CAPITULO 35

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Eu estava cheio e Creek já tinha chegado, eu a tinha visto e estava pronto para ir embora.
Peter, porém apareceu, jogou o filhote dele nos meus braços dizendo que eu fosse praticar e voltou para fora. Eu olhei para Harrison, ele deu um passo para trás.
"Peter tem visões de quando ele está prestes a fazer cocô, então o deixe longe de mim." Ele disse, eu ajeitei o bebê gigante no ombro, ele passou um bracinho gorducho por meu ombro. O cabelo dele já estava comprido, e eu pude ver que haviam algumas mechas vermelhas no meio do cabelo negro e liso. Lindo.
Eu estava evitando pensar na minha filhote com Creek, eu acho que não iria querer vê-la. O plano era esperar ela crescer e se quisesse me ver ela me procuraria. Creek podia ir para Homeland depois que ela nascesse. Eu alisei as costas do filhote, ouvi um barulho e o cheiro fez meus olhos arderem. Eu olhei para Harrison ele riu e me fez um sinal para segui-lo.
Havia um banheiro no andar debaixo, eu deitei o filhote na bancada, tirei sua bermudinha e a fralda, Harrison começou a tossir. Eu segurei a respiração tirei o excesso de sujeira e coloquei o bebê debaixo da água morna. Ele abriu os olhinhos azuis e resmungou, mas eu sorri, ele sorriu.
Eu o ensaboei e enxaguei, molhando toda a minha camisa, mas ele sentia cócegas na barriga, eu e Harrison rimos com as gargalhadas gostosas dele. Harrison saiu e trouxe uma fralda, eu enxuguei Peter Júnior e o vesti com a fralda. Ele se ajeitou em meu ombro de novo e voltou a dormir.
"Ele gosta de você." Harrison disse, eu sorri. Aquele bebê seria criado dentro de uma bolha de amor e ele só saberia retribuir amor de volta, ele já fazia isso agora.
Nós saímos do banheiro e eu me sentei na bancada, Harrison voltou a cozinha, eu olhei para a porta, Nove, o pai, voltava.
"Cadê a Breeze?" Eu perguntei, ele olhou para o bebê, eu ia deixar ele o pegar, mas Peter Júnior se agarrou em mim. Peter, quando era Hunter, me chamava de pai, eu me lembrei de uma vez em que tive de quebrar os ossinhos da mão dele, ele tinha uns três anos. Eu senti uma lágrima descer por meu rosto, eu não merecia que aquele filhote aceitasse que eu o pegasse! Eu tinha de ir embora dali.
"Breeze parece confusa. Ela disse que precisa pensar. Eu não esperava nada mesmo, afinal, eu e ela iríamos para a cabana de Simple e daí... O quê?" Ele alisou o cabelo de Peter Júnior, o bebê se agarrou mais em mim.
"Vamos embora, então, Nove? A intenção de Vengeance foi nobre, mas eu não posso ficar no meio dessas pessoas. Eu as magoei, eu as feri. A cada olhar que recebo..."
Alícia e Jewel se aproximaram de mim, Jewel disse:
"Pode me dar ele, doutor." Ela sorriu com os olhos brilhando, eu sorri, Peter Júnior reclamou, mas quando viu que era Jewel que o pegava, ele praticamente pulou nos braços dela.
Ela sorriu e saiu com o bebê nos braços falando algo sobre Alícia ter de ajudar mais Charlie. Jewel disse que cuidou muito de Fortune e que por isso, seu irmão mais novo gostava mais dela, Jewel, do que qualquer outra pessoa no mundo.
Harrison bufou.
"A noção de gostar dessa aí, é fazer tudo o que ela pede." Nove sorriu.
"Ela está bem maior." Eu assenti. Era estranho, Cassie era pequena, Jewel não era alta, mas era maior que sua matriz. Eu usei as drogas de regeneração nela e aparentemente isso estava a fazendo ser mais alta e também mais forte que Cassie.
"Ah, e meu nome é..." Ele olhou em volta sem terminar de falar.
"Onde está o Nove?" Ele perguntou, Harrison sorriu triste.
"Livie e Honor estão com problemas, ele não deve vir." Ele explicou.
"Você poderia nos contar do que se trata, Harrison?" Eu perguntei, Nove encarou Harrison, ele tirou um desenho do bolso e me deu.
No desenho um Sheer, ou um Pride, afinal os dois se pareciam muito, estava com os olhos transbordando de lágrimas de sangue e os dentes arreganhados. Ele tinha uma fêmea loira entre as garras, eu olhei bem para a fêmea, ela tinha asas e olhos azuis. Eram asas de borboleta. Mas a pele da fêmea e só podia ser uma fêmea com aquela cor de cabelos, estava cinza. Eu fechei os olhos com força, Adriel ainda tinha suas garras naquele lugar.
"Você sabe se ele tem telefone?" Nove, por que ele ainda não tinha confirmado que cederia à pressão para ser chamado de Jacob, perguntou para Harrison.
Harrison tirou um telefone do bolso, discou um número e entregou para Nove, ou Jacob agora.
"Nove? Ah, Honor, eu posso falar com o meu filhote?" Eu ergui minhas sobrancelhas, alguma coisa aconteceu enquanto ele estava na piscina com Candid e Breeze.
Ele esperou, eu e Harrison o olhávamos curiosos.
"Seu nome agora é Broad. Nada de Jacob e se alguém reclamar diga que eu tenho todo direito de te dar um nome, sou seu pai. E está tudo bem aí?" Nove, o pai, perguntou e ficou ouvindo.
"Diga que... Que eu estou a disposição se precisarem."
Ele desligou e entregou o telefone para Harrison.
"Eu não conheço Missy, quem é ela?" Nove perguntou pra mim, eu mostrei Rebbeca para ele.
"Filhote dela." Ele encarou Rebbeca, Quinze lhe dava pudim na boca, ela comia e ria.
"E por que ela está aqui e não lá?"
"Por que ela não se importa que Missy tenha compartilhado sexo com Sheer. E poderia sair batendo em Honor e Pride se achar que eles impediram Sheer e Missy. E se ela fosse brigar com eles, meu irmão também iria e a merda seria grande." Harrison explicou, eu olhei, justo no momento em que Rebbeca batia palmas quando Quinze lhe mostrou sua cueca. Ele falava que estava pronto para qualquer coisa, ela riu e rosnou dizendo que ela também. Os dois olhavam para Nove, o pai.
"Eu não sei porque, mas eu sinto que ela seria uma boa oponente." Nove, o pai, sorriu.
"Você nem imagina, Nove." Eu disse, Nove fechou a cara.
"Pare de me chamar assim. Meu nome agora é Wide." Eu o encarei. Tanto Wide quanto Broad significavam grande, largo. Era um ótimo nome para eles.
"Combina com você. Eu às vezes queria ter outro nome." Harrison disse.
"Foi sua mãe que escolheu esse nome." Eu disse. Mariah. Outra que eu usei. Ainda que em minha defesa eu tenha lhe dado os remédios certos antes que eu 'morri'. Era um mistério pra mim, ela não ter tomado e vivido para cuidar de Harrison. Ela tinha fugido, estava com Marianne.
Harrison me mostrou outro desenho, antes que eu abrisse, ele disse.
"Essa porra desses Chips! Foram a desgraça de nossa família." Ele encheu a boca com carne, eu abri o papel e vi Mariah, ela tinha a cabeça bem maior que seu corpo.
Eu suspirei.
"Acha que..." Eu o encarei, era estranho Harrison contar aquilo para mim.
"Ela sabia do chip, teve medo do que poderia fazer comigo e não tomou os remédios." Ele disse, Wide, segurou a mão dele.
"A mãe de... Broad. A mãe dele, ela conseguiu segurá-lo na barriga, ela passava muito mal, mas me disse que não se importava com ela mesma, ela me fez jurar que eu não deixaria matarem nosso filhote. Eu quebrei tudo quando ouvi os gritos dela. Eu rugi com todas as minhas forças e Nove sobreviveu. Ele a matou, mas ela tinha me dito que só ele importava. No fim, usaram Nove, quer dizer, Broad, para me obrigarem a fazer o que quisessem. Mas eu cumpri minha promessa. Não sou bom, mas eu fiz tudo para ele ficar vivo." Ele disse, eu apertei seu ombro.
"Acho que estamos parecendo três perdedores, que Candid não nos veja." Eu disse, Harrison franziu o nariz.
"Ele pulou a janela e correu atrás de uma fêmea. Uma loira, é só o que eu sei." Wide disse. Seria Ann Sophie?
Harrison baixou a cabeça. Eu o encarei. Harrison tinha treze anos, no próximo mês faria quatorze, ele já devia se interessar pelas fêmeas, mas Ann Sophie não vivia na Reserva. Ela, porém, ia muito para Homeland... Ele também.
