FOUR | THING

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Ao passarmos pela pequena porta de aço, ficamos esperando morrermos sufocados com o ar contaminado ou cairmos duros pela radiação, mas nada disso aconteceu.

Então, nós finalmente contemplamos a superfície e comemoramos, totalmente extasiados. O sol era quente e incomodava os nossos olhos quando os dirigíamos a ele. O céu era uma mistura de tons acinzentados e alaranjados.

- Conseguimos! – alguém gritou e todos nós gritamos juntos, nos abraçando.

- Vocês estão sentindo isso? – uma garota negra perguntou. Seu nome é Christine, se eu não me engano. – O ar é puro – ela fechou os olhos e respirou fundo, fazendo todo nós a imitarmos.

- Já era de se esperar, visto que o nosso oxigênio foi reduzido cinco por cento a cada década – eu comentei e, quando notei o que acabara de fazer, me xinguei mentalmente.

Todos me encararam. Meu disfarce tinha ido por água abaixo.

- Como assim? – quem eu suspeito ser a Margot, perguntou confusa.

- Ao contrário do que o capitão pregou para vocês, os nossos recursos estão acabando há muito tempo. Por isso, criaram tantas regras idiotas com punições tão severas. O conselho queria uma desculpa para conseguir matar mais gente e poupar mais recursos. – expliquei de forma simples, eu sabia daquilo porque minha mãe já foi auxiliar de um dos organizadores antes da tragédia com o meu pai.

- Quem é você para falar assim do conselho? – Carter se dirigiu a mim com os olhos estreitados e com os braços para trás, como um soldado – Não é um dos recrutas, então, o que você está fazendo aqui? – ele finalmente percebeu e todos me avaliaram dos pés à cabeça.

- Eu te conheço. Você é uma Baker! Mataram o seu pai porque ele foi burro o bastante para engravidar a sua mãe de novo – Karl resumiu minha vida em poucas palavras e eu precisei respirar fundo para não lhe dar um soco.

- Você é louca? Não pode estar aqui – uma garota ruiva se pronunciou com os olhos arregalados.

- O quê? — eu ri sem humor — Vão me mandar descer, agora? Eu já estou contaminada com toda essa merda de radiação de qualquer maneira – os confrontei de forma debochada enquanto cruzava os meus braços. Eles me encaravam como se eu fosse louca.

- Que tal se a gente te matar? Você nem deveria estar aqui mesmo – Karl estendeu a arma em minha direção e todos se assustaram.

- Então atira – eu o desafiei, dando mais um passo e colando minha testa no cano de sua arma. Karl a engatilhou, pronto para estourar minha cabeça, mas eu me obriguei a não dar nenhum passo para trás. Eu não iria recuar.

- Ninguém vai matar ninguém! – Carter interveio, abaixando a arma de Karl – A nossa missão é saber se a superfície é habitável e, para isso, teremos que cobrir a maior extensão de área possível – ele explicou em alto e bom tom para que todos escutassem – Então deixem de agir como crianças e vamos andando! – ele gesticulou e saiu na frente do grupo, nos guiando.

- Você teve sorte – Karl sussurrou em meu ouvido ao passar do meu lado, esbarrando propositalmente seu ombro no meu.

Começamos uma caminhada longa. Estávamos todos estupefatos com o que a terra havia se tornado depois da Grande Guerra. Edifícios, hospitais e quaisquer construções ou estavam destruídas ou estavam enterradas em uma areia avermelhada. Havia viadutos por todos os cantos, que também serviam para trens.

- Nós podemos parar um pouco? – perguntou um menino gordinho, ensopado de suor e ofegante, depois de pelo menos uma hora de caminhada.

- Não – gritou Carter na frente do grupo. Me aproximei do garoto que estava parado e curvado tentando recuperar o fôlego.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora