EIGHTEEN | STICK

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Então, como o combinado, eu fiquei no lugar da garota para lutar.

Wakanda voltou a se sentar em seu trono, tendo em seus olhos um pequeno brilho de divertimento. Ela fez um sinal para os aldeões que soltaram o morto em minha direção sem que eu se quer me preparasse. Como ela havia dito, eu não tinha nenhuma arma e, por isso, estava em desvantagem.

Quando o morto me atacou, eu precisei segurar os seus ombros para manter uma distância entre nossos corpos. Senti sua pele enrugada e pálida se desfazer como uma gosma sob meus dedos, me fazendo empurra-lo com toda a força que tinha para o afastar de mim.

Eu precisava de algo para matá-lo, então minha mente foi rápida em projetar um plano para usar a lança atravessada em seu tronco em meu favor.

Então, quando o morto me atacou novamente, eu desviei de seus braços e me pus atrás dele. Empurrei suas costas com uma mão enquanto tentava puxar a ponta da lança com a outra. Mas tudo o que eu consegui foi me cortar, fazendo com que eu soltasse um xingamento pela dor e me desconcentrasse do morto que aproveitou para agarrar o meu braço livre.

Entrei em desespero quando o vi se curvar para estraçalhar o meu braço com os seus dentes, então, com a mão ensanguentada, eu puxei sua cabeça na direção contrária do meu braço. O que acontecia era que o morto tinha quase dois metros de altura e sua força era bem maior do que a minha, por isso, eu não aguentei o segurar por muito tempo e tive que utilizar minha perna para chuta-lo.

Com os curtos segundos que ganhei, consegui tirar suas garras de mim antes que ele me arranha-se. Quando ele se aproximou de novo, usei sua velocidade e força de vontade contra ele, pois assim que chegou perto o bastante de mim, eu saí do caminho e empurrei suas costas para ele continuar no trajeto que fazia. O que resultou no choque entre seu corpo e um dos escudos. Quando o morto notou que atrás das coisas redondas de metal e madeira haviam pessoas vivas e, consequentemente, mais cérebros para se alimentar, ele se esqueceu de mim. O que foi bom já que com ele de costas, tentando alcançar os aldeões que tentavam o afastar a todo custo, foi mais fácil puxar a lança presa em seu tronco.

O meu movimento o fez lembrar de mim e para a minha sorte, ou pela falta dela, a ponta da lança havia ficado presa dentro do morto. Então tudo o que eu tinha era um bastão leve de madeira do meu tamanho.

— Mas que merda! — praguejei e acertei um golpe com força na cabeça do morto, o que o fez cair de lado.

— Usa o bastão, Baker! — ouvi Carter gritar.

— Eu não vou conseguir atravessar isso na cabeça dele! — devolvi no mesmo tom, observando a figura em minha frente se recuperar da queda para me atacar novamente.

— Faz uma ponta! — Charles gritou no meio da multidão.

Não tive tempo de raciocinar em muita coisa, pois o morto me atacou e eu precisei o afastar de novo com golpes. Girei o bastão ao redor do meu corpo e acertei suas pernas, o desequilibrando.

— Faz alguma coisa, Baker! — Karl mandou.

— Você consegue, Ninka, pensa! — Victória gritou em incentivo.

— Usa sua força! — Margot gritou.

— Quebra no meio! — Amon sugeriu no mesmo tom que os outros e só então eu entendi o plano deles.

Usei a minha perna e, batendo com força contra ela, consegui quebrar o bastão em dois pedaços. Eu tinha me machucado, mas agora eu tinha não só uma, e sim duas pontas.

Esperei o morto me atacar e cravei uma das pontas em cima da sua clavícula para ter apoio na hora de acertar a outra, mas todo o plano foi por água abaixo quando ele se impulsionou com um pouco mais de força e, por causa da perna machucada, eu me desequilibrei e caí com ele em cima de mim.

Então, tudo pareceu ficar em câmera lenta quando a outra parte do bastão com ponta saiu rolando para longe de mim e eu precisei afastar o morto com os braços. Tudo ficou distante, os gritos dos meus amigos e os grunhidos que o morto fazia a medida que tentava aproximar sua boca de meu rosto. Minha cabeça me fez ter uma lembrança de infância, quando o Wally tinha um ano e estava aprendendo a andar. A risada que ele deu quando meu pai o pegou nos braços e o jogou para cima e o choro da minha mãe por sua felicidade genuína. Então eu lembrei que estava aguentando tudo aquilo até ali, não por mim, mas por eles que estavam em casa precisando que eu achasse uma segunda chance para que eles possam viver. E eu não ia decepciona-los.

— Levanta, Baker! — o grito autoritário do Carter me tirou do meu pequeno transe, o morto estava perto demais do meu rosto e eu precisava sair dali.

Com o canto dos olhos, enxerguei uma pedra a um braço de distância. Então, em uma atitude arriscada de muita coragem, eu tirei um dos meus braços do corpo do morto, o fazendo ficar a centímetros de mim, mas me dando tempo o suficiente para alcançar a pedra e acertar sua cabeça com toda a força que eu tinha.

O morto caiu ao meu lado e eu rolei, ficando por cima dele, que ainda se debatia para me machucar. Segurei seus braços com as minhas pernas e o seu pescoço com a minha mão livre, fazendo pressão para baixo com todo o meu corpo para deixá-lo preso embaixo de mim.

— Eu não vou morrer hoje, desgraçado — eu sussurrei entredentes e bati com a pedra em sua cabeça repetitivas vezes até que a abri, fazendo o seu sangue preto jorrar por todos os lados, inclusive no meu corpo e rosto, mas eu não parei de bater nele até que tivesse certeza de que ele estava morto definitivamente.

Quando eu terminei de estraçalhar todo seu cérebro, eu me levantei e olhei fixamente para Wakanda que assistia tudo com sua pose superior de sempre. Joguei a pedra, que tinha um lado - pelo qual eu a segurava - manchado pelo meu sangue e o outro - que usei para acertar a cabeça - manchado pelo sangue preto do morto, na sua frente e fiz uma referência debochada.

— Está feito — eu disse convencida.

mu u wá — disse de repente e se levantou.

"Tragam-na"

Dois aldeões trouxeram a garota, para perto dela, que se ajoelhou. Antes que eu me desse conta do que estava acontecendo, ela disse:

isimi ni alafia, ẹjẹ ti ẹjẹ mi — e então cortou o pescoço de uma ponta à outra da garota que me olhou enquanto agonizava e caía sem vida nos pés de Wakanda.

"Descanse em paz, sangue do meu sangue"

— O que você fez? — eu gritei com os olhos arregalados e tentei avançar em sua direção, mas os seus guardas me seguraram.

— O que eu fiz? — ela debochou — O que você fez — me corrigiu — você interferiu no destino dela e ela pagou com a vida por isso — disse fria e com os olhos semicerrados.

— Você é louca! — eu gritei com os olhos marejados e me debati, tentando me livrar dos homens que me seguravam.

mu u ati awọn omiiran kuro — disse aos guardas que começaram a me arrastar para longe dali.

"Levem para fora ela e os outros."

Olhei uma última vez para trás e os olhos sem vida da garota me culparam por sua morte.

O que foi que eu fiz?

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora