CAPÍTULO 47

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O soco de Bestial lançou Flame para fora do círculo e ele foi aclamado o vencedor. Era uma boa estratégia essa de terem feito um círculo pequeno para a luta, assim ao invés de se socarem por vários minutos, os lutadores se concentravam em jogar seus oponentes para fora do tal círculo. A luta era rápida e não resultava em machos no hospital. Bom, isso se Bestial não fosse seu oponente. Ele tinha liberado sua 'besta' interior e seus socos eram muito potentes, o pobre Flame levou a pior.
Não que Flame não fosse forte e tudo, ele era, todos eram, mas haviam lutadores e lutadores e Bestial era um dos melhores.
Eu fui até Flame e dei uma olhada nos olhos dele, estavam inchados, mas já começavam a curar.
"Boa luta, Flame." Eu disse, ele sorriu.
"Você achou? Eu quase o joguei para trás, mas ele acabou me surpreendendo." Eu assenti, Flame se levantou e foi receber os cumprimentos, não haviam perdedores ali.
"Já pensou em lutar também?" Harley perguntou as minhas costas, eu me virei e sorri.
"Está me desafiando Harley?" Eu perguntei, Harley deu de ombros.
"É, pode ser. Brass!" Ele chamou Brass, meu amigo se aproximou.
"Ainda tem vaga? Eu e Gabriel queremos lutar." Harley disse com um sorriso.
"Quem quer ver Harley contra Gabriel?" Brass perguntou ao invés de responder, na mesma hora todos os machos começaram a falar ao mesmo tempo, eu fiquei feliz de ver que alguns poucos apostaram em mim.
Harley foi até Moon e Slade e começaram a traçar estratégias, Brass me levou para um canto, John e os gêmeos vieram também.
"Harley vai querer começar com socos na sua cara, ele sempre faz isso. Deixe ele acertar alguns e depois dê o alto da sua cabeça na mão dele, foi assim que papai venceu." Brave sussurrou para mim, eu acenei.
"Isso é manjado, Harley não vai fazer isso de novo. Você tem de acertar a cara dele, ele odeia ficar com hematomas na cara, isso vai enfurecê-lo." John disse, eu ergui as sobrancelhas para Brass.
"Ele vai querer acabar mais rápido que Bestial, vai socar com muita força e no seu peito. Você aguenta?" Brass perguntou, eu dei de ombros. Não importava se Harley me desmontasse, estar ali era quase como um sonho.
"Harley soca melhor com a direita, mas vai querer fazer você pensar que o soco virá da mão esquerda. Deixe-o pensar isso, os primeiros socos vão dar pra aguentar. Ele vai trocar o apoio dos pés e nessa troca, chute-o na barriga, depois o jogue para fora do círculo. Você só terá a troca de pés para fazer isso." Gift me disse, eu sorri, ele não sorriu.
Harley me chamou, o círculo feito com areia fina branca estava refeito e eu tinha de ir.
"Entendeu tudo?" Brass perguntou, eu sorri.
E eu tomei uma surra. Harley veio como um rolo compressor e me deu vários socos na cara, cada um com mais força do que o outro e quando eu estava quase deixando ele me jogar do círculo, eu olhei para baixo e vi que ele trocaria o peso de um pé para outro. Era a minha chance, eu o chutei na barriga, ele, porém não se afastou. Eu chutei de novo, com força, ele deu um passo para trás, mas não pareceu sentir muito. Eu, então baixei minha cabeça e fui com tudo nele, o alto da minha cabeça explodiu de dor quando atingi o tronco de Harley, mas consegui fazer com que ele pisasse na linha. Eu ganhei e todos gritaram.
E eu entendi por que faziam aquilo, meu sangue circulava tão rápido em minhas veias que eu poderia sair voando. Era bom. Eu ainda consegui andar ereto até uma cadeira e me sentar. John e Brave rosnaram, Gift assentiu pra mim muito sério.
A próxima luta era a clássica luta entre Jericho e Leaf. Mais de uma vez tinham ido me contar sobre isso quando eu estava na outra cabana. Dusky sempre torcia por Leaf, o que era estranho, já que ele era primata como Jericho.
"Mudando de planos? Ou está aqui para ver se consegue a simpatia de alguma fêmea?" Gift perguntou, eu tinha ouvido a conversa dele com Creek, eu não me afastei muito quando pulei.
"Acha que não mereço ser aceito?" Eu perguntei e queria mesmo saber o que ele pensava.
"Você não merece, mas por outro lado, você ser aceito me ajuda a lutar com você um dia e te moer de pancada pelo que fez com minha irmã, então, eu torço para que seja aceito." Ele sorriu com os olhos maus. Eu acenei.
"Ninguém achou que você atacaria com uma cabeçada, então o dinheiro é seu." Brass veio e me estendeu um bolo de notas.
"Mudaram as apostas?" Slade era sempre o tesoureiro e ficava com o dinheiro nesses casos.
"Sim, agora quem vence leva uma parte." Eu olhei para Slade, ele ergueu algumas notas e sorriu.
Brass se sentou, eu olhei para meu amigo e suspirei.
"Eu sei que já pedi perdão por ter tirado Bronzy de vocês, e eu acho que eu consegui fazer algo mais para merecer sua boa vontade para comigo." Brass me encarou, eu continuei:
"O veneno. Eu não sou melhor que Honest, ele me superou já a muito tempo uma vez que todos esses anos eu estive longe dos estudos e pesquisas, mas eu acho que há algo que possamos fazer. É uma tentativa, mas..."
"Conte tudo." Brass disse e fez sinal para seus filhos.
"Vamos pra casa." Ele disse, logo estávamos na estrada.
Eu suspirei quando parei a frente da casa deles. A casa de Sophia.
Cortinas e floreiras nas janelas, madeira por toda a parte. Quente. Como ela.
Brass abriu a porta e me esperou passar, eu adentrei a sala, uma espaçosa sala com um grande sofá e algumas cadeiras, vasos de flores, tudo muito confortável e aconchegante.
"Eu estou honrado." Eu disse, Brass acenou, sério. Ele era inteligente demais para saber que meu encantamento se devia a meus sentimentos pela fêmea dele e por mais que confiasse nela e acho que talvez também confiasse em mim, ele estava desconfortável.
"E então?" Brass indicou uma cadeira da grande mesa, eu me sentei.
"Minha... Samantha. Eu a implantei quando saí daqui." Eu disse, John me olhou surpreso.
"E não deu certo, ela não queria uma vida simples, eu tinha acabado de descobrir que não era mais um vampiro zumbi como Candid me chamava, a vida parecia tão colorida! Tão preciosa! Eu precisava retribuir o presente, eu queria salvar as pessoas, pessoas pobres, sem recursos. Eu queria me redimir. Eu sei que isso não apagaria o que eu fiz a vocês, mas parecia um plano." Brave segurou minha mão e eu engoli em seco. Perdão, isso era o que a família de Brass me ofereceu, mesmo depois de tudo o que eu fiz.
"Mas ela foi esperta o suficiente para me usar, ela não se negou de pronto, até fingiu que também queria redenção por pouco tempo, só para que eu relaxasse minha vigilância a ela. Ela ativou outro chip e quando eu retirei o chip da humana em que ela estava, ela pode continuar em outro corpo. Eu, idiota, não sabia, só soube quando os trigêmeos descobriram que Mary estava viva. Mas isso pode ajudar Bronzy." Eu disse, Brass assentiu.
"Ela tem um cúmplice." Ele afirmou, foi a minha vez de assentir.
"Sim, embora eu não ache que ela confiaria em alguém, deve ser alguém a quem ela controla por chantagem. Eu também acho que ela tem um daqueles cofres. Ela enviou o chip onde colocou Ann para Bishop, mas eu não consigo ver Bishop implantando ela em Mariah por livre e espontânea vontade."
"Como assim?" Gift perguntou.
"Ela deve ter um lugar que ninguém conhece, onde guarda seus Chips e fórmulas. Ela vendia o soro para Lennisworth. E deve ter alguém que mantém esse lugar seguro." Eu disse.
"Mas como vamos achar esse tal lugar? Pode estar em qualquer lugar do país!" Brave disse jogando os braços para cima e os baixando com força num sinal de frustração.
"Joe?" John perguntou. Eu sorri.
"Sim. Meu amigo Joe." Eu disse com um sorriso, mas Gift balançou a cabeça e encarou Brass. Os olhos de bronze deles se fixaram um no outro, Brass suspirou.
"Justice não vai ser um problema, mas Darkness..." Eu olhei para John, meu afilhado, por que era isso que ele era pra mim, mesmo que não fosse para os outros, suspirou.
"Eu falo com ele, é a vida de minha irmã, talvez eu fique outro ano lá no lugar de Simple." Eu balancei a cabeça.
"Não, não precisamos dele, Joe pode fazer tudo o que ele faz, Joe é poderoso." Eles não sabiam o que Joe era capaz de fazer.
"Joe pode ser poderoso, Gabriel, mas não está no nível de Simple, ninguém está. E se alguém tem de ficar no lugar dele esse alguém sou eu." Brass disse com voz de comando, eu concordei, embora quando imaginei essa linha de ação, não coloquei Simple na equação. E ele poderia refazer os passos de Samantha, ele poderia vasculhar a cidade onde eu e ela moramos. Ela nunca ficou longe tempo suficiente para sair da cidade.
"Eu não pensei nele, eu pensei na habilidade hacker de Joe, mas se ele entrar nisso, teremos mais chances." Eu disse.
"Eu vou ligar para Justice, acho que ele vai querer ir para Fuller e eu devo..." Ele alisou a cadeira a sua esquerda, devia ser a de Sophia. Brass devia querer se despedir dela, afinal ele poderia ficar em Fuller para Simple sair.
"Vamos chamar a mamãe e manter Bronzy na casa do nosso tio, pai." Gift disse se levantando, eu também me levantei.
"Não importa se não der certo, desde já eu te agradeço, Gabriel." Brass disse e eu senti que estava começando a ir na direção contrária a que eu sempre fui. Eu estava me desviando do egoísmo e da autodestruição e indo em direção ao desconhecido, me jogando de cabeça na minha redenção. Minha filhotinha talvez não soubesse de tudo isso, mas ela não seria filhote de um homem sem alma.

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