu não poderia me sentir mais miserável. Não me entenda mal, eu adoro o balé, mas estava exausta. Qual é, dançar 5 horas seguidas é coisa de louco, é tortura, e só pode ser justificado com cachaça.

Meu nome é Kim C. Farthald (é, vamos manter a vergonha do meu nome do meio oculta por enquanto)e você deve estar se perguntando: dança? Cadê todo o caratê, a Califórnia e claro... Cadê aquele bendito moicano?
Bom, peço sua paciência, meu pequeno gafanhoto, nós já chegaremos lá. Pensei que talvez vocês devessem entender um pouquinho mais sobre a minha vida antes de bom... todo aquele caos.

— Professora Callie? – Chamo a sua atenção quando sinto um choque desagradável em meu pé.

— Sim?

— Eu posso ir pra casa agora? Meus pés doem, eu estou cansada e...

— Cansada? – Ela ri com escárnio. – Senhorita  Kim, pensei que quisesse ganhar aquela competição.

— E eu quero! Mas...

— Não existe “mas” na perfeição! Quando se inscreveu em uma das maiores competições do talento do país, estava ciente que eu não pegaria leve com você. Você é fraca, não tem técnica, nunca vai conseguir nada se reclamar como um bebezinho todos as aulas!

— Eu entendo, mas estamos aqui faz 5 horas.

— Você entende o que está em risco aqui, né?

— Eu entendo. – baixo a minha cabeça.

— Perdedores sairiam pela porta agora, mas se você quer uma chance de ganhar, você já sabe o que fazer.

— Sim, senhorita Callie, eu sei.

— E então, você é uma perdedora, Kim?

— Não, senhorita Callie.

— Então o que você vai fazer? – A mulher abre um sorriso.

Caminho até minha mochila, a colocando sobre meus ombros.

— Vou sair pela porra da sua porta, e ganhar essa merda sem você. – Me viro de costas e caminho até a saída.

— Você vai se arrepender, garota! – Escuto minha ex professora gritar atrás de mim.

Sem me virar, apenas levanto meu braço com minha mão em sinal de dedo do meio em sua direção, aquela foi a última vez que eu pisei naquela sala.

1 ano e meio depois...

— E a vencedora do “New Artists America” é... – O apresentador deixa o suspense no ar por alguns segundos. – Kim! – Confetes e mais confetes caem pelo palco ao som de uma música emocionante.

— E a vencedora do “New Artists America” é... Kim!

Escuto novamente.

— E a vencedora do “New Artists America” é... Kim!

E novamente, e novamente...

— Pai, será que você poderia parar de dar replay nessa cena de novo e de novo, por favor? – Pego o controle da mão do meu pai e pauso o vídeo que passava na televisão.

— E perder algum detalhe da minha cena preferida? Jamais!

— Eu sei que você fica muito orgulhoso e etcetera, mas já fazem 3 meses que o programa acabou e você já o re-assistiu umas 7 vezes! Nem eu me aguento mais nessa tv.

— 8 vezes. – Ele responde, ignorando o meu pedido e dando play no vídeo novamente.

Bufo e continuo a mexer em uma pilha de roupas, posicionada do lado de algumas caixas, umas abertas, outras já fechadas. Estávamos separando o que levaríamos conosco e o que ficaria para doação antes da mudança.

Ah, perdão, esqueci de comentar, estamos nos mudando. Aparentemente meu pai recebeu uma proposta de trabalho muito boa em sua cidade natal e como ele sempre quis voltar para aquele lugar, lá vamos nós.

Um brilho dourado em uma caixa de coisas antigas do meu pai me chama atenção, que tralhas dos anos 80 ele teria por aqui?

— Pai, posso dar uma olhada?

— Uhum, claro. – Ele responde sem prestar atenção.

Abro a caixa e vejo que o brilho vinha de um troféu de segundo lugar em um... Torneio de caratê? Continuo a mexer na caixa, algumas medalhas, aparelhos de som, fones de ouvido com toca fitas (era um walkman, esse eu confisquei para uso pessoal) e por fim, pego um tecido branco no fundo da caixa, estava empoeirado e velho, mas percebo que se tratava de algo parecido com um roupão. Seja lá qual for o jeito que chamam essa coisa, não esperava encontrar uma cobra gigante estampada em suas costas.

— Cobra Kai? – Leio em voz alta. – Que tipo de spa você frequentava, papai?

THE BALLERINA - Cobra KaiWhere stories live. Discover now