CAPÍTULO 61

209 29 3
                                    

Eu acordei e Wide gemeu quando eu me levantei. Eu disse um 'bem feito' e fui ao banheiro, mas ele ter apanhado do jeito que apanhou por Sunny me fez me apaixonar ainda mais.
Ele não ficou muito tempo no hospital, Florest enfaixou ele todo para os ossos não curarem errado e fomos embora depois. Pelo que entendi as mordidas e arranhões eram bem piores que os ossos quebrados. Honor o mordeu em vários lugares, Florest teve de costurar e ele ficou cheio de pontos.
Eu lavei o rosto, escovei os dentes e penteei meu cabelo, quando voltei ao quarto, ele olhava para a janela. Ele dormia muito pouco e tinha o sono muito leve.
"Que tal dormir um pouco? Dormir mesmo, de verdade?" Eu perguntei enquanto vestia um vestido e colocava só uma pulseira em meu pulso, eu não estava usando muitas jóias agora. Ele estendeu uma mão eu segurei, Wide me puxou para cima dele.
"Eu não posso." Ele gemeu e se sentou com as costas apoiadas na cabeceira da cama e me pegou no colo, eu descansei a cabeça no ombro forte.
"É claro que pode." Eu disse alisando sua barba, estava cheia, os fios loiros eram macios.
"Não, eu hiberno. Como Silent e Sunny, mas não toda noite. Eu durmo um período de dois dias e noites por mês, mas posso postergar isso e às vezes durmo uma semana a cada três meses. Como já tem um grande tempo que estou fazendo isso, acho que será difícil mudar." Ele explicou, eu o encarei. Ele sorriu.
"Genes de urso, lembra?" Eu não sabia o que dizer. Ele era gigante e muito forte, mas Hush e Quinze, por exemplo, eram caninos e muito fortes também, menores que ele por poucos centímetros. Entre os felinos, haviam Valiant, Leo e Leaf todos com mais de dois metros, Leaf devia ser o maior deles. E os primatas também tinham machos muito grandes como Jericho por exemplo.
"E quando foi a última vez que você dormiu?" Ele deu de ombros.
"Eu não marco no calendário. Quando o momento vai se aproximando eu consigo dormir algumas horas, até que chega um dia e eu fecho os olhos e acordo dali a uma semana, às vezes mais. Mas se você se importa com a data, Simple sabe. Ele sentiu todas as vezes que eu dormi. E ele sabe quando será." Ele disse, eu pensei que teria de saber.
"Eu vou fazer isso para você daqui em diante. Eu vou saber quando for seu período de sono." Ele sorriu um pouco triste.
"Se morássemos aqui eu dormiria em paz, pois você e o filhote estariam protegidos pela minha família. Broad poderia morar com a gente, eu me sentiria melhor." Ele disse se levantando e puxando um curativo do braço. Era um buraco na pele, mas já estava fechando.
"Eu não preciso de proteção, Wide. E se Broad quiser, pode morar com a gente em Homeland." Eu disse, ele ergueu as sobrancelhas, sério.
"E tirá-lo do meio das pessoas que ele ama? Afastá-lo de seu afilhado? Não. Você tem razão, não precisa de proteção." Ele disse olhando para a frente.
Eu fui até a cozinha, tirei carne da geladeira, coloquei na frigideira e liguei o fogão em silêncio. Ele estava querendo mostrar que ele queria ficar ali, mas eu não poderia viver na Reserva. Eu era uma espécie de líder das fêmeas e as fêmeas viviam em Homeland. Eu não sabia fazer outra coisa.
A carne ficou pronta eu olhei para ele, Wide estava imóvel olhando pela janela, eu suspirei e comecei a comer.
Eu fazia parte do Conselho e não foi fácil entrar. E havia as escalas das fêmeas nos trabalhos, não era fácil encaixar todas de forma satisfatória, mas eu conseguia. Haviam as festas, as datas comemorativas, a organização da ocupação das casas e apartamentos, o fornecimento de várias coisas, era muito trabalho e eu adorava. Brawn dizia que meu olhar de fêmea deixava os trabalhos árduos mais agradáveis e eu cuidava de muita coisa.
E se eu viesse para a Reserva, o que eu faria? É claro que haveria trabalho, mas eu não queria deixar o que eu já fazia. Wide ficou parado por um bom tempo, eu comi, fui até o quarto e arrumei tudo, até lavei o banheiro, eu queria me distrair, mas também protelar a hora em que ele viria e me pediria para morarmos aqui. Era o que ele estava pensando, eu quase ouvia a mente dele trabalhando.
Eu fui até a sala e tudo estava arrumando, muito limpo. Wide colocava uma almofada no sofá, a sala estava impecável. Eu sorri admirada, ele sorriu de volta.
"Nossa! Não dá nem vontade de sentar no sofá!" Eu disse, ele fez um galanteio.
"Por favor." Eu ri e me sentei, ele se sentou e pegou na minha mão.
"Wide. Eu sei o que vai me dizer e..." Ele suspirou, seus olhos estavam roxos e um deles estava inchado, mas ainda assim ele era tão bonito!
"Eu sei que disse que iria, mas Silent e Broad precisam de mim." Eu o encarei, não era isso que eu imaginava que ele ia dizer.
"Silent não faz nada por ele mesmo, ele está preso numa vida de regras e Emma não quer isso para ele, mas ela não sabe como tirá-lo disso. E Broad...
Ele sente falta de ter uma mãe e nunca vai ter uma, como posso deixá-lo sem um pai? Eu fugi de ser pai dele a vida toda, eu pensei que se você ficasse com ele, eu estaria o ajudando, mas eu fiquei com você e agora que ele teve o gostinho de ter um pai, eu vou embora?" Ele disse, eu me levantei.
Ele não era responsável por Silent, Silent tinha uma família, uma família linda. E Broad poderia ir conosco. Ele era como Wide, muitas gêmeas já estavam curiosas a cerca dele, pois o fato dele poder engravidar fêmeas de primeira geração já era conhecido.
"Eu não quero ficar. Eu tenho meu lugar no Conselho, minhas obrigações, minha casa. Eu não posso deixar tudo para trás, Wide! Broad pode ficar conosco e na casa de Honor, você pode vir uma vez ao mês visitar Silent." Ele assentiu.
Eu me preparei para a contra argumentação dele, mas ele não disse nada, eu fui até a janela.
O prédio das fêmeas ficava a direita do complexo, havia um grande pátio entre tudo e esse pátio estava sempre cheio, principalmente de filhotes correndo. No momento em que olhei, Arnold rosnava para Proud e Diane dizia que ele não devia fazer isso, pois ele era tio de Proud. Arnold então riu e disse que Proud tinha de respeitá-lo e obedecê-lo, foi a vez de Proud rosnar. Eu sorri.
Homeland já foi assim, mas não na área principal, pois quando os primeiros filhotes nasceram, eles eram um segredo. Salvation, Florest, Angel e Kismet, que foram os primeiros eram nossos presentes preciosos mas não tinham a liberdade que os filhotes de Valiant tiveram por exemplo, uma vez que eles nasceram em segredo, mas a Reserva era maior que Homeland quando o assunto era sobre as áreas verdes.
Eu ouvi a porta se fechar e meu coração doeu, eu pensei que iríamos discutir, mas ele simplesmente saiu.
Eu olhei para o sofá, ele tinha ajeitado as almofadas de novo e eu me lembrei de que diziam que Simple fazia isso, que ele arrumava a casa de Thorment e de seus irmãos, que às vezes tinham de ligar para ele para saber onde algo estava. E Wide o amava. Amava como amava Silent, Sunny e Broad. E também havia Vengeance. Vengeance que era filhote dele, mas não se portava como se fosse, parecia haver uma grande distância entre eles.
O bebê chutou, eu sorri, mas pensei que ele era a única família que eu tinha, ao passo que Wide já tinha um monte de netos e bisnetos, e teria até um tataraneto se Sunny e Lily fizessem o que Livie temia.
Wide tinha uma grande família! Era estranho pensar nisso.
Eu desci as escadas devagar, eu não sentia o cheiro dele, eu não sabia para onde ele tinha ido, então fui atrás de Creek. Ela também tinha seus dilemas e poderíamos conversar.
Eu bati na porta já sentindo um cheiro de sexo, e a porta estava fechada, então isso significava que ela e... Eu inspirei e depois abri bem os olhos.
"Gabriel?" Eu disse para a porta que se abria, mas era a própria Creek que me atendeu. Ela estava enrolada numa toalha.
"Sim, Breeze. Gabriel. E estamos ocupados." Ela disse, seu rosto parecia curioso pela minha reação, eu sorri.
"Eu queria conversar um pouco, talvez depois a gente conversa, então."
Eu disse, mas a porta se abriu mais.
"Breeze? Algum problema com o bebê?" Gabriel perguntou, eu dei um passo para trás quando o vi, ele estava com os cabelos soltos e só tinha uma toalha enrolada na cintura. Ele sempre foi tão forte assim? Eu olhei bem para o rosto perfeito, os olhos muito azuis e os cabelos dourados, meu Deus! Ele parecia um anjo enrolado numa toalha!
"Bree?" Creek me chamou, eu devia estar com uma cara meio idiota, eu apertei os lábios.
"Eu nunca te vi assim, Gabriel, de... Toalha." Eu disse, ele sorriu.
"Eu já vou." Eu disse e me virei, mas Gabriel me chamou;
"Breeze! Venha! Se quer conversar com Creek, eu saio. Venha, entre!" Ele convidou, eu olhei para Creek, ela deu de ombros.
Eu entrei no apartamento, estava uma bagunça, Creek sorriu, Gabriel tirou umas roupas do sofá.
"Não tivemos tempo de... Bom, espero que não pense que aqui fica sempre assim. Eu vou me vestir e sair, eu não demoro." Ele juntou um monte de coisas, roupas, pratos descartáveis, livros tudo nas mãos e levou para o quarto, Creek tinha um sorriso no rosto quando o seguiu com o olhar até a porta se fechar.
"Isso quer dizer que..." Eu não terminei, ela fez sinal de silêncio.
Logo, Gabriel saiu do quarto, vestindo calça jeans e camisa, sapatos e com o cabelo amarrado na nuca, mais parecido com ele mesmo, mas havia algo em seus olhos, um brilho. Ele olhou para Creek, ela se levantou e se aproximou dele.
"Eu posso voltar?" Ele perguntou, Creek puxou o rosto dele para si e o beijou, um beijo bem quente.
"Você quer voltar?" Ela perguntou, Gabriel alisou seu rosto, os olhos dele estavam ternos.
"Eu quero, Creek." Ele disse, ela sorriu.
"Então dê umas voltas e depois venha para cá." Ele sorriu.
"Talvez eu vá falar com Wide. Ele está na estrada. Até logo." Ele disse e eu o chamei:
"Gabriel? Pode conversar com ele? Explicar que eu não saberia viver aqui? Que eu fico triste por ele ficar longe da família dele, mas que não é tão longe assim? Eu..." Gabriel se sentou no sofá e segurou minha mão.
Creek se sentou do lado dele, ele a puxou para seu colo. Era uma novidade aquele carinho todo, mas também era bonito, eu fiquei feliz por Creek.
"Você já pensou no que significa para ele? Wide passou quase quatro anos vagando pela Reserva se passando por Broad. Ele aprendeu a amar Silent e como seus ciclos de sono são distantes um do outro, ele velou o sono de Broad muitas vezes. Ele nunca ficou longe deles por muito tempo desde que veio para cá. Broad sempre teve muito medo dele, agora, Broad o chama de pai." Gabriel disse, eu olhei para as minhas mãos. Por que ele nunca me disse isso?
"E você pode não gostar muito dessa pergunta, mas quem te prende a Homeland? Eu sei que você faz parte do Conselho, quando eu voltei, você votou para que eu fosse embora." Creek fez um barulho, Gabriel sorriu.
"Qual seria seu voto?" Ele perguntou para ela, Creek baixou os olhos.
"Viu?" Ele riu.
"Eu estava pensando na segurança de todos." Eu disse, ele assentiu.
"Sim. É seu direito e não há ressentimento de minha parte. Mas, continuando, Wide poderia ter procurado Broad a qualquer momento, mas quando ele chegou, Quinze e Honor se despiram e o enfrentaram, Silent chorou de medo e Sunny rosnou para ele. Por isso, os trigêmeos arranjaram um lugar para ele ficar e Broad foi para a casa de Honor. Você sabia de tudo isso?" Eu neguei com a cabeça, ele continuou:
"Demorou muito para ele ter coragem de voltar pra cá como ele mesmo, na maioria das vezes achavam que ele era Broad e ele não desfazia o engano. Mas aí, ele tinha de imitar Broad. Broad é tímido ao extremo e muito calado, Wide não. Wide é instruído, ele é muito inteligente, gosta de ler e sabe conversar sobre vários assuntos. Politica, esportes, economia, ciência, e ele gosta particularmente de história da arte. Já conversaram sobre algum desses temas?" Gabriel perguntou com um pequeno sorriso, eu voltei a negar com a cabeça.
"Ele tem raízes aqui, Breeze. Raízes fortes. Dois filhotes, um deles precisa de um pai, o outro é cheio de filhotes e netos. E o Conselho sobreviverá sem você. Ou suas outras obrigações." Gabriel disse, eu só engoli em seco.
"Eu penso nessas coisas, Gabriel, mas minha essência presa minha autossuficiência e independência. Ficar aqui vai me tirar isso." Eu disse.
"Mas vai te dar uma família. Uma família gigante, barulhenta, cheia de videntes e brigões." Ele disse e eu vi amor nos olhos dele. Ele amava a família de Vengeance.
"E você não precisa largar tudo, Breeze. Pode ir uma vez por mês em Homeland, pode fazer muitas coisas daqui!" Creek disse, eu tinha de pensar. Wide ter dito que iria comigo me fez fazer planos, me fez começar a organizar minha vida lá, em Homeland. Agora tudo teria de ser descartado.
"E você? Vai morar aqui?" Gabriel se virou para Creek, eu vi que ela não tinha pensado sobre isso. De acordo com o cheiro do apartamento, a última coisa que ela tinha feito nos últimos dias foi pensar.
"Eu não sei." Ela disse, ele se levantou com ela no colo e a colocou sobre seus pés.
"Eu espero ter ajudado você e Wide, Breeze. Ele se tornou meu amigo quando voltei. Um bom amigo." Ele disse e saiu em silêncio, quase não ouvimos a porta se fechar.
Creek me olhou um pouco perdida, eu também não estava melhor. O estômago dela roncou, ela sorriu e foi para a cozinha.
"Carne?" Creek perguntou, eu sorri aceitando.
"Então você prepara e eu vou tomar um banho e me vestir." Creek disse e foi para o quarto.
Não demorou muito e eu tinha assado uns bifes e estávamos à mesa comendo. Comemos em silêncio, cada uma imersa em seus próprios pensamentos.
Alguém bateu na porta, eu e Creek inspiramos e sorrimos. Chimes?
Creek correu para abrir, Chimes entrou olhando em volta.
"Que bagunça." Ela disse, Creek riu.
"Dê se por satisfeita por ser primata e não estar sufocada com o cheiro." Eu disse, Creek sorriu.
"A que devemos essa honra?" Chimes se sentou no sofá, só haviam duas cadeiras à mesa.
"Adam viu Wide passar no pátio e teve uma visão de vocês. Ele me mandou falar contigo, Breeze. Mas você não estava em seu apartamento." Eu já estava a um tempo ali. Por que ela só bateu agora?
"Eu estava aqui." Eu disse, ela sorriu.
"Eu imaginei, mas quando ia vir aqui, eu..." Ela inspirou profundamente.
"Eu me senti enjoada. Muito. Adam tinha saído comigo e ido atrás de Wide, então eu voltei para meu apartamento e fiquei lá." Eu e Creek nos olhamos surpresas.
"Você quer dizer que..." Creek não teve coragem de falar o resto. Chimes assentiu.
"Você fez um exame?" Ela negou com a cabeça.
"Eu não sei o que pensar. Eu e Adam estamos usando camisinha." Ela disse, eu a lembrei:
"Mas e a noite do chá de panela?"
"Não usamos, mas eu tomei uma PDS." Eu me lembrei das palavras de Gabriel no refeitório aquele dia. A salada de frutas anulava todos os métodos anticoncepcionais.
"E agora?" Chimes sorriu, um sorriso meio indeciso.
"Eu não sei. Há uma parte de mim feliz, uma parte cheia de medo e outra parte aterrorizada." Ela disse, eu e Creek saímos de nossas cadeiras nos sentamos ao lado dela e a abraçamos. Chimes fechou os olhos, colou sua testa na minha e segurou uma mão de Creek.
Nós ficamos assim um tempo, até que eu ergui a cabeça.
"Não podemos ficar na dúvida." Eu peguei meu telefone e liguei para Honest.
"Alô?" Não era Honest! Era Modest. Eu ri, estava nervosa.
"Em que posso ajudar?" Ele perguntou.
"Eu me enganei, eu..." Eu liguei para Modest, afinal era o número que eu tinha.
"Queria falar com o Cam?" Ele perguntou, eu respondi:
"Chimes não está bem e..."
"Estou indo." Ele desligou, eu fiquei com o celular na mão.
"Modest está vindo. Acha que ele pode ajudar?" Eu perguntei para Chimes, ela deu de ombros.
"Ele tem algum conhecido médico, não sei de onde esse conhecimento veio. Até Honest voltar em seu próprio corpo, ele ficou no hospital, como se fosse um médico e às vezes ele acertava algumas coisas. Florest me contou que um dia ele fez uma fórmula e era algo incrível, mas ele não soube misturar os componentes." Ela disse.
"Vamos chamar o Candid então." Creek pegou seu celular e discou, mas depois de um tempo, ela desistiu.
"Eu acho que... Bom, eu sinto que estou grávida, essa é a verdade. E estou com medo." Chimes me abraçou, Creek abraçou nós duas. Eu queria sorrir, mas não sabia como.
Não demorou e bateram na porta, Creek abriu e Modest entrou.
Ele olhou em volta e sorriu.
"Simple arrancaria os cabelos se entrasse aqui."

FÊMEAS Where stories live. Discover now