SIXTY SIX | VILLAGE

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Já fazia algum tempo que eu havia pulado do caminhão em movimento para conseguir prosseguir com o meu plano, agora eu estava caminhando floresta à dentro. Longe de qualquer vestígio da cidade e seus escombros.

O sol estava perto de se por, então a temperatura consequentemente caiu, o que me fez pegar o lençol dentro da minha mochila e o usar como uma manta por cima da minha cabeça e do meu corpo para me proteger do vento gélido, até porque os únicos raios solares que atravessavam as altas e densas árvores não eram suficientes para me esquentar.

Eu estava andando há, pelo menos, uma hora quando comecei a escutar um barulho diferente do canto dos pássaros e do vento soprando contra as folhas das árvores. O barulho era sutil, quase que imperceptível, como se algo se partisse ou se arrastasse aqui e ali. E vinha dos dois lados da minha trilha.

Parei.

Observei algo se mexer por de trás das árvores e outro se mexer por cima delas. Sorri. Até que fim.

Deixei minha mochila deslizar pelo meu braço e cair no chão de barro.

— Olá, rapazes — o meu cumprimento fez dois homens surgirem das sombras com lanças apontadas em minha direção.

O que vinha do lado esquerdo era grande e negro. Os seus músculos, os seus pelos e a curvatura da sua coluna me fizeram o comparar com um gorila. Já o que vinha do lado direito era careca e menor, porém tão forte e musculoso quanto.

De repente, alguém caiu em minha frente. O terceiro homem que estava escondido entre os galhos nas alturas. Esse tinha o cabelo trançado e a barba tão cheia de forma que alcançava o seu peito pardo coberto de tatuagens tribais.

— Vamos logo com isso, rum? — os apressei e comecei a ficar desarmada, tirando meus cintos cheios de acessórios e os jogando aos seus pés.

Mas, para a minha surpresa, eles continuavam imóveis com as lanças apontadas em minha direção.

— O quê? Não estão me reconhecendo? — fingi estar ofendida, então puxei a manta, a jogando no chão e fazendo os homens finalmente tomarem uma iniciativa.

Primeiro eles arregalaram os olhos, talvez por não esperarem por mim, e depois os mesmos olhos se encheram de ódio, os fazendo agir.

— Gba rẹ! — o de barba ordenou para os outros dois que se aproximaram com rapidez e me tomaram pelos braços, mesmo eu estando completamente rendida.

"Peguem-na!"

— Calma aí, garotão! Você tá me machucando! — avisei enquanto era forçada a ficar de joelhos.

— Wakanda yoo dun lati ri ẹniti o pada — o homem a minha frente sorriu diabolicamente.

"Wakanda ficará feliz em ver quem voltou"

E então proferiu um soco em meu rosto, fazendo eu tombar com a cabeça para trás e fechar os olhos ao sentir a tontura repentina.

Filho da puta — sussurrei de dor ao sentir o sangue escorrer pelo meu nariz.

Cuspi em seu pé o sangue que havia se aglomerado em minha boca.

— Terminou? Não tenho todo tempo do mundo — disse impaciente, eu sabia que a agressão era fruto da revolta pelo incêndio que eu indiretamente causei na aldeia.

— o yoo ni gbogbo akoko nigbati o ba ṣe aye si apa keji — debochou.

"Terá todo tempo do mundo quando fizer a passagem para o outro lado"

Eu também sabia que seria jogada aos leões assim que pisasse naquele lugar novamente, todos lutariam entre si para saber quem me mataria. E, no fundo, eu sabia que merecia. Além do mais, eu precisava dessa raiva para conseguir o que vim buscar.

Ninka Baker e Os RecrutasWhere stories live. Discover now