"Poderia ser..." Eu comecei, Harrison interrompeu:
"É." Eu vi que ele estava triste, Wide o sacudiu.
"Você já é grande, pode dar um sacode nele." Ele disse, Harrison sorriu, mas balançou a cabeça.
"Ela não ia gostar, ela nunca deu a entender que poderia me ver como algo mais que um amigo." Ele disse, Wide o encarou.
"Não é questão dela querer ou não. É sobre quebrar a cara de quem toca no que é seu. Mesmo que ela não queira ser." Eu não entendi muito bem. Ann Sophie devia ser parecida com a mãe dela, devia ser decidida, firme e autosuficiente. Ela não gostaria nada de Harrison e Candid lutando por ela.
Wide olhou em volta, eu o olhei com uma interrogação no olhar, ele deu de ombros.
"Papel e caneta. Você pode desenhar o que vai acontecer." Ele disse, Harrison fez que não.
"Não é assim que funciona." Wide fez que não e o olhou decidido. Harrison balançou a cabeça.
Wide saiu da cozinha, eu só queria ir embora.
"Acho que vou deixar vocês conversando e..."
"Papai e tio Val ainda não discutiram, você iria achar engraçado." Ele disse, eu sorri. Sempre que alguém passava por minha cabana, me contava da última briga de Vengeance e Valiant. Eu empurrei os maus sentimentos e sorri.
Wide voltou com um guardanapo e uma caneta, Harrison fez que não.
"Confie em mim. Você não precisa brigar, só precisa de uma desculpa. Desenhe o rosto dela." Ele sorriu, Harrison me olhou eu o encorajei:
"Só uma desculpa." Ele pegou o guardanapo e o alisou com carinho, eu olhei para Wide, os olhos dele mostravam doçura. Era mesmo doce ver Harrison fechar os olhos e deixar a caneta traçar os traços do rosto delicado. Ela estava bem séria. Eu gravei o rosto bonito em minha mente, afinal, nunca a vi. Harrison conseguiu captar a beleza e a firmeza dela.
"Agora vamos. Eles estão no lago." Wide disse, eu não tive vontade de ir com eles, eu os olhava sair pela porta quando Smile Two me pediu um pouco de molho. Eu olhei em volta, havia uma grande panela no fogão, eu liguei o fogo e aqueci, enquanto o molho esquentava um monte de pessoas ficou do outro lado esperando com pratos nas mãos. E eu fiquei um bom tempo servindo molho, quando acabou, eu fiz salada e fiquei na cozinha até que Marianne apareceu.
"Não precisa servir os outros, eu sempre deixo as coisas aí e quem quiser se serve." Ela disse, seus olhos estavam bem azuis.
"Eu meio que fiquei contra a minha vontade. Mas eu gostei. Eu quase nunca vejo tantos de vocês assim." Ela assentiu.
"Você vai vir morar aqui um dia?" Ela perguntou, eu neguei com a cabeça.
"Não. Não precisa se preocupar, não vou sair da minha cabana." Eu respondi.
"Por que não vai embora? Se eu tivesse prejudicado tanto as pessoas como você, eu não sei se conseguiria conviver com elas." Eu concordava.
"Eu não tenho para onde ir e eu..." Eu os amava. Amava a todos, sempre amei, mas nunca soube amar como as pessoas normais.
"Ven diz que não julga você por causa do que fez a Lauren. Eu não acho que seja a mesma coisa." Ela disse, eu assenti.
"Mas ele ama você e... Você deu os remédios certos para Mariah, não deu?" Ela perguntou, eu balancei a cabeça.
"Então, devemos a vida de Harry a você. E Harry é... Eu o amo demais, ele nasceu aqui, nas minhas mãos. Não importa o mal que você fez, isso é algo que vai te acompanhar para sempre, mas não posso esquecer que meu filhote está vivo por sua causa. Não me peça para te tocar, ou beijar, ou, quer dizer se eu te beijasse, Ven quebraria sua cara, mas... Você entendeu." Ela disse e me deu as costas. Aquilo tinha muito valor para mim, Marianne era uma pessoa boa, eu sorri.
"Tio? Me dá sorvete?" Charity perguntou e por um tempo eu fiquei parado olhando nos olhos cor de uísque dela. Linda, era uma imagem feminina de Brass, eu sorri e abri a geladeira. Eu tirei o sorvete e procurei coisas para incrementar. No fim eu fiz uma grande taça cheia de sorvete com granulados, creme, biscoitos e morango. Ela sorriu agradecida e logo voltou acompanhada de Diane. Diane já era mais parecida com Trisha e aquilo confirmava minha teoria de que com o tempo as humanas iam deixando de ser totalmente humanas e se tornando meio Nova Espécie.
