Epílogo

2.6K 301 208
                                    


Abri os meus olhos ao que parecia ser a primeira vez em muito tempo. Precisei de alguns minutos para conseguir focalizar minha visão e não me sentir mais incomodada pela luz branca forte que vinha da lâmpada presa ao teto. Engolindo em seco, senti a garganta arranhar, o que me fez levar meus dedos instintivamente até o local, onde havia um curativo feito recentemente. O braço que movimentei doeu, foi então quando notei a agulha enfiada nele que me conectava à um soro. Tinha muitos fios ligados ao meu corpo e aquela sensação estava me deixando claustrofóbica. Por isso não pensei duas vezes antes de começar a arrancá-los enquanto sentava na cama. Puxei os grudados ao meu peito por último e uma máquina do lado da cama onde eu estava começou a fazer um barulho infernal, que atraiu a atenção de quem quer que fosse que estivesse me monitorando.

Uma mulher morena de óculos e de jaleco branco entrou no quarto às pressas para conferir o que acontecia e, quando me viu acordada, quase desmaiou. Ela puxou um rádio do bolso e falou algo que eu não entendi, depois se apressou em calar a máquina infernal.

— Aonde...— minha voz rouca me assustou e as minhas cordas vocais doíam, então precisei forçar a garganta para conseguir terminar a frase: — Aonde eu estou?

— Precisa continuar na cama, senhorita Baker, já vão vim lhe informar de tudo — ela tentou me impedir de levantar da cama, mas eu empurrei o seu braço, me levantando mesmo assim. Minhas pernas bambearam e, para a minha vergonha, precisei da mulher a minha frente para conseguir manter o equilíbrio.

Olhei para o meu próprio corpo, que camisola ridícula era aquela que haviam me enfiado dentro? O que diabos havia acontecido?

Então uma figura loira entrou no quarto às pressas, as bochechas vermelhas e o cabelo com um novo corte logo me familiarizaram a menina à minha frente.

— Margot? — Se não fosse pela mulher morena, eu teria caído, mas graças a ela eu só me sentei na cama ao perder as forças nas pernas.

— Ninka, você acordou! — Constatou o óbvio, parecendo incrédula com sua franjinha.

— O que...— engasguei.

— Não force a garganta, você precisou ficar entubada para se alimentar — explicou o motivo do meu sofrimento ao falar.

— O que merda tá acontecendo? — forcei mesmo assim, a fazendo sorrir ao balançar a cabeça negativamente — Por quê diabos eu tava com uma sonda na garganta?

— Ainda bem que continua a mesma — então se sentou ao meu lado, me obrigando a virar para ficar de frente para si — Você está apagada há um mês — arregalei os olhos, o quê? — Qual é a sua última memória? — puxou meu rosto para perto de si e puxou para baixo uma das minhas bochechas, enfiando uma luz no meu olho, checando alguma coisa.

— Eu não sei — fechei os olhos com força, demonstrando o quanto aquela luz dos infernos incomodava — Lembro de estarmos na Capital e estávamos prestes a ir embora, talvez?

— Basicamente — ela puxou um aparelho do seu pescoço, o conectando aos seus ouvidos e levando a outra extremidade ao meu peito — Respira — mandou e eu assim fiz — Isso foi quando você conseguiu levar os conselheiros, o Carter e o corpo de Wakanda até o ponto que havíamos marcado — ela esclareceu de maneira rápida a minha memória e minha mente foi encaixando o resto — Expira — pediu e eu o fiz com todo prazer, sentindo o meu peito e a minha costela doerem, o que fez Margot me explicar o que aconteceu comigo a seguir — Depois você caiu. E foi quando notamos que você estava machucada. Muito machucada. — ela olhou por cima do meu ombro para um ponto aleatório, parecendo se lembrar — O seu corpo tinha marcas das armas de choque, o que nos levou a acreditar que foi torturada quando conseguiu entrar na capital — quando nossos olhares se encontraram, ela soube que era exatamente o que tinha acontecido, então se levantou irritada — Mas que droga, Ninka! Por que não nos disse nada? Se tivesse nos contado, poderíamos ter cuidado de você antes! Poderia ter saído da capital quando a gente foi se encontrar com a Cleo e cuidariamos de você!

Ninka Baker e Os RecrutasWhere stories live. Discover now