CAPÍTULO 48

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Eu estava feliz por voltar a Reserva, mamãe tinha vindo comigo, ela estava radiante para participar do acasalamento de Chimes e Adam. Eu entrei primeiro e sorri para Chimes, ela estava tão linda! A casa do meu tio estava cheia de flores, eu senti saudade de Flora. Ela tinha ido ficar uns dias com seus avós, eu acabei voltando pra casa, não nos vimos mais depois do dia em que eu quase atropelei Candid.
Eu olhei em volta e fui até minha tia Tammy, ela conversava com Livie e Ella. Eu me aproximei e tia Tammy me abraçou forte, eu a segurei um pouquinho mais, eu gostava tanto dela! Ela era especial de um jeito que eu não sei explicar, mas era. Eu não sei, era o olhar direto e ao mesmo tempo doce, ou talvez era só porque ela realmente me olhava com saudade. Eu corri muito com as florzinhas quando éramos pequenas, briguei muito com elas tambem, principalmente com Daisy, afinal, Violet era mais calma. Tia Tammy costumava chamar Daisy e eu de oncinhas, nós riamos muito e eu me sentia acolhida na casa dela. Mais que na casa da minha madrinha se eu fosse ser sincera, por que Gift e Brave eram tão levados que quando eu estava lá, ela mais corria atrás deles do que realmente passava tempo comigo. Eu me lembro de um dia em que eles me deram um doce que era muito bonito e tinha um cheiro muito bom, mas os pestinhas tinham recheado a coisa com pimenta, muita pimenta, eu gritei quando engoli aquilo. Minha madrinha deu uma surra nos dois, mas depois disso eu nunca mais brinquei sozinha com eles. Eu acenei para Bronzy, ela veio e eu segurei nas mãos enluvadas dela, ela apertou. Suas luvas eram brancas dessa vez, eu apontei para a falta de enfeites, ela disse que Jewel e ela tinham discutido.
Eu vi que quando cheguei ela tinha saído, eu já imaginava que ela ficaria com raiva de mim, ela não sabia que quem tinha me beijado tinha sido Candid e não Simple, e ela dizia para todos que iria acasalar com ele. Ela tinha crescido, estava uma mocinha e eu entendia, ela podia parecer segura de si e tudo, mas ela tinha era medo. Isso aconteceu comigo, eu tive medo durante muito tempo de que john gostasse de outra pessoa. O que acabou acontecendo.
Bronzy e eu fomos para o jardim, mamãe me olhou de forma estranha quando eu avisei, mas viu minha madrinha e foi até ela, nós saímos. Quando nos sentamos num banco que ficava embaixo de uma roseira, Peace saiu de detrás de um canteiro, ele nos sorriu e foi embora, Bronze ficou olhando para ele até ele sumir.
"Acha que ele é maduro como os outros? ele já tem doze anos e talvez não cresça mais." Eu ainda o vi virando a lateral da casa, Peace devia ser maior que John.
"Dizem que eles crescem até essa idade mais ou menos. Você tem interesse nele?" Eu perguntei. Bronzy era mais velha que eu, mas isso não importava muito em nosso povo.
"Ele tem interesse em Jeje. E ele é tão bonito! Se eles se acertassem, não haveria problema com você ficando com Simple. Jeje é minha melhor amiga, mas eu gosto muito de você." Eu apertei a mão dela. Bronzy era boa, eu e ela nos gostamos de cara, ela se parecia muito com minha madrinha e eu era simplesmente apaixonada por Sophia, então, acho que isso contribuiu.
"Discutiu com ela por isso?" Eu perguntei, Bronzy deu de ombros e sorriu.
"Jeje é... Mamãe diz que isso foi bom pra ela, que às vezes, temos de ter o band-aid retirado de uma vez. Simple e ela não daria certo, ela é um clone de Cassie." Bronzy disse, eu me lembrei de que era Candid que dizia aquilo sobre o band-aid.
"Candid sempre diz isso." Eu disse e sorri me lembrando do sorriso safado dele. Saudade? Não, claro que não.
"É. E você e Simple, bom, eu ainda não desisti de Candid, então seria tão legal se eu e você..." Eu a interrompi:
"Como assim não desistiu de Candid?" Bronzy e Candid? Eu perguntei com os olhos bem abertos, Bronzy se afastou, ela me olhou assustada.
"Por que o espanto?" Ela perguntou e eu respirei bem profundamente. O que tinha acontecido comigo? Eu simplesmente surtei!
Bronzy e Candid! Como eu pude esquecer? Ele a tocou e não foi uma coisa qualquer, ela ficou mal quando ele se afastou.
"É só que eu acabei esquecendo que você e ele se envolveram. É que já faz um tempo." Eu disse, Bronzy assentiu.
E eu me senti murchar por dentro me lembrando de tudo o que Bronzy me contou. Candid tinha tocado ela intimamente, tinha beijado, tinha...
"Eu pensei que se você desse certo com Simple e eu com Candid ficaríamos mais próximas. Eles são muito próximos, não são? Seríamos como irmãs." Bronzy sorriu e algo se partiu dentro de mim.
"Eu pensei que você tinha superado." Eu disse, Bronzy suspirou e olhou sonhadora para o céu.
