CAPÍTULO 37

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Eu chiei e ele foi aproximando o rosto do meu, meu coração, já disparado acelerou ainda mais, ele ia me beijar! Eu fechei os olhos, meu corpo todo formigou.
"Seria muito romântico te beijar agora e eu sou alérgico a romantismo, Ann. Dá pra rastejar essa bunda e sair debaixo dessa porra de jipe pesado por favor?" Ele disse, eu olhei em volta e o jipe estava sobre nós, ele devia estar impedindo de ficarmos presos com as costas. Eu fui me mexendo e com isso me esfreguei nele, senti inclusive o...
"Não é por você, é a adrenalina." Ele disse, eu consegui sair e ainda o ajudei a virar o jipe. Ele se levantou e eu não consegui não olhar para a virilha dele. Eu pensei que ele fosse dizer alguma coisa, meus olhos não saíam do vulto na bermuda dele, mas ele se virou e foi examinar o jipe.
"De todos os jipes que você poderia pegar, pegou logo essa velharia?" Ele abriu a porta, a porta caiu de lado. O pára-brisa também estava todo quebrado.
"Estamos bem, isso é o que importa, não é?" Será que teríamos de fazer um relatório? Candid correu na minha direção, mas eu queria atropelá-lo.
Ele me olhou, eu arrumei meu cabelo, ou melhor, tentei arrumar, devia estar uma bagunça. E eu senti dor em alguns cortes.
Ele se aproximou e afastou meus cabelos para trás de meu rosto, eu tinha cortado a testa. Ele tirou a camiseta azul e limpou minha testa e pressionou contra o corte até parar de sangrar.
"Eu tenho de te examinar, estamos perto do lago, quer que eu te carregue?" Eu balancei a cabeça negando, ele ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada e foi na frente.
"E o jipe?"
"Deixe aí, depois eu o levo para o complexo. Vai ser engraçado contar para Sim que você ferrou com o jipe preferido dele." Eu sentia meu pé dolorido então manquei até ele e o puxei pelo braço.
"Jipe preferido?" Eu perguntei, ele olhou para trás, para o jipe e sorriu, um sorriso carinhoso de um jeito que eu nunca tinha visto ele sorrir.
"Sim adora velharias. Quando Victoria determinou que esse jipe não podia ser melhorado, ele o requisitou. E sempre que está aqui, só usa ele."
Eu pisquei. Aquele jipe alcançou uma grande velocidade.
"Eu não ferrei com o jipe, quem puxou o volante foi você." Eu disse, ele me olhou com o deboche de sempre.
"Exato. Mas se eu disser que foi você, ele vai apenas te abraçar e lhe dar um daqueles beijinhos bobos que ele dá, mas se souber que por culpa minha ele terá que ficar uns dois dias higienizando um jipe para usar, ele vai tentar quebrar todos os meus dentes. Não vai conseguir, mas... Você entendeu." Eu pisei num buraco, meu pé doeu, ele me pegou no colo com uma cara feia.
"Por que Timber me indicou esse jipe?" Eu perguntei.
"Por que eu usei ele um dia desses e o deixei na área pública."
"Por que fez isso?" Ele sorriu. Eu acabei sorrindo, todos diziam que eles aprontavam até uns com os outros.
"Mas ainda demora para ele sair de lá." Eu suspirei. Era estranho ir para a Reserva sabendo que não o veria. Simple era... Eu não sei, acho que um espírito dali. Ir lá e não saber da última que ele aprontou, ou de qual casal ele juntou ou... Eu me lembrei de quando eu acordei e mamãe falava ao telefone muito animada, ela estava no meu quarto, falando alto sobre a tal salada de frutas. Quando souberam que todas aquelas fêmeas grávidas tinham engravidado por causa da tal salada, foi uma confusão! Tia Mari esfaqueou meu padrinho, só pra começar, foi muito divertido! Minha madrinha tinha congelado um pouco, papai foi de helicóptero buscar, mas não deu certo pra minha mãe, foi uma pena.
Candid chegou no deck do lago, haviam dois grandes banheiros, ele entrou comigo no feminino e me sentou na bancada.
Ele se abaixou e tocou meu pé, eu olhei e estava um pouco inchado. Candid se ergueu, se aproximou e encostou os lábios nos meus, eu abri a boca com o susto, ele passou a língua rapidamente por minha boca, sorriu e torceu meu pé.
"Só uma distração." Ele disse, eu baixei os olhos, devia estar muito vermelha.
Meu pé começou a doer.
"Está doendo." Eu disse, ele assentiu.
"Você sabe que é diferente de nós, não é? Sua resistência é menor." Ele disse tocando em um grande arranhão na minha canela.
"Seria legal estudar você." Ele tocou em uma coxa, eu bati na mão dele.
"Esse arranhão é um pouco maior. Talvez se eu lambesse..." Eu entrei em combustão na hora, tive que fechar minhas pernas com força. Ele se afastou e inspirou profundamente lançando a cabeça para trás. O vulto na bermuda dele parecia maior.
