SEVENTY ONE | RITUAL

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A aldeia durante a noite se reuniu em frente à grande tenda para realizar o ritual que eles sempre faziam antes de uma grande guerra. Todos usavam vestimentas brancas, porque era um símbolo da purificação que acontecia em seus espíritos durante o processo.

Olga me contou que os aldeões tinham orgulho de serem grandes guerreiros, eles achavam que morrer lutando pelo que acreditavam era uma honra e que seriam recompensados pela Mãe deles, A natureza, ao voltarem para terra de onde supostamente vieram.

Wakanda também estava presente, mas, diferentemente de todos os outros, ela usava uma capa de pele de tigre e uma coroa feita com as penas caídas de seu gavião. Antes de dar início ao ritual, ela me chamou em frente à todos para discursar, o que foi um pedido que eu havia a feito minutos antes de todo mundo se reunir.

Parada em frente à multidão de olhos selvagens, tomei fôlego e comecei a falar o que eu precisava falar:

— Eu não pretendo tomar muito do tempo de vocês, então prometo ser rápida — avisei e raspei a garganta — Eu quis vim falar com vocês, porque eu sei que não entrariam nessa guerra com vontade se não soubessem o real motivo pelo qual ela existe em primeiro lugar — olhei para os líderes das tribos que estavam em uma fileira perto do trono de madeira de Wakanda — Eu sei que pensam que a Capital não é um problema de vocês, porque eu também pensava a mesma coisa. Eu achava que o Distrito era só um lugar diferente da minha casa com pessoas diferentes de mim. E é, mas também é um lugar perigoso com pessoas perigosas e gananciosas. E eu só aprendi isso quando eles bombardearam o meu povo enquanto eles dormiam. Queimaram o lugar que eu chamava de casa e o invadiram para matar a minha única família sem ela nem saber o que acontecia, sem nem terem como se defender. — contei, sentindo meu coração bater mais forte ao relembrar dos corpos sem vida — Pode não ser agora ou nem em vinte anos, mas, eu garanto, vai acontecer o mesmo com vocês. Porque vocês são pessoas fortes que ocupam terras férteis. Em algum momento eles irão querer usar suas habilidades e irão fazer isso contra a vontade de vocês, os tornando escravos. — vi as pessoas começarem a ficar incomodadas — É isso o que querem? Abdicar de uma guerra agora para morrerem covardemente mais tarde? É assim que querem viver? No escuro? Porque eles vão vir. E vão arrancar as suas crianças da cama e vão usá-las em experimentos para achar uma cura para a morte. Vão matar os seus anciões por os acharem velhos demais e sem serventia. E os soldados vão usar as suas mulheres como diversão e os seus homens como escravos. Então eu os pergunto: — alterei a minha voz, a deixando mais grave e mais alta — Aldeia, vocês vão deixar que isso aconteça?

RARA! — eles gritaram com raiva.

"Não!"

— Então lutem ao meu lado! Derrubem a Capital! — pedi, os encorajando.

EYI! — gritaram em coro, como resposta, com as lanças levantadas e começaram a cantar um "uh-uh-ah" como um hino de guerra.

"Isso!"

— Bom trabalho, filha de Adão. O sangue deles agora está nas suas mãos. — Wakanda falou em meu ouvido quando eu passei por ela para sair dali e deixar que o ritual prosseguisse como deveria.

Meu deus, mulher! Você sabe mesmo como animar as pessoas para irem a guerra. — Aiken brincou assim que cheguei perto o bastante dele e de Olga, que estavam assistindo tudo de longe.

— Eu só espero que dê certo, nunca iria me perdoar se tudo isso fosse em vão — suspirei, sentindo meus ombros pesarem ainda mais do que antes.

— Não será, criança — Olga tentou me tranquilizar, mas, nessa altura do campeonato, nem mesmo suas visões positivas me deixariam menos tensa.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora