CAPÍTULO 22

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Eu saí andando meio sem rumo, haviam árvores e mais árvores, eu não me importava para onde ia. Minha vagina estava dolorida, Gabriel tinha um pênis de respeito. Eu não me lembrava de ter feito sexo tantas vezes num único encontro. E de ter tido tantos orgasmos. Sem carinho, sem preliminares. Os olhos dele às vezes paravam nos meus e eu via que ele estava gostando, os olhos azuis da cor do céu se tornaram mais escuros, mais intensos.
Eu parei e me encostei numa árvore, Kit não me disse o que fazer no caso em que o sexo fosse bom.
Eu me lembrei de descer pelas escadas e não querer me encontrar com ninguém como se eu estivesse prestes a cometer um crime.
Eu toquei meu ventre desejando desesperadamente que a semente dele tivesse plantado. Que eu não precisasse mais passar por aquilo, por que ele foi considerado e nem um pouco violento. Não doeu nada, eu só senti prazer. E Kit...
Kit teve os mamilos cortados, o ânus perfurado a pele mordida e também cortada. Tudo isso enquanto ele a penetrava e gozava sobre os cortes ainda abertos, misturando a semente dele ao sangue dela. Não parecia a mesma pessoa, não era o mesmo Gabriel.
O Gabriel que me possuiu estava ali, era possível ver que ele me desejava e que estava totalmente envolvido em mim, no que fazíamos. O meu prazer foi o dele, nós gozamos juntos mais de uma vez. Meus músculos vaginais se contorcendo enquanto ele jorrava sua semente sobre eles, aquilo foi uma comunhão, não foi algo mecânico.
Eu suspirei, tinha andado muito tempo sem direção, onde será que eu estava?
"Assim?" Uma voz delicada soou aos meus ouvidos, eu virei minha cabeça na direção do som.
"Não. Você tem de sentir a raiz. Feche os olhos." Uma voz desconhecida respondeu, eu corri na direção dos sons e me deparei com Flora e o tal Nova Espécie venenoso ajoelhados ante uma plantinha.
"Oi, Creek." Flora sorriu, eu sorri de volta. Flora era o nosso sonho, ela sempre seria especial para nós.
"Oi." O Nova Espécie, Marble, acenou com a cabeça e olhou para Flora.
"Marble acha que eu posso ser como ele, mas eu acho que não." Flora fechou os olhos com força, suas mãos em volta da plantinha. Ela respirou profundamente e depois de um tempo desistiu.
"Não dá." Ela disse, desanimada.
Marble sorriu. Eu o tinha visto algumas vezes, ele tinha o rosto e corpo cheio de cicatrizes que ficavam vermelhas, roxas ou azuis e que as vezes sumiam.
"Veja." Ele disse com um sorriso para Flora e a plantinha começou a crescer, folhas começaram a brotar e logo uma flor vermelha abriu. Eu olhei para ele, suas cicatrizes ficaram mais escuras.
Flora bateu palmas, seu rosto perfeito ficando ainda mais perfeito com o sorriso lindo com que ela presenteou Marble.
"Que lindo!" Ela disse.
"Eu fico feliz por você gostar. E sim, eu acredito que você pode fazer algo parecido, só precisamos fazer você sentir as raízes. Continue treinando sua respiração e sinta tudo ao seu redor. Eu já vou." Ele me encarou, seus olhos eram azuis, mas de um tom indefinido.
"Você poderia dizer a Gabriel que eu estou muito ansioso pela resposta dele e que se ele demorar, vai passar no mínimo uma semana no banheiro?" Ele sorriu e se foi. Flora riu.
"Já imaginou Gabriel um semana no banheiro?" Ela riu e eu ri também.
"Parece que Marble não teve paciência comigo e agora eu não posso sair desse lugar, nem me levantar do sanitário. Um situação um tanto quanto difícil, eu diria." Ela imitou o jeito de Gabriel de falar e sim, eu ri muito com ela, por que era exatamente como ele falava, ela até entreabriu os olhos, seu rosto exibindo a expressão enfadonha dele como se estivesse cansado do mundo.
"Você convive com ele?" Eu perguntei.
"Sim. Eu e mamãe e papai particularmente adora ele. Até meus avós vieram aqui e o visitaram por uns minutos. Ele sabe tudo de qualquer coisa, é legal conversar com ele." Flora usou seus dedos e puxou delicadamente a plantinha do solo.
"Vamos levar isso para o papai?" Eu não tinha vontade de ir para meu apartamento, nem algum lugar específico para onde ir, então fui com ela. No caminho, eu fiquei pensando no que Flora disse. Gabriel tinha status de Nova Espécie agora, ele tinha salvado Ella, tinha entregado um dos Chips de Samantha. Eu achava tão estranho isso! Por que ele sofreu sim, sofreu muito, mas foi um sofrimento auto infligido. Ninguém disse a ele o que devia pagar e como.
Eu pensei nisso enquanto fomos até a casa de Halfpint e Ben, minha amiga veio correndo e me abraçou quando eu cheguei no portão branco dela. Eu a abracei e a olhei nos olhos azuis, olhos limpos, simples, bondosos. Fazia todo sentido ela conviver com Gabriel, ela era boa demais.
"Ben, pegue essa... Que planta é essa meu amor?" Ela olhou para Ben, o humano bonito sorriu para ela com condescendência.
"É uma amor-perfeito vermelha, mamãe. Marble a fez nascer, se desenvolver e florir, tudo em segundos." Ben ergueu suas sobrancelhas muito surpreso.
"Isso é incrível! Eu preciso dar uma boa examinada nisso." Ele pegou o ramo como se fosse um bebê prematuro e saiu da frente da casa por uma entrada lateral.
"Pois bem, Creek, venha tomar um chá comigo." Halfpint me abraçou pela cintura e entramos na casa. Flora entrou atrás de nós e quando eu e Pint sentamos na mesa ela já tinha colocado uma chaleira no fogão. Halfpint puxou vários potes de biscoitos para perto e pegou um com gotas de chocolate. Eu também peguei, estavam deliciosos.
"O que acha dos biscoitos da minha Flora?" Eu comi e estava delicioso.
"Muito bom, parabéns, Flora!" Ela sorriu pra mim.
"O cheiro que eu sinto em você significa o que eu acho que significa?" Pint me perguntou, eu a encarei, havia apenas curiosidade nos olhos dela, nenhum julgamento.
"Você não está sabendo da aposta?" Eu perguntei. Acho que não queria falar em mim com Gabriel.
Halfpint olhou para Flora, sua filhote sorriu.
"A aposta, mamãe! Os trigêmeos formaram equipes. Creek é da equipe de Candid." Flora disse e eu me surpreendi. Parecia que todos sabiam.
"E claro. Creek, Candid, Gabriel e Gift. É sua equipe favorita, não é querida?" Halfpint disse para Flora, ela sorriu.
"Sim, eu gosto muito de Honest e de... Bom, mas Cam é o mais divertido, então estou torcendo por ele." Eu sorri para ela, mas ela disse algo que eu não entendi.
"Gift não faz..." As batidas na porta me fizeram parar de falar, era justamente Gift. Ele entrou e olhou de forma muito severa para Flora.
"Eu conto tudo pra mamãe, devia saber que eu ia contar." Flora sorriu um sorriso muito travesso para ele, ele bufou, se sentou na mesa e começou a comer os biscoitos.
"Eu não sabia que você estava na equipe." Eu disse, ele olhou para Flora, ela deu de ombros.
"Exatamente. Não havia necessidade de você saber. Eu era sua sombra, agora não sou mais. E você senhorita, irá fazer um monte desses pra mim, por estragar minha furtividade." Ele disse muito sério, Halfpint riu e disse:
"Eu sempre achei você mais legal que John." Gift fechou ainda mais a cara, mas não disse nada.
"Mamãe!" Flora reclamou, Gift a encarou.
"Eu sou mais legal que ele. Eu não iria ficar lutando com Simple em cada oportunidade por causa de Flora ou Ann Sophie." Ele disse, Flora se sentou.
"Eles brigaram? Por Ann Sophie?" Gift assentiu.
"Na verdade, Simple o provocou e disse algo muito nojento a cerca dela, mas John voaria nele se o insulto fosse dirigido a qualquer outra. Porém, a versão oficial é de que foi por Ann Sophie." Flora acenou.
"Simple está num caminho muito perigoso." Ela disse baixinho.
"Se me perguntassem, eu diria que ele e Cam trocaram e Cam fez de propósito para vir para o hospital. Meu irmão quase acabou com o pescoço dele." Gift disse, Flora passou o chá, colocou tudo em xícaras e Gift tomou tudo num gole só.
"É, faz sentido. Aqueles pestinhas!" Halfpint disse com um sorriso. Eu era da opinião que eles eram um pouco sem limites, mas nunca me meti muito com eles e agora estava nas mãos de Candid, quanta ironia!
"Eles não podem ter trocado, estão numa aposta." Eu disse, Gift sorriu.
"Tudo o que havia para ser feito já foi feito. Agora será só esperar o cheiro de vocês mudar." Ele inspirou, meu coração bateu uma batida.
Gift balançou a cabeça.
"Amanhã, já dá pra sentir. E se não, depois de amanhã, e por assim em diante até que você fique prenha." Ele disse, Halfpint bateu palmas.
"Eu estou tão feliz! Sabe que isso será um divisor de águas para nós, não sabe, Creek?"
"Vem, você vai me contar tudo. Mamãe, estamos no meu quarto." Flora saiu puxando Gift ele se levantou, mas não foi junto, Flora quase caiu. Ela bateu nele, ele a jogou no ombro.
"Eu estarei de olho, Creek." Ele disse saindo da cozinha com Flora no ombro, ela esperneava, eu o ouvi rir.
Halfpint tinha um sorriso bobo no rosto enquanto os olhava sair da cozinha.
"Por que os jovens não nos ouvem, não é? Aprenda isso, Creek. Você vai falar e falar e dar conselhos, mas seu filhote ou sua filhote não vai ouvir." Ela bufou.
E eu concordava com Halfpint no caso de Gift. Ele era bonito, forte e muito responsável. Era calmo e sisudo, mas era um filhote modelo. Eu não o trocaria por Simple, ou Candid. Ou mesmo John por mais artista que ele fosse.
"Ela e John não se vêem mais?" Eu perguntei, Pint balançou a cabeça.
"Ciúmes demais. Ele a sufocava, Flora deu um basta. Mas ela o ama, pelo menos do jeito que ela pensa que é amar." Eu assenti. Flora era muito nova, muita coisa ainda aconteceria até ela acasalar.
"E como foi? Você está cheirando a ele." Halfpint disse, eu suspirei.
"Foi bom, eu não posso negar isso, mas a culpa está me matando! Ele fez..."
"Não foi com você, querida. Se ele tentasse, ele morreria, você entende isso? Acha que Candid deixaria que ele abusasse de você? E tem uma razão para ter sido Gift a sua sombra, sabe disso, não é?"
Eu a encarei.
"Gift é muito poderoso. Você não o sentiu não foi?" Eu assenti, essa informação rodando em minha mente.
"Acha que ele..." Eu não tive coragem de terminar a pergunta, ele estaria ouvindo.
"Sim. Para ele Gabriel devia ter sido enforcado. Gift é direto e focado. Ele não acredita na conversão de Gabriel, ainda que tenha ajudado a impedir que os trigêmeos o fizessem torrar no sol. Ele fez por Bronzy, ele faz qualquer coisa por ela. Flora disse que Candid o chamou por isso e ele aceitou por que quando lutaram, ele quase ter envenenado Candid foi considerado trapaça e ele ficou em dívida com Candid." Minha cabeça, já confusa, girou ainda mais.
"Eu não entendi muito bem." Eu disse, Pint sorriu e encheu minha xícara de chá.
"Então vou começar do começo." Eu sorri, mas fiz a pergunta que queria fazer:
"Como se sente sabendo que eu e ele..." Halfpint me olhou confusa.
"Por que eu deveria me sentir mal ou bem, ou dessa ou daquela forma? O que importa é como você se sente, Creek. Kit superou tudo, ela diz que ele pagou com juros tudo o que fez com ela e que foi Deus que o castigou. Ao passo que ela tem Ann Sophie e muitos anos de felicidade com Robert. Ela diz que ou perdoamos ou deixamos essa mágoa nos corroer. O que você acha que deve fazer? Eu e Flora, as vezes o visitamos, eu o quero debaixo dos meus olhos. Até então, ele tem andado na linha. E você pode ter uma filhotinha! Uma igual a minha Flora, uma gatinha de olhos verdes, ou um forte filhote! Pense nisso e seja o melhor que puder ser. Os pecados dele são dele, não seus o do filhote que ele te der. E você não está apaixonada, está?" Pint me encarou, eu balancei a cabeça.
"Não, isso nunca." Ela sorriu satisfeita, eu comi mais biscoitos e tomei o chá.

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