TEN | SHIT

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Permaneci um bom tempo conversando com o Aiken, apenas paramos quando Carter chegou repentinamente no quarto.

- Desculpem se interrompi o casal, mas está na hora de trocar de turno com alguém – Carter usou um tom debochado, sua voz estava extremamente rouca e seu rosto inchado. Sem dúvidas, ele acabara de acordar.

- Não somos um casal – foi a primeira coisa que eu respondi.

- Bem que ela queria namorar um cara tão legal como eu, parceiro – Aiken brincou, batendo levemente no ombro do Carter que tratou de se esquivar.

- Não somos parceiros – Carter afirmou com os olhos estreitados e eu vi Aiken travar o maxilar. Eles ficaram se encarando por alguns segundos e pareciam que iam se matar a qualquer momento.

- Ok. Muita testosterona em poucos metros quadrados. – Eu segurei o braço de Aiken – Sua vez de ir ter pesadelos – eu disse lhe empurrando em direção a porta.

- Shh. Cala a boca. – Ele mandou, parando de andar, e eu arregalei meus olhos.

- Não me manda calar a boca – retruquei com raiva.

- Não, é sério. Tem alguma coisa errada. – Ele constatou, virando o rosto brutalmente para a janela. Carter viu sua inquietação e decidiu imitá-lo.

– Merda! – o ouvi resmungar, depois de observar algo do lado de fora.

- O que foi? – perguntei preocupada quando vi Carter engatilhar a arma. Aiken segurou a minha mão e me puxou para o batente da porta para vermos o que acontecia no térreo. Me assustei ao ver alguns homens dentro da casa, caminhando entre os recrutas e aplicando injeções em seus pescoços.

- Vamos! – Carter disse, caminhando em direção as escadas, mas Aiken lhe puxou de volta.

- Você acabou de ver que são mais de cinco homens, não vamos conseguir derrubá-los – ele disse para o Carter em um sussurro.

- Somos nove, é claro que vamos derrubá-los – Carter retrucou como se fosse óbvio.

- Está vendo aquelas injeções? – Aiken apontou para o homem que aplicava uma delas em Charles – Aquilo é uma droga poderosa que vai fazer o seu grupo apagar por horas – ele explicou – Então somos só nós três.

- Quem são eles? – perguntei, também sussurrando. Os homens usavam roupas em um tom amarronzado, pareciam velhas. Alguns escondiam seus rostos com capuzes.

- Um grupo radical de andarilhos. Eles raptam qualquer pessoa que possa servir como escravo para levá-la as aldeias. Lá, eles a trocam por comida ou água. – explicou observando as ações dos homens que começaram a amarrar os recrutas desacordados.

- Não posso deixar que os troquem por comida! – Carter disse querendo avançar para atacar, mas Aiken o puxou novamente, desta vez com mais força.

- A minha irmã está lá embaixo dopada junto aos seus recrutas. Você acha mesmo que eu vou deixá-la virar escrava? – perguntou irritado, o segurando pelas golas do casaco verde musgo – Se quer tanto salvar os seus amigos, pare de agir como um suicida – ele soltou Carter.

- O que sugere que façamos, então? – Carter quis saber, irritado por ter sido confrontado.

- Seja lá o que tem em mente, faça rápido, porque eles estão subindo – os avisei quando vi dois andarilhos se separarem do restante do pequeno grupo para procurarem por outras pessoas vulneráveis pelo restante da casa.

- Se escondam! – Aiken mandou e nós o obedecemos. Tentei ver algum objeto que servisse como esconderijo, mas não encontrei.

Entrei dentro do banheiro sujo procurando por um lugar para me esconder, quando ouvi um dos andarilhos entrarem no quarto. Uma mão me puxou para trás do boxe que, na verdade, era uma cortina com desenhos de peixes. A pessoa que me ajudou era, surpreendentemente, o Carter que me puxou para mais perto dele quando o andarilho veio checar o banheiro. Estávamos com os corpos colados, torcendo em silêncio para não sermos pegos. Era uma situação desconfortável que se tornou mais longa do que planejávamos quando o maldito do andarilho decidiu utilizar a privada para fazer suas necessidades fisiológicas. Nos encaramos e a vontade que eu tinha era de gargalhar, definitivamente ficar próxima do Carter enquanto éramos obrigados a sentir um odor terrível era a coisa mais constrangedora do mundo. Ele me encarou e sorriu. Carter Jones sorriu para mim pela primeira vez enquanto ainda segurava minha cintura contra o seu corpo, e eu precisei me controlar para não deixar um suspiro escapar por entre meus lábios. O que posso fazer? A última vez que estive tão perto de um menino desse jeito foi há anos.

Ninka Baker e Os RecrutasWhere stories live. Discover now