"Eu quero uma taça igual a dela." Ela me olhou com o olhar de Trisha e uma onda de Nostalgia me tomou. Trisha me indicou, nós éramos amigos, discutíamos rotinas médicas e a ação das drogas.
E não demorou e a bancada estava cheia de filhotes todos querendo sorvete com frutas, creme, chocolate e biscoito. Eu fiz um monte, cada sorriso daquelas almas inocentes me alegravam e me doíam. Quando o sorvete acabou, Peter disse que iria buscar mais, todos olharam para mim, eu disse que esperava. Peter voltou com uma montanha de sorvete e eu voltei a minha tarefa, mas logo um rugido foi ouvido e eu fui para fora. É claro que vi os olhos dela antes de olhar para Vengeance e Valiant se rodeando. Ela tinha um olhar curioso e meio interrogador, eu segurava a colher de sorvete nas mãos. Eu ergui a colher oferecendo sorvete para ela, ela ficou em dúvida. Mas depois ela entrou na casa, eu entrei atrás, Vengeance dizia algo sobre seus filhotes serem mais férteis que os de Valiant. Dusky limpou a garganta, muita gente riu.
Eu voltei a cozinha, ela ficou de um lado do balcão, eu, do outro lado, abri o freezer e pensei no que ela gostaria. Baunilha? Não, é claro que não. Eu sorri, ela perguntou:
"O que foi?"
"Nada, eu me perguntei se você gostaria de baunilha." Ela balançou a cabeça.
"Muito sem graça." Ela disse, eu peguei pistache e disse:
"Exatamente." Eu coloquei sorvete de pistache, piquei cookies de chocolate, coloquei creme de leite e amêndoas.
Ela aceitou a colher, encheu a boca e fechou os olhos. Eu senti uma fisgada na virilha.
"Que tal um sorvete?" Slade vinha com seus filhotinhos no colo, eram bem parecidos com ele, mas um deles tinha o cabelo mais claro e os olhos de Trisha. Gêmeos fraternos, fortes e muito bonitos.
"Eles não são muito novinhos para um sorvete?" Creek perguntou, Slade olhou para mim.
"São?" Eu ergui as sobrancelhas surpreso.
"Se já deu para eles antes e ficaram bem, não deve haver problema." Slade franziu o cenho.
"Que tipo de resposta é essa? No meio daquele mato onde você vive aceitam esse tipo de resposta? Posso dar sorvete para eles ou não?" Um dos filhotes sorriu para mim, eu sorri de volta.
"Mas você não sabe se eles já tomaram sorvete ou não?" Eu perguntei, ele franziu o nariz, viu Diane e a chamou.
"Querida, precisamos de uma 'médica' de verdade aqui. Posso dar sorvete para seus irmãozinhos?" Ele perguntou, Diane sorriu para mim.
"Para Sharp sim, para Sly, não. Ele passou mal quando demos." Slade me olhou confuso sobre como daria sorvete para um filhote e para o outro não. Eu dei um cookie para Sly e sorvete para o outro. Slade me olhou, fez um barulho com a boca e saiu resmungando que eu até que era esperto.
Eu sorri para ela, Creek não sorriu,mas continuava ali.
"Eu te incomodo?" Ela suspirou.
"Não. É só que..." Ela me encarou, eu esperei.
"Eu estou com muita vontade de... Bom você sabe. E agora, se chamar um macho para meu apartamento, por mais que eu seja franca, bom... Podem pensar que talvez possamos ficar juntos e eu..." Meu coração disparou, de tal forma que senti os olhos de Noah me encarando do outro lado da sala.
"Podem não querer sexo mecânico?" Eu sussurrei, ela me encarou. Não era um convite, ela não me queria.
"Sim." Eu respirei bem fundo e fechei os olhos, o cheiro da excitação dela me chegou às narinas.
"Sexo mecânico? Eu poderia topar." Noah disse na orelha dela, ele se moveu muito rápido, eu rosnei.
Ele riu e eu me lembrei da surra que ele me deu quando eu estava salvando Adam.
"Eu..." Creek o encarou, eu pulei o balcão e já caí sobre ele, emendando um soco em sua cara. Eu levaria uma surra, mas não consegui evitar.




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