CAPÍTULO 53

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Eu e Breeze almoçávamos no refeitório quando Gabriel e Brave entraram, se serviram e se sentaram. Breeze falava sobre a nova decoração que faria em sua casa nova em Homeland, eu, que ainda não tinha decidido se ia ficar ali ou em Homeland só concordava com a cabeça.
"E temos de pensar que não será só um filhote." Ela disse, eu assenti, meus ouvidos na mesa de Gabriel.
"E é claro que se um deles nascer com cabeça de lobo, eu não vou me importar, você se importaria, querida?" Ela perguntou e eu disse que não, não me importaria.
"Creek!" Eu a encarei, e vi que eu tinha concordado que um filhote dela nasceria com cabeça de lobo!
"Por que não vai lá e conversa com ele?" Eu só balancei a cabeça me negando.
"Não há o que conversar, ele estava me usando para ser aceito, para..."
"Para almoçar no refeitório e apanhar de Harley na sala de treinamento? Acha que você teve algo a ver com isso?" Breeze perguntou, eu dei de ombros.
"Ele ganhou de Harley." Breeze assentiu.
"Ele nunca esteve sozinho naquela cabana. Dusky sempre ia lá. Vengeance, John. Ann morou lá. Jewel chama ele de cientista maluco gostoso, sabia disso?" Eu baixei os olhos.
Ele sempre foi um de nós. Muitas de nós nos baseávamos na montanha dele para indicar um lugar, por exemplo. Eu mesmo já disse que vi um lobo a algumas milhas da montanha do Gabriel. E agora que ele tinha voltado, diferente, quente, todos o acolheram. 'Segundas chances' era o que a maioria ali dizia.
"Acha que..." Eu ia perguntar se a história de me dar uma filhotinha e acasalar comigo para ser aceito não era um plano quando Pink se sentou na mesa deles. Eu parei de falar e o ouvi perguntar como ela estava e esqueci o que ia falar quando Pink disse que estava melhor graças ao 'tratamento' dele. Eu olhei para Breeze, minha amiga tinha um sorriso no rosto. Será que ele já estava procurando outra fêmea? E seria Pink? Logo Pink?
"Pink é muito bonita. É canina, leal e descomplicada." Breeze disse baixinho, eu arregalei os olhos, eu tinha falado alto.
"Pink não liga para filhotes. Ela até corre dos filhotes daqui!" Eu sussurrei, Breeze balançou a cabeça discordando.
"Os filhotes daqui são uns capetas, Creek. Não as fêmeas, claro. Embora, eu sempre gostei dos levadinhos. Você vai ser como os trigêmeos ou como Virtue, nheim?" Ela alisou a barriga e perguntou para seu bebê.
Esse era o universo de Breeze agora e eu estava muito feliz por ela. Eu queria tanto que minha história tivesse sido como a dela ou como a de Chimes!
Embora, Wide não fosse um Nova Espécie normal e a tenha enganado no início e Chimes! Meu coração doía só de imaginar o que ela estava passando.
Cada uma de nós teve a sua dificuldade, essa era a verdade. Decidir ter um filhote não foi fácil para nenhuma de nós.
"O que foi?" Breeze me encarou.
"Eu pensei por um momento que eu era a azarada de nós três, mas então eu fiquei triste por Chimes." Breeze assentiu.
"Ela estava muito feliz ontem. Chimes é forte, e ela tem Adam." Eu sorri. Adam estava vinculado, parecia até um macho de primeira geração.
"Nossa!" Eu disse.
"O quê?"
"Adam é de primeira geração, eu sempre me esqueço disso por que ele chama Vengeance de pai."
Breeze sorriu.
"É. Mas eu acho que o amor sempre encontra um jeito. Chimes é primata, elas são mais doces, menos selvagens."
"Acha que ela pode engravidar de novo?" Breeze sorriu malvada e entendi que ela ia aprontar, mas já era tarde demais para impedir.
"Gabriel! Você poderia nos tirar uma dúvida?" Ela disse num tom mais alto, eu olhei com raiva para ela.
"É claro." Ele se levantou e andou até a nossa mesa, Breeze fez sinal para que ele pegasse uma cadeira e se sentasse. Durante minha conversa com Breeze, eu tinha ficado com um ouvido na mesa deles. Ele, Brave e Pink falavam sobre armas. Uma coisa idiota. Pink era uma idiota que achava que trabalhar com a força tarefa era uma grande coisa.
Ele se sentou e sorriu pra mim, eu só acenei com a cabeça.
"Acha que Chimes pode engravidar de novo?" Breeze perguntou, ele ergueu as sobrancelhas loiras.
"Eu tive acesso à fórmula de Honest, embora ele possa ter mudado depois, pois ele... Bom, sabem que não era só ele na mente, não é? Mas segundo aquela fórmula, que tinha como objetivo forçar ovulações em sequência, Pode ser, e seria preciso um exame para saber com certeza, pode ser que ela ainda continue ovulando." Ele disse, eu encarei Breeze.
"Chimes sabe disso?" Breeze fez que não com a cabeça.
"E se ela não quiser um filhote agora?" Breeze perguntou, eu o encarei. Chimes tinha passado por um trauma muito grande e era muito recente.
"Eu não sei a fórmula final para dizer com certeza. Se for a mesma a que eu tive acesso, funciona como a salada de frutas, só que numa versão personalizada para Chimes." Ele disse, eu o encarei. A salada de frutas fez as fêmeas humanas e Sophia e Livie, que não eram humanas engravidarem mesmo tomando anticoncepcionais.
"Quer dizer que mesmo ela tomando um anticoncepcional, ela pode engravidar?" Breeze perguntou, mas eu vi que ela já pensava em como conversar algo assim com Chimes.
"Sim. É claro que só durante o tempo de ação da fórmula." Ele disse e eu e Breeze suspiramos aliviadas.
Chimes estava muito fragilizada. Ela estava se consultando com Lunna, falar sobre a possibilidade dela engravidar de novo seria doloroso.
"E qual seria esse tempo, você sabe?" Breeze perguntou, mas ela já não estava tão preocupada, eu também não.
"Não há como saber, só..." Eu o encarei.
"Só..." Eu o animei a continuar.
"É só especulação, eu mesmo não sei quantas vezes ela tomou a fórmula, mas se formos levar em consideração a salada de frutas e o fato de que Sarah está grávida de novo e Livie e Sophia também, aliado a que Trisha engravidou dos gêmeos sem planejar..." Ele disse, eu encarei Breeze. Ela franziu a testa.
"Livie está grávida, mas Sophia e Sarah não." Ele sorriu.
"Então eu sei de algo que você não sabe?" Breeze era famosa por saber de tudo, ela fechou a cara.
"Sophia não me esconderia isso." Ela disse.
"Sim, isso é verdade. Ela descobriu ontem. Tínhamos até... Bom, eu e Brass íamos fazer uma coisa, mas Brass e ela estão comemorando desde ontem. E Sarah, ela não foi no chá de panela, foi?" Eu balancei a cabeça. Não, Sarah não estava no chá de panela de Chimes."
"Tammy já sabe?" Breeze perguntou, Tammy ficaria muito feliz.
"Deve ter ficado sabendo hoje." Ele disse.
"E como você sabe disso?" Eu perguntei, ele me encarou.
"Candid tinha saído, abandonado seu posto no hospital, coisa que ele sempre faz, então a ansiedade em Noble o fez me procurar. Eu fui até a casa dele e fiz o exame." Ele disse.
"O dia de ontem foi bem agitado." Eu disse.
"Sim, foi." Ele concordou e se levantou.
"Tenham um bom dia. Quanto a Chimes, eu estou a disposição, uma vez que Honest... É só ela me procurar." Ele disse e saiu do refeitório com Brave que já o esperava de pé a um tempo.
"Acha que é só coincidência? Todas que tomaram a salada de frutas estarem grávidas de novo?" Eu perguntei, Breeze estava pensativa.
"Acho que sim. Veja bem, são quase três anos entre as gestações. Não acha que deveria ter sido em seguida?" Ela disse e eu concordava, mas era muita coincidência.
"E Trisha já teve os bebês, Sly e Sharp tem quantos meses?" Ela perguntou, eu sorri me lembrando dos filhotinhos de Slade. Eles eram muito fofinhos!
"Quatro." Eu respondi.
"Viu? Não, deve ser coincidência." Breeze disse, mas sorriu.
"Já pensou se não for? Se num ciclo de alguns anos elas ficarem engravidando, tipo, pra sempre?" Breeze arregalou os olhos, eu não, eu esperava tudo daqueles pestes.
Me veio uma imagem de Sophia, Livie, Sarah e Trisha correndo atrás de um monte de filhotes e eu comecei a rir. Breeze também riu, mas parou.
"Elizabeth. Ela também engravidou naquela leva. É, é só coincidência." Eu assenti, afinal elas poderiam ter filhotes se quisessem, eram abençoadas por poder ter ou não, diferente de mim que tive de me envolver com Gabriel sem o querer.
Wide apareceu no refeitório com Sunny e Broad, os três juntos pareciam fazer o espaço ficar bem menor.
"Quem quer carne de alce?" Ele perguntou com um sorriso, Breeze sorriu e se levantou.
"Não irei comer muito, você demorou, eu tive de vir comer aqui." Ela disse, Wide se aproximou dela e a tocou no rosto.
"Vai comer só um pouco?" Ele perguntou com um sorriso.
"Sim, só um pouquinho. Só pra agradecer por você ter ido caçar."
"Não precisa agradecer. Eu faço o que você pedir, seja o que for." Wide disse, eu e até outras fêmeas em outras mesas suspiramos.
"Vamos?" Breeze disse, ele a pegou nos braços e saíram. Broad e Sunny sorriram pra mim e saíram também.
Eu estava muito feliz por Breeze. E por Chimes também, pois mesmo passando o que ela passou, ela tinha Adam.
Eu saí do refeitório, parei no grande pátio e olhei em volta. Solidão. Eu gostava disso, eu adorava estar sozinha antes. Até Breeze me chamar para a lanchonete e eu querer me conectar com os outros, querer ser menos sozinha. A solidão foi suficiente por um tempo, mas se eu fosse ser sincera, eu quase me perdi. De uma fêmea agradável e sociável, eu estava me tornando alguém vazio e insensível. E ninguém percebeu.
Eu comecei a andar a esmo, a Reserva tinha muito verde, muitas árvores centenárias, muitos canteiros, era agradável caminhar ali.
Pollyana e eu faríamos longas caminhadas conversando e rindo, isso era incrível, era um milagre. E um dia, ela andaria pela Clareira de Acasalamento, linda num vestido maravilhoso até um macho. Quem seria?
Eu parei e ri, pensando que poderia ser qualquer um. Qualquer desses filhotinhos que corriam agora por toda a Reserva aprontando, lutando escondido de suas mães, com os pais apostando.
Proud com seus olhos diferentes, Polux ou Castor, idênticos e tão levados que poderiam enganá-la. Ou Sly. Ou Sharp. Eles não eram iguaizinhos, os olhos de um deles eram mais claros, como os olhos de Trisha eram mais claros que os de Slade. Ou talvez um dos mais velhos. Angel? Meu coração quase parou. Minha filhotinha e meu afilhado querido? Não, eram muitos anos de diferença. Talvez demorasse muito para ela se apaixonar, talvez fosse quando ela ainda estivesse bem nova e eu teria trabalho. Como Livie com Lily. Eu não podia saber como seria e isso era desesperador e sublime. Eu nem sabia como a personalidade dela seria, mas tinha alguma idéia. Ela seria doce. E prestativa. Calada? Falante? Eu sorri, ela seria minha filhote, seria incrível em tudo. E inteligente. Eu não era um primor de inteligência, mas o pai dela era.
Eu me apoiei numa árvore e suspirei alisando minha barriga. Como as humanas podiam aguardar nove meses? Eu estava uma pilha de ansiedade e só faltavam pouco mais de três!
"Posso tocar também?" Eu olhei a direita, Gabriel estava ali.
"Me seguindo?" Eu perguntei, ele sorriu.
"Sempre." Ele respondeu, eu fechei a cara.
"Como assim?" Eu perguntei, mas ele não respondeu, só se abaixou ante mim e me encarou pedindo permissão, eu assenti de leve.
Ele encostou a testa em minha barriga, minhas mãos quase tocaram seus cabelos loiros, eu tive de cruzar os braços.
"Pollyana?" Ele chamou baixinho, algo dentro de mim se agitou, eu me assustei.
Eu devo ter pulado, ele se levantou rápido, mas eu estava tão maravilhada que eu sorri e o abracei.
"Ela se mexeu." Ele afastou o rosto com os olhos azuis arregalados.
"Tem certeza?" Eu apertei os lábios, não era hora de chorar, bebês se mexiam, ela ia se mexer em algum momento.
Gabriel se ajoelhou de novo e tocou em minha barriga, outra agitação aconteceu e eu tive certeza.
"Ela se mexeu." Eu disse, ele ergueu os olhos e sorriu.
"Oi, bebezinha. É o papai." Ele disse, outra mexida.
Uma lágrima escapou, ele se ergueu e me beijou, me surpreendendo, eu o abracei, naquele momento eu só conseguia pensar que estávamos vivendo aquilo graças a ele. Que nenhum outro macho daquele lugar poderia me dar o que ele me deu.
O beijo foi ficando quente, a ternura foi ficando esquecida e minha buceta latejou. Eu o queria e o teria, depois eu poderia pensar se era certo ou não me entregar a ele, mas naquele momento eu só o queria dentro de mim.

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