SIXTY THREE | SUICIDE

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Não sei bem como eu saí do Bunker ou como fui parar em uma cama de hospital em um quarto privativo na base militar, mas tenho certeza que foi o Aiken quem me levou, porque a única coisa que eu me lembro era dos seus olhares carregados de preocupação e pena.

Também não sei como ou quando exatamente adormeci, mas, quando acordei, tudo dentro de mim havia parado de doer.

Eu não sentia nada, como uma maldita boneca de porcelana, totalmente oca. Era só um vazio. Aquela bomba arrancou a parte vital de dentro de mim; o que me mantinha motivada. O que me mantinha viva.

Deve ter sido por isso que quando me sentei na cama e enxerguei a arma - talvez - esquecida na mesinha ao meu lado, eu a peguei. A destravei com rapidez e puxei o cão para trás, a preparando. Então parei e a avaliei entre meus dedos, considerando o que deveria fazer. A virei em minhas mãos e deixei o seu cano apontado em direção ao meu rosto.

— Está descarregada — uma voz surgiu da escuridão, me assustando.

Ayla ligou as luzes do cubículo onde estávamos e se mostrou parada ao lado do interruptor com a ajuda de uma muleta encaixada embaixo do seu ombro machucado.

— Eu não ia...— ela me cortou antes que eu mentisse.

— Ia sim — me contradisse — Eu sei que ia, porque eu faria a mesma coisa se perdesse a única família que me resta.

— Já que me entende tanto, por quê não deixa uma munição do meu lado e sai do quarto? — sugeri, embriagada pela morte, e semicerrei os olhos em sua direção.

— Porque, primeiro, meu irmão não me perdoaria — ela disse como se fosse óbvio — e, segundo, você ainda tem muito pelo o quê lutar.

— Tenho, é? — debochei, duvidando daquilo.

— Não me diga que esqueceu de todos os seus amigos e de tudo o que passaram até chegar aqui — a menção deles me fez trincar o meu maxilar.

— Se eu não consegui ajudar a minha família, quem disse que conseguirei ajudar os recrutas — abaixei meus olhos para a arma em minhas mãos — Além do mais, eles vão conseguir se virar sozinhos.

Escutei a risada incrédula da Ayla e, logo depois, os seus passos. A loira veio até mim e parou em minha frente.

— Não pensei que fosse o tipo de pessoa que abaixasse a guarda e desistisse no primeiro obstáculo — debochou, atraindo minha atenção.

— Obstáculo? — eu a encarei irritada e me levantei — Eu perdi a porra da minha família!

— E dai? — ela encolheu os ombros, sem parecer se importar — Eu perdi os meus pais quando tinha dez anos. Eles só não me mataram, quando se transformaram, porque o Aiken os matou antes de conseguirem chegar até mim!

— Você não entende — eu balancei  a cabeça e andei para o outro lado.

O meu peito estava apertado e, na minha garganta, um bolo crescia. Eu não ia chorar. Não na frente dela.

— Não entendo o quê? Que você é egoísta?

— Egoísta? — me virei com os olhos arregalados, a raiva dissipando qualquer vestígio de lágrimas.

— Você não foi a única que perdeu a família, Ninka. Supera! Pelo menos você tá livre pra seguir com a sua vida do jeito que quiser enquanto os seus amigos estão dentro daqueles muros, sabe-se lá deus onde, sem nem saberem que os pais deles estão mortos ou, muito menos, o que vai acontecer com eles! — cuspiu a verdade na minha cara.

— Como, em sete infernos, eu posso ajudar alguém se a única coisa que eu quero fazer é enfiar a merda de uma bala na minha cabeça? — perguntei entredentes, apontando com a arma para o local ao qual me referia.

Ayla suspirou, parecendo querer se acalmar e me acalmar também.

— Querer se matar não é sinal de fraqueza, Ninka, muito pelo contrário. Significa que você não tem medo de morrer. E é de uma pessoa assim que os seus recrutas precisam pra saírem daquela droga de lugar. — me disse — Pensa assim: se as coisas derem errado, na pior das hipóteses, você vai morrer. E, bom...— ela sorriu — Não é como se você tivesse algo a perder, não é mesmo?

Sustentei seu olhar por um tempo, sem saber o que responder.

— Se quer mesmo se matar nesse quarto no fim do mundo, eu não vou te impedir — ela começou a andar para trás — Mas, se você considerar a ideia de salvar a vida dos seus amigos, então tem roupa limpa na mesa onde você pegou a arma e tem um banheiro compartilhado no final do corredor. Nós quatro estaremos te esperando no segundo andar para discutir estratégias de como acabar com aquele lugar e resgatar os seus amigos.

Dito isso ela me deu as costas e saiu do quarto, me deixando sozinha com os meus pensamentos divididos entre o meu lado suicida e o meu lado como líder.

O que venceu não, necessariamente, anulou o outro. Ao invés disso, me deu forças pra fazer uma última grande coisa antes de morrer. Eu botaria o distrito no chão, faria cada um daqueles guardas pagarem pélas vidas que foram tiradas. E eu já tinha uma ideia de como faria isso.

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Ninka mood:

Eu sei, tô sumida

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Eu sei, tô sumida.
Mil desculpas.
Eu tô com bloqueio criativo e agora voltou às aulas (a minha escola é integral, então estudo até tarde), mas eu prometo tentar postar. Talvez demore um pouco para voltar a ter três capítulos por semana, mas farei o meu melhor.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora