EIGHT | FIGTH

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Assim que o sol nasceu, Carter tratou de acordar todos os recrutas. Ou quase todos, visto que eu cochilei uns trinta minutos durante toda a noite.

- Não vai te fazer bem – Aiken disse ao meu lado, amarrando seus cadarços.

- O quê? – perguntei confusa, ajeitando a jaqueta de meu uniforme e a vestindo.

- Você não pregou os olhos a noite inteira e pegou três vezes o turno de vigia – observou e eu ignorei o fato dele ter prestado atenção nisso.

- Insônia – menti, dando de ombros.

- Mortes acontecem constantemente aqui fora, você tem que se acostumar ou não vai dormir por um bom tempo – ele disse, como se soubesse de tudo o que se passava dentro da minha cabeça.

A verdade é que todas as vezes que tento dormir, minha mente me faz relembrar as três mortes que presenciei até agora, de todos os mínimos detalhes. Eu fecho os meus olhos e fico com medo de ser a próxima. E eu não posso morrer agora. Minha família precisa de mim.

- Eu estou bem – menti mais uma vez, saindo de perto dele.

- Vamos lá, pessoal! – Ayla apressou o grupo, carregando a sua arma e a engatilhando. Ela tirou um dispositivo de dentro da mochila e encaixou no cano do revólver, um silenciador.

- Só tem quatro mortos aqui na frente, Capitão – Amon informou ao Carter.

- Nós cuidamos deles. Tentem sair em direção ao norte, sem chamar a atenção dos outros mortos desta vez – Aiken disse, tirando um facão da mochila.

Sem delongas, ele e sua irmã saíram pela mesma janela que entraram na loja de conveniência. Aproveitamos para puxar o freezer e sair pelos fundos, a área estava limpa.

Caminhamos em formação até chegarmos em um trilho de trem, onde encontramos Aiken e Ayla com as camisas sujas de gosma preta.

- Que belo estrago – eu brinquei.

- Eu sei que você quer nos abraçar – Aiken disse com os braços esticados.

- Se você chegar perto de mim, eu chuto suas bolas – avisei em um tom sério e ele recuou, abaixando os braços. Ayla gargalhou.

- Vamos seguir os trilhos até a próxima cidade – ela informou ao Carter que ordenou que o grupo prosseguisse.

- Por que só até a cidade? Aqui parece mais tranquilo – Victória perguntou ao Aiken enquanto andávamos. Ela estava certa, só tínhamos a companhia de um céu nublado e de algumas aves que, às vezes, voavam bem perto de nossas cabeças. O resto do lugar era coberto por mato alto que escondia alguns esqueletos e veículos abandonados.

- Nas cidades, os trilhos não são expostos assim. Eles ficam por dentro de túneis que são lotados de mortos durante o dia. – Ele explicou.

Caminhamos todos bem atentos durante horas. Usei esse tempo para estudar os meus companheiros.

Carter parece sempre estar muito pensativo e, apesar de não demonstrar, ele está cansado e se sentindo culpado pelas mortes. Ele foi escolhido como capitão da equipe, então se sente responsabilizado por cuidar dos recrutas e de trazer uma esperança para casa. É por isso que fez uma decisão tão rápida a respeito do Distrito Federal, nós temos menos de um mês para voltarmos para casa com uma resposta para todos os nossos problemas.

Os irmãos, por outro lado, parecem despreocupados e acostumados com a vida que levam. Eles brincam entre si e conversam algumas vezes, quando não estão verificando suas armas.

Charles anda admirando o que o mundo se tornou, eu vi que ele tem um bloco de notas onde escreve durante a noite. Ele se dá bem com a maioria dos recrutas, especialmente com Margot que troca sorrisos quase que a todo instante.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora