CAPÍTULO 66

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Eu me levantei, a janela me chamava, mas eu fui para o banheiro. Tomei um banho, fiz café e bebi sentado à mesa, longe da janela. Breeze dormia um sono pesado, sua barriga estava cada dia maior e meu medo também.
Honest ter voltado dos mortos, me tranquilizou muito, Candid era um bom médico, mas não estava no nível de Honest.
A janela me chamava, eu dei de ombros e fui. E a visão mais linda do mundo brindou meus olhos. Eu amava aquele pedaço de terra! Aquele pátio, os prédios, as casas. Muito verde, flores e pessoas. Eu estava me preparando para deixar tudo, pois era injusto com Breeze, mas eu sentiria falta daqui.
Broad passava muito tempo construindo casas e eu pude andar por toda a grande extensão da Reserva e me curar. E fazer amigos.
Eu sorri me lembrando de Harley explicando a Miracle como entrar num bordel sem parecer que ele era uma criança. Ou de quando eu e Honor fomos com os três bundões, como Vengeance chamava, assistir um jogo num bar de uma das cidades do entorno. Foi divertido.
Homeland poderia ser divertido também, eu não era tímido, eu iria fazer amigos lá e eu e Breeze poderíamos vir umas duas vezes ao mês aqui. Broad poderia nos visitar, seria bom.
Eu suspirei e me virei, Breeze tinha se levantado e estava se arrumando. Eu fiquei observando ela, e pensando em como eu pude viver tantos anos, mais de um século, e nunca ter sentido o que eu sentia por ela.
"Sabe, eu te vejo nessa janela e eu não consigo deixar de ficar um pouco triste." Ela disse, eu a beijei.
"Não fique. Eu já tomei minha decisão. Nós vamos viver em Homeland. Viremos pra cá, mas seremos moradores de lá." Eu disse com um sorriso, eu não queria mostrar a ela o quanto era doloroso falar aquelas palavras.
"O seu sofrimento é o meu, Wide. Se morar lá te fizer sofrer, eu irei sofrer." Ela disse, eu juntei suas duas mãos e beijei.
"Eu quero tentar. Eu vou." Eu disse.
Ela me beijou e enquanto meus lábios estavam nos dela, essa coisa de onde morar ficava tão pequena! Lar era onde ela estivesse.
"Eu não quero ser egoísta, Wide. Eu..." Eu a cortei.
"Você não conseguiria ser egoísta nem se quisesse, pare com isso! Ter raízes num lugar, amar esse lugar e querer continuar lá não é egoísmo. Significa que você é conectada com algo maior, significa que você vê além das aparências, que há algo de etéreo em você. Um lugar só deixa de ser um lugar para alguém que é mais que só um alguém. E você é mais que uma fêmea." Eu disse colocando toda a minha sinceridade nisso. Breeze sorriu e me abraçou, eu a abracei de volta.
"Eu sei que eu fraquejei. Eu me deixei levar pelo amor que eu tenho por esse lugar, por que..." Eu engoli em seco, mas não era hora de ser um alfa, era hora de abrir meu coração a ela, então uma lágrima desceu por meu olho castanho.
"Esse foi o lugar onde eu encontrei a paz, Breeze. E isso fez eu me apegar a esse pedaço de terra e as pessoas daqui. Mas a vida é mudança, é movimento e da mesma maneira que eu estou indo para Homeland, pode ser que daqui a algumas décadas possamos voltar. Você vale mais que um pedaço de terra." Eu disse, Breeze me beijou.
Foi daqueles beijos que existem para quando você não tem palavras. Quando não há mais palavras que possam expressar o que se está sentindo, então você beija. Esses beijos são raros, e eu agradeci por ela ter me beijado desse jeito.
Eu a agradeci a beijando de volta. Voltamos para o quarto, para a cama e eu lhe beijei todo corpo, cada canto de pele quente e bronzeada. Suguei seus seios que já estavam maiores e lambi seus mamilos de leve pois estavam sensíveis. Breeze gemeu e rosnou, eu desci minha boca bem devagar, sem pressa para chegar a seu ponto mais íntimo, pois quando eu a lambesse ali, quando ela gozasse na minha boca, eu perderia o controle e seria o selvagem, a besta.
E foi exatamente assim, eu a cobri, eu a penetrei com força, eu meti meu pênis nela impiedosamente até rugir meu gozo. Meu pai inchou e ficamos presos, curiosamente era o que eu queria que acontecesse. Eu a queria presa a mim, mesmo que por um minuto só, mas naquele minuto eu tive a certeza de que eu terminava onde ela começava.
Eu a abracei. Ela fechou os olhos, mas o filhote se mexeu e o estômago dela roncou.
"Fique aqui." Eu disse e fui para a cozinha. Eu aquecia um bife de carne de alce quando meu telefone tocou e eu suspirei. Minha fêmea era mais importante, então eu passei o bife, coloquei num prato e levei para ela.
Breeze olhou para o prato achando um só bife algo muito pouco, eu sorri.
"Simple. Coma enquanto eu falo com ele e faço mais." Ela sorriu e se ajeitou com a bandeja no colo.
Eu disquei, ele atendeu no primeiro toque.
"Wide?" Ele disse, eu respondi:
"Fale. Eu estou alimentando Breeze, só vou fazer o que me pedir depois disso."
Ele disse o que queria, eu desliguei o telefone, levei a frigideira para o quarto e virei mais três grandes bifes no prato dela, ela comeu.
"Simple quer que eu vá na casa de Halfpint. Tudo bem?" Eu perguntei, ela balançou a cabeça.
"Eu vou tomar um banho." Ela se levantou com dificuldade, eu ri, a barriga estava bem grande.
Eu não quis entrar com ela no banheiro, se não iríamos demorar muito, mas foi com um certo custo que eu não entrei. Quando ela saiu, eu corri para o banheiro, ela riu, eu só esperava que um dia eu pudesse cobrar todos esses favores de Simple.
Nós fomos de jipe, ela colocou a cabeça em meu ombro e durante o trajeto eu percebi que ela inspirava os cheiros e se maravilhava com as flores que já estavam brotando mesmo ainda sendo o fim do inverno.
A casa de Halfpint e do meu amigo Ben era um espetáculo a parte, o famoso ditado sobre a casa do ferreiro, cujo espeto seria de madeira, não tinha vez ali. Flores e plantas, tudo muito bem cuidado e planejado.
Nós batemos e Ben veio abrir, ele estava com a camisa aberta, Breeze comentou algo sobre o fato de que em Homeland se avisava antes de ir numa casa por causa de situações como aquela. Halfpint riu e disse que estavam apenas começando, Ben ficou um pouco sem jeito.
"Aqui basta usar o nariz, Bree." Ela disse, Breeze sorriu.
"Mas a que devemos essa honra?" Ben perguntou, Breeze me olhou.
"Mudas. Principalmente daquela sua planta roxa. Eu e Quinze lutamos por causa dela sabia?" Eu disse, Ben me olhou surpreso.
"Uma plantinha tão sem vergonha como aquela?" Breeze franziu o cenho.
"Sem vergonha?" Halfpint riu.
"Meu Ben trata as plantas como se elas fossem pessoas. Sem vergonha quer dizer que é muito fácil de brotar." Ela disse, Ben a beijou na boca por uns segundos.
"Venha, vou te mostrar umas mudas muito bonitas que tenho aqui." Ben me puxou, eu fui, pois precisava dar um ar casual à coisa.
Durante mais de meia hora, Ben fez embalagens para vários tipos de plantas e eu acabei gostando de imaginar a casa de Breeze cheia de verde. Quando ele disse que Flora quando era bebezinha gostava de colocar as folhas na boca, eu imaginei o filhote que Breeze esperava fazendo isso.
"E onde ela está, Ben? Quer dizer, eu sei que ela está em Homeland, mas ela está em alguma casa lá? Eu posso dar uma olhada nela para você." Eu disse.
Ben balançou a cabeça.
"Minha Flora não está em Homeland, Wide. Ela pediu para mentirmos, mas você é um bom amigo, eu me sinto mais a vontade com você do que com os outros." Eu me sentei no chão do jardim, Ben também.
"Eu posso confiar em você?" Ben perguntou e eu o encarei sem saber o que dizer. Por que Simple me mandou ali para tentar descobrir onde Flora estava, mas eu não podia trair a confiança de Ben, não quando ele me perguntava se podia confiar em mim.
"Simple me mandou aqui." Eu disse.
Eu faria o que pudesse por meu amigo, mas eu não podia me perder no processo.
Ben sorriu.
"Eu sei. Embora você realmente gostou das plantas." Ele disse, nós rimos.
"Sim, a casa de Breeze vai ficar linda com elas na varanda." Eu disse.
"E você sentirá que há um pedacinho daqui lá." Ben sorriu. Eu me levantei.
"Eu espero que ela esteja bem. Ele vai continuar procurando." Eu disse, Ben fez uma careta.
"E eu torço para que ele a ache." Ele disse isso baixinho e eu quase deixei o vaso que eu ergui do chão cair.
"O que quer dizer?" Ben fez um sinal de silêncio para mim e disse num tom mais alto.
"Vou te mostrar uma outra planta, essa ficará linda se você fizer um pergolado." Ele disse e saímos do jardim lateral onde estávamos e fomos para os fundos. Havia uma área de churrasco, uma lavanderia e depois disso um monte de árvores, Ben e eu adentramos por aquele bosque e depois de um tempo ele parou.
"Minha mãe e Flora são muito íntimas. Você sabe, mães podem até ser amigas de suas filhas, mas as avós conseguem ir além por que você pode contar tudo para uma avó." Eu não sabia disso, mas balancei a cabeça concordando.
"E mamãe e papai foram em Homeland a algum tempo e me disseram que Flora estava estranha. Eu e Halfpint decidimos na hora ir atrás dela e quando chegamos lá, Flora não estava em Homeland! Eu liguei e perguntei onde ela estava, ela disse que precisava se afastar mais. Pint ficou revoltada, ela está sofrendo muito com esse distanciamento da nossa filhote, então Flora disse que ia passar aqui. Ela passou, Wide. E eu posso ser só um humano, eu não sei de muita coisa mas eu conheço a minha filha e quem passou a noite aqui não parecia ser ela. Halfpint ficou com a mesma sensação, mas elas conversaram muito e Flora convenceu Halfpint de que precisa ficar longe. E desde então estamos dizendo que ela está em Homeland, mas eu acho que ela não está lá." Ben suspirou.
"Você só pode fazer machos, não é? Pois fique bem satisfeito com isso." Ele disse.
"Você poderia ligar para ela?" Eu perguntei, ele tirou o celular do bolso, discou e colocou o aparelho no viva voz.
"Pai?" A voz de Flora soou no aparelho, eu olhei para Ben, ele me olhou como se dissesse ' viu?', eu disse:
"Oi, Flora." O aparelho ficou em silêncio.
"Nove pai? Tudo bem?" Ela disse, mas sua voz estava vacilante.
"Sim, querida. Eu só pedi para seu pai ligar por que você sumiu." Eu disse.
"Eu não sumi! Estou em Homeland." Ela disse, eu olhei para Ben, meu amigo tinha uma cara super preocupada.
"Flora, você sabe que Simple tem como saber se você está em Homeland ou não. E ele me disse que você não está lá." Se ela soubesse o quão difícil foi para conter Simple! Se ela imaginasse que ele paralisou todos em Fuller, que Honest e Candid tiveram que lutar com ele e que eu tive de segurá-lo, se ela soubesse o quanto ele rugiu e rosnou e mordeu e arranhou! Eu estava todo dolorido ainda.
"Por que ele se importa?" Flora perguntou e eu tive de ser sincero.
"Por que ele te quer. Quer tanto que se concentrou no seu cheiro e ele sabe que você não está em Homeland. Onde você está, querida?" Eu fui direto ao ponto.
"Eu não o quero. Diga a ele que fique longe." Ben me olhou e eu assenti. Não era Flora. Era a voz dela, mas não era ela.
"Vou dizer. E você não vai me contar onde você está?" Eu perguntei.
"Não. Diga a papai e mamãe que eu os amo e que vou ligar todos os dias, mas não vou dizer onde eu estou. Pelo menos por enquanto."
"Por que tudo isso, minha filha? Por que você está longe de nós? Você corre perigo!" Ben disse meio desesperado.
"Eu não pareço Nova Espécie, papai! E fora da Califórnia as pessoas nem lembram da nossa existência." Ela disse.
"Flora! Volte agora! É uma ordem!" Ben disse.
"Eu sinto muito, papai. Eu vou voltar, mas não agora. Eu te amo." A linha ficou muda, Ben olhou para mim, ele parecia desamparado.
"Ligue para John. Ele pode trazê-la." Eu disse, Ben sorriu triste.
"Eu queria tanto que ele e ela ficassem juntos. Mas Simple entrou no meio e agora..." Ele ergueu as mãos e as deixou cair, desanimado.
"Simple a ama." Eu disse.
Ben sorriu de novo, um sorriso ainda mais triste.
"Ama mesmo? Diziam que ele amou Cassie, mas ele machucou muito o pobre coração dela. Colocou Hush no meio e graças a Deus deu tudo certo, não a ele. Eu espero mesmo que ela tome juízo e volte."
Eu e ele voltamos, Breeze estava na cozinha comendo com Halfpint, as duas falavam sobre bebês, eu beijei o topo da cabeça dela quando entrei.
Na saída, Ben me deu seu aparelho celular, disse que era para levar até James, que talvez James pudesse achá-la.
Enquanto dirigia de volta ao apartamento de Breeze eu pensava no que me incomodou tanto ao falar com Flora. Talvez fosse uma bobeira, mas ela me chamou de Nove pai, mas antes, ela me chamava de Nove. Ela se 'referia' a mim como Nove pai. Estranho.





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