"Não é algo que se supera fácil. Ele podia me tocar, ele me beijou. Úrsula fugiu e ele a achou. Ele me levou para o telhado da casa de Honor. Você é felina, deve gostar de telhados, não deve ser nada demais para você, mas para alguém pé no chão como eu!" Ela abriu um lindo sorriso mostrando suas presas finas de serpente.
"Estamos aprendendo mais sobre a nossa espécie. Cobras sobem em árvores, mas estão sempre no chão, o chão é o habitat delas e Candid me levou para perto das estrelas. Não é fácil esquecer isso." Eu sorri, o que mais podia fazer? Contar que ele lambeu minha perna?
"O problema, maninha é que parece que ele esqueceu." Nós duas olhamos para trás e demos de cara com a carranca de Gift.
"Essa festa é só para fêmeas." Bronzy disse, ele fez uma cara de desdém.
"Exatamente. O que faz com que os machos solteiros fiquem rodeando a casa. Não é, Noah?" Nós olhamos para a direita e Noah apareceu, ele sorriu.
"Eu moro aqui." Bronzy sorriu para ele, ele assentiu.
"Sim, mas seu quarto fica para lá." Gift apontou para a construção onde Adam e Noah tinham seus quartos.
"Eu só vim pegar uma coisa." Noah se esticou todo, mas ele e Gift eram do mesmo tamanho. Altos e fortes, os dois. E lindos, claro.
"Então, vá pegar." Gift cruzou os braços. Noah abriu a boca, mas acenou e foi até a área gourmet que ficava abaixo dos quartos dele e de seu irmão. Bronzy rosnou, mas Gift a ignorou. Não demorou e Noah voltou, passou por nós, sorriu se despedindo e sumiu.
"Você sempre faz isso!" Bronzy ficou de pé, ela estava puta. Gift se sentou bem perto de mim eu quis me afastar, mas não havia mais espaço no banco.
"Basta me enfrentar, maninha. Ele não teve coragem, então isso significa que não vale a pena." Gift disse, Bronzy apertou os lábios.
"Você sempre estraga tudo! E não estou falando de Noah, afinal ele... Ele não é um filhote, ele não se interessa por mim, mas você tinha de aparecer e... E estragar tudo!" Ela disse, Gift sorriu, malandro.
"Sempre pronto, esse é o meu lema." Bronzy saiu pisando duro, eu acabei sorrindo.
"Você não perde a mania de ser um chato." Eu disse, ele me encarou.
"É assim que você me vê? Como um chato?" Ele perguntou, o sorriso malandro dando lugar ao seu rosto sério de sempre.
Eu o via como uma cópia de John que estava sempre presente. Sempre que eu ia a Reserva, Gift estava ali. Ele me buscava no heliporto, carregava minha mala, fazia meu café se eu estava na casa dele. Ele não era chato.
"Não sei. Acho que ir muito na sua casa enquanto crescíamos me fez te ver como um irmão. Mas não um irmão chato." Ele sorriu, eu sorri.
"É sério? Eu nunca me comportei como seu irmão." Eu ri, por que era verdade. Tanto Sarah quanto Bronzy sofriam com a onipresença dele, sempre vigiando e afastando os machos.
"Na verdade, você sempre..." Ele se aproximou mais, eu mergulhei no bronze dos olhos dele. Era como olhar para John, se John não fosse puro e bom. Por que Gift era safado. Muito. E o brilho nos olhos dele continuava o mesmo de quando ele entrou no quarto de Sarah e eu trocava de roupa. Ou quando fomos nadar e eu pensei que ele era John e o empurrei por trás na água. Os cabelos dele ficaram escuros molhados por isso o confundi com John, eu o empurrei, ele se virou e me abraçou apertado. Quando eu vi que era ele, o mandei me soltar, ele soltou, mas passou a mão na minha bunda. O pestinha tinha uns oito anos! E várias ocasiões em que Gift me tocou, aparentemente sem querer me vieram à mente. Eu não tinha como me afastar mais então o empurrei.
"Eu sempre desejei você. Mesmo quando você corria atrás de John. E ainda agora. Mas eu fiz a burrada de quase matar Candid e desde então, estou em dívida com ele." Ele tirou um papel dobrado do bolso e colocou em minha mão. Ele segurou minha mão com a dele, maior, e me encarou.
"Cuidado com ele. Harrison mostrou interesse em você e pode ser o que está despertando o interesse dele, ou não, mas cuidado. E já que eu te disse que eu te quero, vou dizer tudo: se algum dia você cansar de andar atrás desses machos complicados que não têm nada de especiais, são só uns pau no cu, e John está incluído nisso, ele é o maior dos pau no cu aliás, eu estou aqui." Ele se levantou e saiu.
Eu fiquei olhando as costas dele, para os cabelos castanhos, brilhantes e lisos que iam até o meio das costas fortes. Ele quase sempre estava com os cabelos amarrados, mas hoje ele estava com eles soltos. Quando ele sumiu, eu olhei para o papel na minha mão, estava dobrado e parecia não ter sido aberto. Eu desdobrei o papel e estava escrito 'cabana do Simple. Hoje, meia noite'.
Era muita audácia! Eu não iria.

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