Eu levantei minha saia e vi que era um corte grande, mas que não sangrava tanto e não doía muito.
"Quando seu sangue esfriar vai doer." Ele disse, eu limpei o sangue com a minha saia.
"Se você lamber..." Ele assentiu, eu estiquei a perna.
Candid se abaixou e passou a língua pela extensão do corte, eu senti alívio.
Ele lambeu mais algumas vezes, quase chegando perto do meio das minhas pernas inspirando ruidosamente.
"Delícia." Ele sussurrou, mas se afastou. Eu não sabia o que dizer, então olhei os arranhões em meus braços.
Ele voltou a se aproximar e lambeu meus braços, alguns arranhões bem pequenos se fecharam na hora, foi estranho.
Eu olhei de novo para ele, para o grande peitoral, e desci meus olhos para sua virilha.
"Quer ver?" Ele perguntou, eu respirei bem fundo e o encarei esperando que conseguisse passar a idéia de que aquilo não era nada demais. Eu não queria que ele pensasse que eu era uma mocinha boba e afetada por qualquer coisa.
"Por que eu iria querer ver? Eu tenho a certeza de que você é você. E não tenho interesse nenhum em você. Se fosse seu irmão..." Ele se afastou, eu ergui o queixo, mas já me sentindo muito mal.
Eu fiz com ele o que John fez comigo ao preferir Flora. E John não fez de propósito, eu estava fazendo. Por que eu fiz aquilo? Eu me arrependi na hora.
Ele sorriu, os olhos dourados ficando frios, eu tive um pouco de medo.
"Sim deve sair e ir atrás de Flora, não de você. Como é gostar de dois machos e os dois preferirem outra? E a mesma! Eu tenho muita pena de você." Ele sabia machucar, mas eu não ia dar esse gostinho a ele.
"Eu só disse que entre você e Simple preferia Simple, não que o queria. Se ele e Flora ficarem juntos serei a primeira a ficar feliz com isso. Você é um idiota que não entende nada de amor, Candid. Normal, uma vez que paga para tocar nas fêmeas. Quanto a John, eu só tenho de te lembrar a surra que ele te deu por falar mal de mim. Sua garganta melhorou?" Eu perguntei com voz doce.
Ele fechou a cara, mas a porta foi aberta por Harrison e Nove. Harrison foi até mim e me tocou o rosto.
"Vimos o jipe, o que aconteceu?" Ele me olhou com aqueles olhos lindos, eu engoli em seco. Por que as palavras de Candid doeram, e o que eu fiz sendo uma idiota também estava me incomodando, então eu chorei. Harrison me abraçou, eu estava sendo ainda mais idiota, mas eu não era perfeita.
"O que fez com ela?" Nove perguntou rosnando, eu fechei os olhos, Harrison beijou o topo da minha cabeça. Era estranho Nove rosnar assim, Nove sempre me pareceu meio bonzinho demais. A menos que fosse o outro, o pai, o amigo de Flora.
"Tivemos um acidente, eu estava examinando ela. Só isso. Ela está insuportável como sempre, então está bem. Eu já vou." Ele disse saindo do banheiro.
"Eu vou com você." Nove disse, eu me afastei de Harrison um pouco, devia mesmo ser o Nove pai.
"Sem ofensas, Wide, mas eu não estou uma boa companhia agora. Eu vou para a cabana de Sim e vou chamar umas três fêmeas. Se estiver disposto a participar, pode vir." Nove fez que não, Candid foi embora e eu fiquei com o gosto ruim de ter sido uma idiota mimada na boca.
"Está sentindo alguma dor?" Harrison perguntou, eu balancei a cabeça negando, mas quando pulei da bancada, meu pé doeu. Nas capotadas do jipe, minha perna ficou presa debaixo do banco, quando eu saí de debaixo do corpo quente... De debaixo de Candid eu o torci.
"Meu pé. Candid o colocou no lugar mas..." Eu disse, Nove, ou Wide assentiu.
"É assim mesmo, você vai ter de esperar um pouquinho até a dor passar." Eu não acreditei muito nele, afinal, ele não era médico, mas Harrison me pegou no colo e sorriu pra mim.
"Lá em casa está uma confusão dos diabos, você vai adorar." Eu ri, ele riu.
"Eu vou... Vou levar o jipe de volta." Wide disse e andou na direção contrária.
Harrison saiu andando comigo, eu me ajeitei nos braços dele, ele ia devagar sem me balançar muito, eu fechei os olhos.
Eu adorava Harrison. Ele era inteligente e calado de um jeito bom, eu às vezes ficava horas só falando e ele ouvindo e eu podia perguntar o que quer que fosse e ele saberia responder por que ele realmente me ouvia. Embora nunca tenha reparado no quanto ele era forte. Acho que por que ele era tão parecido com o meu padrinho fisicamente que isso ficava implícito, e eu nunca o vi usar a força para nada.
"Continua comendo como se toda a comida do mundo fosse acabar?" Eu perguntei baixinho, alguns cortes estavam ardendo, eu agradecia não ter que estar andando.
"Talvez um pouco mais, eu sou adulto agora." Ele disse e eu assenti. Ele tinha treze anos, iria completar quatorze no próximo mês, mas ele estava falando de seu corpo. Novas Espécies tinham um corpo totalmente adulto aos doze anos mais ou menos.
"Ainda faltam dois anos para você." Eu disse, só pelo prazer de contestá-lo. Ele fechava a cara e ficava tão parecido com o meu padrinho! Meu pai que não ouvisse, mas eu achava meu padrinho o macho mais bonito de todo o nosso povo.
Dessa vez, porém, Harrison não fechou a cara, na verdade, ele parou e aproximou o rosto do meu, eu não tive reação até que os lábios dele tomaram os meus de um jeito totalmente inesperado. Eu só fiquei ali sendo arrasada pelo calor que os lábios dele nos meus provocaram, eu estiquei minha mão e a coloquei entre os fios macios e compridos dos cabelos negros, ele enfiou a língua na minha boca, foi um choque! Eu chupei a ponta de sua língua, ele rosnou na minha boca e mordeu meu lábio devagar, puxando.
"Acha mesmo que preciso completar dezesseis anos para me comportar como um adulto?" Ele disse quando soltou meu lábio. Ele estava sério, seus olhos brilhavam ainda mais.
Ele não me esperou responder, eu voltei a ajeitar minha cabeça no ombro dele e Harrison voltou a andar.
É claro que dali em diante eu só conseguia reviver aquele beijo e me lembrar do que as fêmeas falavam dele.
Quente, forte e calado. Eu apertei meus lábios, minha boca ainda sentia os lábios dele, era como se o beijo ainda estivesse rolando.
Quente, forte e calado, foi assim que Hope falou dele numa festa do pijama lá em casa. Mamãe fazia essas festas, as fêmeas pareciam adolescentes gigantes que riam dos encontros amorosos delas, eu adorava! Mamãe nunca me privou de saber das coisas e assim que eu menstruei, ela disse que eu tinha de aprender como as coisas eram. E eu passei a participar das Festas Do Pijamas Para Fêmeas Nova Espécie - FDPPFNE. Mamãe estava numa época em que as fêmeas humanas a chamavam para seus comitês e todos eram denominados por Siglas, então ela criou essa, eu achei divertido.
Quente, forte e calado. Foi só o que Hope disse quando o assunto filhotes do meu padrinho entrou em pauta. Até então, só Harrison tinha compartilhado sexo com uma delas, já que Rom foi pêgo por Daisy, Adam por Rosalie e agora Chimes, Peter e Noah não tinham se envolvido com nenhuma das presentes na festa. Só Harry. E não só com Hope, por que quando ela falou isso, Pink e Sunshine balançaram a cabeça concordando.
Sunshine ainda adicionou um muito quente à conversa, Pink se abanou e começamos a rir. Isso tinha acontecido no ano passado, ele tinha uns onze ou doze anos.
E agora tinha me beijado, provando que você poderia estar com um macho na cabeça, ser beijada por outro e esse beijo te deixar pensando no que te beijou, sem esquecer o outro, por que eu ficaria com a bermuda de Candid totalmente estufada na frente de seu corpo em minha mente por um bom tempo.
Ele parou na frente da entrada da casa dele, eu senti pesar quando ele me colocou sobre meus pés, mas ele me abraçou pela cintura e eu sorri.
Uma confusão estava acontecendo lá dentro, embora não ouvisse sons de luta, era só discussão mesmo.
"Quer ir para o quarto do meu irmão nos fundos, ou está curiosa?" Ele me encarou, eu arregalei os olhos. Ele tinha os olhos quentes, eu olhei para os lábios cheios e bem feitos, vermelhos. Eu desci o olhar e vi que a calça jeans dele também estava estufada. Meu Deus! Hoje era o dia das calças estufadas! Ele pegou uma mão minha e colocou sobre o jeans, eu passei pelo cumprimento, ele fechou os olhos.
"Eu..."
"Harrison? Por que estão parados aí? Noah e Gabriel lutaram e Gabriel conseguiu desmaiar ele. Você não desenhou isso? Que tipo de irmão idiota você é?" Peace abriu a porta e cruzou os braços. Engraçado como Peace parecia tão forte e era tão infantil.
"Por que você não o ajudou? Você não é a porra do grande lutador?" Harrison perguntou e foi entrando, eu fui junto mancando, meu pé estava melhorando.
"Querida! O que aconteceu?" Tia Marianne me envolveu o rosto nas mãos, eu estava descabelada, tinha um corte cicatrizado na testa e arranhões nos braços.
"Um acidente bobo, eu estou bem." Minha tia acenou, mas fez com que eu me sentasse.
"Florest, veja Ann Sophie, ela se acidentou." Tia Mari disse, Florest veio e começou a me examinar, eu baixei os olhos, pois os olhos de Harry pareciam me queimar de onde ele estava.

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