Quinhentos anos após uma terceira guerra mundial sangrenta que levou a humanidade perto de sua extinção, o mundo se tornou um lugar totalmente diferente do que conhecemos atualmente.
Uma terra onde a tecnologia e os costumes primitivos andam lad...
Voltei para a sala do gerente, onde estavam alguns recrutas, e comecei a arrumar as mochilas.
— Baker? O que está acontecendo? — Carter perguntou pelos outros.
— Temos que dar o fora daqui — eu disse, fechando a minha mochila e a pondo nas costas.
Fui até a parte traseiro do birô, fazendo com que Karl saísse da cadeira giratória e me olhasse como se eu fosse louca. Vasculhei uma gaveta, onde eu sabia que iria encontrar uma garrafa de uísque antigo.
— E o que você vai fazer com isso? — Carter tentou acompanhar meu raciocínio.
— Vou transformar esse lugar no inferno que ele é — eu sorri com suas expressões assustadas.
— Estamos prontos — Aiken comunicou no corredor, ele estava ao lado de Ayla que já estava equipada para sair dali.
— Então vamos começar a festa — eu abri a garrafa e dei um gole, sentindo o líquido velho e quente descer rasgando pela minha garganta.
Comecei a despejar o uísque pelo chão a medida que andava, fiz uma trilha e fui para a outra sala.
— Baker, eu acho que deveríamos conversar sobre isso primeiro — Carter veio atrás de mim, preocupado.
— Não temos que conversar, temos que sair daqui. O nosso tempo está acabando, a tempestade já passou e esse lugar tá ficando cada vez mais cheio de mortos. É uma matemática simples, capitão. — derramei o líquido sobre a mesa e pelas paredes do local, me aproximando do sofá onde Margot estava abraçada com o corpo sem vida do Charles.
Ela parecia em transe ao encarar o rosto do meu amigo, pois nem havia percebido que estávamos ao seu lado.
Em um ato de coragem, joguei o líquido por cima do corpo, o que fez a loira sair de cima dele e gritar.
— O que, diabos, você pensa que está fazendo? — ela cheirou Charles e fez uma careta — Uísque?
— Vamos sair daqui — resumi tudo enquanto derramava um pouco mais do líquido pelo sofá.
— Não podemos ir! Temos que enterrar o Charles ou você não se importa com isso também? — a provocação me fez parar de andar para lhe encarar.
— Enterrar o charles? — eu ri incrédula e cruzei os braços — E aonde enterraríamos o Charles nesse fim de mundo?
— Eu...eu não sei, eu não pensei nisso, mas não podemos deixar ele aqui — ela começou a falar afobada, ficando nervosa novamente — Podemos levá-lo conosco e enterrá-lo na nossa nova casa, ele merece isso. Ele não pode ficar aqui e...— a interrompi.
— Margot! — ela parou de falar — Isso nunca daria certo. Eu quase morri enquanto corríamos, o que acha que vai acontecer quando um bando de mortos nos atacar enquanto carregamos um defunto?
— Eu não vou deixar ele aqui! — rosnou entredentes e eu precisei respirar fundo para me acalmar.
— Então cremaremos ele — sugeri.
— O quê?
— Vamos queimar tudo isso. Deixamos que ele fique aqui e queime com o lugar. Todos os nossos mortos no bunker eram cremados, menos o meu pai que foi jogado na fossa como indigente, então tecnicamente estaremos seguindo a nossa tradição — eu tentei convencê-la, mas tudo o que ganhei foi a sua repreensão, que veio pelo olhar.
— Aí meu deus, você é louca! — ela disse — Eu não vou queimar o meu namorado!
— O seu namorado está morto, Margot! — eu disse em alto e bom tom — Se alguém aqui está louca, esse alguém é você! Olhe para ele! Está morto! Você estava abraçando um defunto!
— CALA A BOCA! — ela gritou irritada com os olhos marejados.
— Ele já foi, Margot! Isso é só um corpo, o Charles se foi! — insisti.
— PARA! — ela colocou as mãos nos ouvidos e chocou suas costas contra a parede, onde escorregou pela mesma enquanto chorava.
— Ninka, por favor, já chega! — Victoria pediu, também chorando.
Suspirei e encarei a minha amiga encolhida no chão, o que eu estava fazendo?
— Margot? — chamei baixinho enquanto me aproximava dela.
— Me deixa em paz! — pediu no meio de um soluço, o rosto vermelho pelo choro.
— A última coisa que o Charles falou comigo foi sobre você — eu consegui chamar sua atenção enquanto me sentava ao seu lado, a menina enxugou o nariz na manga do seu vestido e me encarou — Ele me fez prometer que eu cuidaria de você, custe o que custar.
— Ele...— ela engoliu o choro — Ele fez?
— Fez — eu afirmei — E era isso o que eu estava tentando fazer. De um jeito bem errado, mas estava. — expliquei com a minha voz mais mansa — Nós precisamos continuar, Margot. Não podemos ficar aqui para sempre, as nossas famílias precisam de nós e também não podemos levá-lo conosco. Você sabe disso e ele também sabia. O Charles nunca iria nos atrapalhar, ele nos apoiaria a seguir em frente.
— Eu sei — ela fungou, enxugando a poça embaixo dos olhos com as mãos — É só que é difícil.
— Eu sei disso — passei o meu braço pelos seus ombros — mas precisamos seguir, estamos ficando sem tempo.
Ela assentiu e respirou fundo, tentando controlar a respiração.
— Me desculpa por todas as coisas ruins que eu te disse, eu não te odeio de verdade — ela murmurou baixinho e apoiou a cabeça no meu ombro.
Sorri, apoiando minha cabeça na sua.
— Eu sei que não. Ninguém consegue me odiar, sou perfeita demais para isso — brinquei, lhe arrancando um riso fraco.
— Temos um problema! — Amon disse ofegante parado na porta da sala.
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Amo uma amizade
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