SIXTY SEVEN | RING

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Os aldeões me deixaram dentro de uma cabana com outras mulheres, que começaram a me despir no minuto seguinte sem a menor cerimônia.

Elas me lavaram e me esfregaram com raiva em uma banheira redonda de madeira, e me vestiram com uma de suas roupas de couro, que podia ser resumida em um bustiê tomara-que-caia e uma calça muito bem ajustada ao meu corpo. Uma delas chutou a dobra de minhas pernas, me fazendo cair de joelhos no chão. Então se pôs sentada em um banco baixo atrás de mim e puxou os fios pretos do meu couro cabeludo com toda a força que tinha, arrumando o meu cabelo em duas partes: uma solta e uma trança lateral. Enquanto isso, outra se pôs em minha frente com uma tigela de barro com um líquido vermelho dentro e começou a passá-lo em meu rosto e corpo.

Esperei pacientemente até que todo o processo de cuidados dolorosos terminasse. E ele se encerrou com uma grande e farta refeição, da qual me esbaldei. Talvez ficasse com indigestão por comer tanto em tão pouco tempo? Talvez, mas que se dane! Essa poderia ser a minha última refeição e eu não a desperdiçaria por nada.

— o jẹ akoko — um aldeão apareceu na entrada da cabana, fazendo com que eu me levantasse da mesa improvisada e respirasse fundo antes de seguí-lo.

"Está na hora"

A aldeia em si estava quieta, pelo menos pelas ruas em que passávamos. A noite já havia chegado e tudo o que iluminava o nosso caminho eram as tochas nas mãos dos aldeões que me cercavam até o local exato do combate, o centro da aldeia.

Como da outra vez em que estive em uma luta, os aldeões guardas faziam uma arena improvisada em círculo onde as barreiras que a delimitavam eram seus próprios corpos protegidos atrás de escudos grossos e altos. Haviam tochas espalhadas para iluminar o local. Uma banda estava posta por perto, composta por homens e mulheres com instrumentos antigos feitos de madeira e peles de animais. E eles começaram a tocar seus tambores assim que fui jogada no meio do círculo.

Ajeitei minha postura e bati as mãos em minha roupa, afastando o pó da terra que havia me sujado. A multidão me encarava em ódio e em silêncio, todos com os rostos, pescoços e braços pintados de preto, quase como se quisessem desaparecer na escuridão.

Então, de repente, um buraco se abriu na parede de escudos e de lá surgiu uma mulher negra com uma roupa semelhante à minha, seu cabelo crespo parecia uma juba o que combinava com a máscara de tigre que cobria metade do seu rosto. A mulher se posicionou dentro do círculo, fazendo a arena se fechar novamente e eu fechar o meu pulso com força.

Até que a banda parou e a mulher tirou a máscara, me chocando ao perceber que a mulher ninguém menos era do que Wakanda. Seu rosto estava pintado com tinta branca, assim como os seus braços.

Arqueei uma sobrancelha. Eu sabia que o costume da aldeia era os líderes botarem seus melhores guerreiros para os representarem, então por isso me assustei, assim como o restante da multidão que encarou aquilo como um ato de amor e coragem, e vibrou em apoio.

Mas, mais surpresa ainda fiquei quando um barulho de cajado sendo chocado contra o chão chamou a atenção de todos, que se calaram. E, em cima do altar, ao lado do trono de madeira estava Olga em toda sua plenitude de mulher velha e sábia. Ainda com a mesma capa preta que cobria seu corpo do primeiro fio do seu cabelo grisalho até os dedos dos seus pés.

— laanu a ko ni ipasẹ nipasẹ iwa-ipa lati wa awọn ayanmọ ti awọn obinrin nla meji wọnyi — discursou ao seu povo antes de virar o rosto sem olhos em nossa direção — Que a mãe proteja vocês!

"Infelizmente, estamos reunidos por meio da violência para descobrirmos os destinos dessas duas grandes mulheres"

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora