THIRTY | GOODBYE

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Toc toc — Carter disse na porta, pedindo minha permissão para entrar.

Eu estava sozinha no escuro, sentada na cadeira giratória da sala do gerente. Todos estavam em um acordo de silêncio, então tudo o que eu escutava era os meus pensamentos perturbados.

Concedi com um aceno de cabeça, dando permissão ao garoto para entrar e se escorar na mesa em minha frente.

— Você está bem? — arquei uma sobrancelha com a sua pergunta — Pergunta idiota, foi mal — eu balancei a cabeça, como se dissesse que estava tudo bem — No que está pensando?

Suspirei e lhe encarei.

— Na pior forma de torturar o conselho — confessei, lhe arrancando um sorriso — Me desculpa pela sinceridade, mas a primeira coisa que eu vou fazer quando ver o seu pai, vai ser socar aquela cara de merda dele.

— Ainda bem que dizem que puxei a minha mãe — Ele brincou, me fazendo sorrir. Um tempo depois disse: — Sinto muito por toda essa situação.

— Eu também — escorei minha cabeça na cadeira e abaixei o olhar para as minhas mãos entrelaçadas sobre o meu colo — Às vezes eu fico pensando em qual de nós será o próximo ou se ainda sobrará alguém para voltar para casa.

— Deixa disso, Baker. Eu não vou deixar que mais ninguém morra. — ele garantiu, mesmo sabendo que não poderia. E foi isso que eu o respondi.

— Você sabe que não tem como controlar isso — olhei nos seus olhos — Essas merdas vão acontecer. Toda essa carnificina em prol de um bem maior. — eu ri sem humor — É engraçado termos que nos sacrificar para os outros poderem viver.

Carter ficou em silêncio. Pensativo. Talvez refletindo sobre o quão enganado estava ao sempre apoiar o nosso conselho. Eles sabiam que um bando de adolescentes não sobreviveria por tanto tempo, mas mesmo assim os enviaram para cá. Ok, eu sei que vim por escolha própria, mas eu esperava ter um mundo para explorar e não esse caos pós-apocalíptico que estamos vivendo, parece até um filme antigo que deu errado.

— O Charles acordou — Victoria avisou na porta, quebrando a nossa conversa silenciosa.

Eu me levantei junto ao Carter e seguimos a ruiva até a outra sala, onde meu amigo era o centro das atenções.

— Olha só se não é o meu mutante favorito — o meu comentário fez com que todo mundo me olhasse espantado, menos o Charles que sorriu com a brincadeira de mal gosto — Isso é o remédio? — perguntei ao me sentar na ponta do sofá.

Margot estava ajoelhada ao lado dele, enfiando uma seringa com algum líquido em seu braço.

— Não, os que vocês trouxeram estavam vencidos demais para podermos usar — ela respondeu.

É, eu já tinha imaginado.

— Uma pena, mataria você mais rápido — brinquei novamente, arrancando dele uma breve risada que veio acompanhada de uma tossida.

Ele virou a cabeça para o lado e cuspiu no chão o sangue preto que estava tomando conta de todo o seu corpo.

— Então, o que é isso? — tentei mudar a atenção de todos que agora estavam com olhares de pena para o garoto.

Eu sabia que Charles não gostava daquilo. Ele estava extremamente desconfortável por causa de todo o clima fúnebre que estava ao seu redor nas suas últimas horas de vida. Ele estava constantemente sendo cuidado e todos estavam sempre com os olhares preocupados, com medo de que ele se transformasse a qualquer instante.

— Uma mistura de água, açúcar e sal que você trouxe — Margot disse os componentes.

— E vão servir para tirar a febre dele? — quis saber, embora não estivesse realmente interessada.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora