CAPÍTULO 11

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Ela era linda! Perfeita. Eu fiquei olhando Candid sair da cabana e me deixar ali com aquela deusa que me olhava com dúvida e desprezo nos olhos de gato.
"Está mesmo disposta a isso?" Eu balancei meu indicador entre eu e ela, Creek virou o rosto.
Ela devia ter passado a noite pensando em tudo isso, mas agora em frente a mim, ela estava sendo confrontada com a realidade.
Por que nada deixa uma coisa mais real que encarar um monstro de frente. Eu abusei da amiga dela, a irmã dela, já que elas pareciam se tratar como irmãs.
Kit deve ter contado tudo, em horripilantes detalhes e eu via que era isso que passava pela mente dela agora.
Ela se levantou eu senti cheiro de sexo nela, sexo com Candid. Elas eram livres, deliciosamente livres quanto a sexo, podiam passar meses com um único macho sem se apaixonarem, apenas vivendo uma amizade respeitosa com esse macho, sexo para elas era como passar um tempo de qualidade com um amigo e só.
Eu estava a muito tempo sem ver uma delas, quando estive no hospital cuidando de Honest, eu fiquei isolado. Eu sempre fui apaixonado pela beleza delas e Creek...
"Eu vou ligar para Candid, eu descobri que não sou capaz." Eu acenei, ela pegou o celular e me olhou.
"Não faria diferença para você? Não se importaria em me dar um filhote?" Ela perguntou, seus olhos de gato presos em mim e me prendendo de volta, afinal haviam pelo menos uns três tons de verde formando a íris fabulosa dela.
"Uma filhote. Eu tendo a crer que seria uma fêmea. Parecida comigo, mas seria fêmea." Ela deu um passo para trás.
"Está tentando me convencer?" Ela disse fechando a cara.
"Não." Eu queria o chip, só isso. Candid sabia bem que cordões apertar.
"Se não for você vai ser outra, não há muito tempo. Na verdade, conhecendo Simple provavelmente ele já ganhou. Eu não sei os termos, mas é uma aposta não é?" Eu sabia que era, Candid não se importaria em dar uma filhote para ela se não houvesse algo grande em troca. E superar Simple era algo grande para ele.
Ela olhou para os lados, devia estar se sentindo acoada. Uma linda tigresa enjaulada, dividida entre seus princípios e o maior desejo de seu coração.
"Eu não iria atrás de vocês duas. Eu não me apego a nada. Não importa se agora meu sangue se tornou quente, eu continuo frio e vazio." Eu disse, ela me encarou. Meu sangue realmente estava quente. E começando a se dirigir para um lugar.
"Ela mereceria um pai melhor." Ela disse, eu concordei.
"E haveria centenas de machos que adorariam cumprir esse papel. Você é..." Eu não consegui uma palavra só, eu poderia falar por horas de tudo o que ela era, de tudo que todas as fêmeas eram.
"Eu não poderia mentir para ela." Eu assenti. É claro que não. Ela provavelmente não sabia mentir, não de forma que eu não percebesse pelo menos.
"Ela seria parecida com você?" Ela se sentou, eu sorri.
"Sim. Olhos, cabelos, pele, feições. Pelo menos usando a técnica que eu usei com Halfpint." Ela se levantou de novo e foi até uma janela. Ela usava um jeans justo surrado e uma camiseta de alças. O corpo perfeito dela estava ali a minha frente, pernas longas quadris redondos, mas não muito, cintura fina, bunda empinada, seios pequenos, bem feitos. Eu salivei, ela se virou e me encarou.
"Está excitado?" Ela olhou para a minha virilha e foi o suficiente, meu pau endureceu. Eu dei de ombros.
"Você sabe o quão sensual você é, não sabe?" Ela voltou a se virar, mas eu senti que ela estava incomodada. Não excitada, mas estava muito consciente de mim.
"Quando achávamos que você... Antes de você..." Eu continuei por ela:
"Quando não sabiam o monstro que eu era?" Ela se virou.
"Sim. Eu fui uma das que me ofereci para você, você não quis. E até onde eu sei, você nunca compartilhou sexo com nenhuma de nós." Eu sorri, ela estreitou os olhos.
"Eu sempre fui fascinado pelo que vocês são, mas eu sempre machuquei tudo o que eu toquei. Eu fiquei longe, pois se fizesse sexo com uma de vocês eu seria expulso ou preso no dia seguinte." Eu disse, ela piscou.
"E você ainda é... Assim?" Eu suspirei.
"Sim. Eu não sei dar prazer a uma fêmea, eu só sei dar dor. Se você estivesse disposta a ter uma filhote eu iria apenas penetrar em você, sem carinho, sem beijos. É assim que eu trato as garotas de Candid. Eu não toco elas, eu só entro nelas enfio, tiro até gozar algumas vezes e elas se vão."
Eu talvez não devesse falar essas coisas com ela, mas eu não era mais capaz de mentir.
Ela se aproximou, eu recuei.
"Não pense que pode me fazer mudar, você não pode, ninguém pode." Ela continuou se aproximando, eu comecei a tremer, ela era um tesão de grandes proporções.
"Eu não posso. Mesmo depois de mais de dezesseis anos, ainda dói pensar em você abusando de Kit." Ela disse eu me virei e me sentei ajeitando meu pau.
"Você não precisa me olhar, você se vira e pronto, eu termino. Pode fechar os olhos pode imaginar outro. Por que eu só consigo pensar que se te desse uma filhotinha, uma que fosse criada bem longe de mim, eu estaria usando o conhecimento que adquiri com aquela experiência deprimente. Eu sei que você não pensa como eu, mas fazer você engravidar, alegrar a sua vida, proporcionar algum bem dessa história me ajudaria a me sentir menos mal." Eu disse, ela sorriu, um sorriso pingando desprezo.
"Eu espero que você nunca se sinta bem, nunca! Eu quero que você sofra por toda a sua vida e espero que você viva muito." Eu concordava.
"Sim, mas e se você se colocasse no meu lugar por um único segundo Creek. O que me resta agora?" Eu perguntei, ela balançou a cabeça com energia balançando os fabulosos cabelos castanhos claros brilhantes.
"Devia ter pensado nisso antes de fazer o que fez. Por que você não parou só no abuso de Kit. Você fez muito mal ao meu povo, eu ainda não acredito que você está aqui, numa cabana se divertindo!" Ela disse, eu sorri. Acho que eu e Candid rindo de Simple puxando os cabelos irritou ela.
"Eu morri, Creek. Mesmo podendo me curar, mesmo tendo contraído uma doença degenerativa devido às minhas experiências. Eu fiquei dependente do sangue de Vengeance e ele se ofereceu. No fim, no meu último dia, Vengeance se ofereceu para me curar, ele disse que me daria todo o seu sangue. E eu recusei. E morri. Eu. Morri. Para expurgar minha culpa, eu escolhi morrer, eu escolhi deixar de viver. Mas algo deu muito errado e eu voltei. E não fui eu que me levei para a minha cabana, não fui eu que encomendei o vidro e revesti as paredes. Eu sei que eu não mereço viver." Eu disse, ela torceu a boca.
Eu nunca tinha falado daquilo para ninguém. Mas eu queria o perdão dela. E queria dar a ela a filhotinha, por que entendi que o anseio do coração dela era genuíno, era tal que a fez entrar em minha cabana, a fez tentar vencer o asco que tinha por mim.
"Eu acho que a morte não traz redenção." Ela disse e sim, eu concordava com ela.
"Eu também acho, linda Creek. Mas eu tentei ajudar seu povo vezes sem conta. Eu salvei Jewel, ela não tem valor para você? Todas as vezes que eu salvei alguém, eu pensava que aquilo poderia ter algum valor, que poderia ser um degrauzinho até a minha redenção. Eu descobri como fazer um clone, mas eu não fiz. Eu salvei Adam e Noah me quebrou todo, mesmo assim, eu continuei cuidando dele, até que ele ficasse bom. Ele iria morrer, sabia? Nada disso tem valor para você? Eu só posso tentar ser o melhor que eu puder, e te dar uma filhotinha seria um degrau muito grande." Eu disse, mas eu mesmo sabia que uma coisa não tinha a ver com outra.
"Eu sei que você deve estar pensando que nada que eu faça vai me trazer o perdão. Mas e se Simple não conseguir? Eu seria o único que poderia te dar uma filhotinha. Porque Candid não estaria aqui se ele achasse que é capaz." Eu não entendia por que continuava insistindo. Ela tinha total aversão por mim.
"Honest também está nisso." Ela disse, eu ergui minhas sobrancelhas.
"Poderia me explicar, linda Creek?" Eu pedi, ela rosnou.
"Não me chame assim." Eu assenti, ela rosnou, a frustração a tomando, eu  quase podia ouvir a mente dela debatendo, o coração implorando. Era uma pena. Ela não iria aceitar.
"Nós formamos equipes. Simple e Breeze, eu e Candid, Honest e Chimes. Chimes conseguiu convencer Adam a entrar nessa com ela, Breeze tinha escolhido Nove, eu ia falar com Noah, mas depois de dois ultrassons, Candid acha que não é possível. Não de outra forma que a sua.
"Sou da equipe de Candid, então?" Eu perguntei me sentindo feliz por estar dentro de uma equipe.
"Eu vou pedir a ele que seja outro humano a me engravidar." Ela disse.
"Mas tudo bem ser eu a viabilizar o processo?" Eu perguntei, ela deu de ombros, o vazio em minha alma aumentando. Mas ela estava certa. Um filhote meu, ainda mais uma filhotinha, poderia ser desprezada, mesmo por Novas Espécies que não eram humanos e não tinham todos os preconceitos que os humanos tinham. Ela estava certa.
"Ainda assim eu faço. Ache um humano, bela Creek e você será mãe." Eu disse e senti vontade de chorar.
Acho que nunca senti tanto arrependimento por ter tocado em Kit como naquele momento.
Morrer e viver como um zumbi não tinha sido suficiente, nada seria, nunca.
Ela se sentou de novo, eu assei uns bifes, ela comeu, eu comi. Ela estava desconfortável, eu não entendia por que ainda queria que ela estivesse ali, mesmo sem querer estar.
Candid voltou e me mostrou um frasco com um líquido meio branco.
"O que acha?" Eu cheirei e num primeiro momento não parecia ter cheiro, mas depois de um tempo eu consegui sentir algum dos componentes. Era uma tentativa, uma muito boa.
"Quem fez isso?" Eu perguntei, mas já sabia que devia ter sido Honest.
"Hon." Creek rosnou.
"Como conseguiu isso?" Ela estava muito brava, pelo visto não sabia tudo o que Candid era capaz.
"Calma! Parece que Doze tomou o controle e ele me sentiu correndo pra cá, ele me chamou, me mostrou e perguntou o que pode ser. Acho que ele não quer dar o controle de volta para Honest." Ela chiou.
"Como assim?" Candid a olhou, eu não gostei do jeito frio com que ele a olhou.
"Doze, o dono do corpo de Honest. Ele voltou dos mortos, eu não sei como. Agora, ele está lutando pelo corpo com Honest. Eu estou tentando consertar esse probleminha." Ele explicou, Creek rosnou.
"Mas o corpo é dele! Do jeito que você fala, é como se estivesse procurando uma forma de matá-lo de novo." Candid deu de ombros.
"Ele morreu, Creek. Honest não. O corpo dele foi usado por Bishop, era só um corpo."
Ela olhou pra mim, como se pedisse ajuda. O que eu podia dizer? Eu já tinha muito a me redimir. Mas ela continuou me olhando eu me senti na obrigação de falar alguma coisa.
"Você pode tentar extrair a alma de Doze do chip em Honest." Candid acenou.
"Sim, mas não é tão fácil e eu estou ocupado. Honest estar dividindo seu tempo com Doze me ajuda." Eu olhei para ela, Creek rugiu, eu e Candid tapamos os ouvidos.
"Você consegue se ouvir? Que tipo de demônio é você? É o seu irmão, porra! Está colocando uma aposta idiota a frente dele! Eu. Estou. Fora! E não por causa de Gabriel, mas por sua causa! Ache outra, e boa sorte com isso!" Ela explodiu, Candid a encarou. Friamente.
"Nunca coloque meu amor por meu irmão em dúvida, sua puta! Você não sabe de nada! Eu estou procurando um outro corpo para colocá-lo, mas não te devo explicações. Isso não é algo para se fazer de qualquer jeito." Eu rosnei. Ele poderia me machucar muito, Candid era poderoso como o pai dele, mas ele não podia falar assim com Creek.
"Peça desculpas." Eu disse, ele riu.
"Ela não precisa que você a defenda, seu pedaço de merda." Ele disse e era verdade, mas quando eu olhei para Creek, ela andou até onde eu estava.
"Eu não quero suas desculpas. Um filhotinho ridículo, imaturo e insensível como você não pode me ofender. Você só mostra que não herdou nada da honra de seu pai e me dá pena." Ela disse com o queixo erguido, Candid inspirou profundamente. Eu esperei, com meu corpo totalmente tensionado, doeria, mas eu não aceitaria que ele a tratasse assim, ela não merecia. Ela tinha decidido abrir mão de seu sonho por sua honra, por sua consciência limpa em não se associar a alguém como eu.
"Ache alguém, bela Creek. Ache alguém que mereça você e eu te darei uma filhotinha. Mesmo que você não volte aqui, que eu nunca mais tenha o prazer de olhar em seus lindos olhos, ache alguém e eu te ajudo a ser mãe." Eu disse e queria dizer aquilo.
"E isso?" Candid me mostrou o chip, eu deixei uma lágrima escapar, mas talvez isso mostrasse a ela o quanto eu me desprezava, o quanto eu estava arrependido.
"Eu a faria esquecer, ela se lembraria apenas de que era minha mãe. Mas Creek está certa, eu não mereço. Destrua." Eu disse e lhes dei as costas.
Candid bufou.
"Não vão me colocar para escanteio. Temos um acordo, Creek." Ele disse.
"Você disse que eu poderia pular do jipe, lembra? Ache outra." Ela disse e saiu batendo a porta.
Eu esperei Candid correr atrás dela, ele não foi. Eu queria tanto ficar sozinho!
Eu me virei, Candid mirou meu pescoço.
"Você entende o que fez? Eu saí para que você a convencesse! E agora estou de volta a estava zero e Doze não vai conseguir segurar o Hon por muito tempo!" Ele disse, mas eu só conseguia ouvi-lo chamar Creek de puta.
"Creek não é uma puta." Eu disse, ele sorriu, eu voei nele.
Eu consegui acertar um soco, mas ele me pegou pelo pescoço. Ele me suspendeu, eu me lembrei de quando eu não podia sair ao sol, de quando Bronzy e John me salvaram.
"Sem John, sem Bronzy. O que me impede de te matar, Gabriel?"
Ele perguntou, eu sentia meus pulmões ardendo já, pela falta de ar, eu tentava soltar o agarre dele, mas ele só precisava usar as garras e eu já era.
Mas ele me jogou contra a parede de pedra, doeu, mas eu aguentei até bem.
"Você vai mesmo dar uma filhote a ela mesmo ela te desprezando?"
Eu acenei.
"Você não ganha nada com isso." Ele disse, eu não o contestei. Eu ganhava, ganhava muito. Assim como cada sorriso de Jewel me fazia sorrir. Eu não precisava de nada. E dar uma filhote a Creek de repente pareceu essencial para mim.
"Você nunca entenderia." Eu disse, ele saiu em silêncio. Eu peguei o frasco com a fórmula de Honest e o quebrei. Era uma fórmula muito boa, poderia dar certo e eu torci por isso. Eu torci para Honest conseguir e esperei que ele desse a fórmula para Creek também.
Eu sorri. Não, eu queria ser responsável por um sorriso dela. Só um único sorriso e eu poderia morrer em paz.

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