TWENTY EIGHT | MARGOT

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A tempestade havia começado e o Charles, acordado. Ele, ao contrário do que esperávamos, não teve uma reação exagerada ao saber que estava prestes a morrer. Ele parecia ter aceitado, diferentemente de Margot que estava disposta a fazer o impossível para salvá-lo.

— O que você está fazendo? — Victoria perguntou para ela que estava se equipando com as nossas coisas.

— Eu vou buscar remédio para ele — respondeu, certa disso.

— Não — eu parei na entrada da sala, impedindo sua passagem.

— Ninka, eu amo você e você sabe disso, mas, se você não sair daí, eu vou te machucar — ela me ameaçou.

— Não vai não — cruzei os braços, lhe desafiando.

Margot...— Charles a chamou, fraco, tentando fazer a loira mudar de ideia.

Ele estava piorando mais rápido do que prevíamos. Seu corpo estava ficando com outro aspecto, como se ele fosse uma cobra trocando de pele. As veias do seu tronco agora também estavam evidentes, num tom quase negro.

— Não! — ela o cortou e voltou a me encarar — Sai da frente, Ninka, eu tô avisando.

— Margot, não tem cura — Victoria disse com pena.

— EU SEI — explodiu, mas respirou fundo, tentando manter a calma — Droga, eu sei disso! Eu não sou louca. — ela olhou para cada um que estava naquela sala, todos pensavam que ela havia perdido o juízo por querer ajudar o Charles daquela maneira desesperada — Eu só quero deixar ele o mais confortável que eu conseguir. Eu quero que seja o menos doloroso possível. — ela olhou para Charles que estava mais pálido do que antes — Ele não merece sofrer desse jeito.

— Você não vai sair daqui — eu pontuei, firme.

— Por que está fazendo isso? Pensei que fôssemos amigas! Pensei que ele significasse alguma coisa pra você! — me apontou, extremamente irritada.

— Não entende? É justamente por isso que não posso deixar que vá — eu retruquei no mesmo tom, abaixando a guarda — Você não vai durar um segundo com aquelas coisas lá fora e você sabe disso! Estará se suicidando e para quê? Só causará mais dor para ele! — a fiz repensar em sua decisão — O Charles precisa de você aqui, Margot. Com ele. E é por isso que sou eu quem vai buscar os remédios.

O quê? — ela me olhou numa mistura de espanto e admiração.

— Não, Baker! Sem chances! — Carter quis intervir.

— Sinto muito, capitão, mas isso não cabe a você decidir — o poupei de todo o discurso que viria a seguir sobre a forma que eu arriscaria minha vida por uma situação que não estava em meu controle.

— Não se preocupe, eu vou com ela — Aiken se dispôs a me ajudar, colocando suas luvas de couro.

— Eu também darei cobertura — Ayla se juntou a nós, colocando munição em sua arma.

— Só preciso da sua lista — eu disse diretamente para Margot que me abraçou com força.

— Obrigada, Ninka! Muito obrigada! — sussurrou no meu ouvido e eu sorri.

Ela me entregou a lista com os nomes de alguns medicamentos e materiais, também tinha nomes de outros produtos caseiros que poderiam substituir os remédios.

Ninka...— Carter se aproximou de mim enquanto eu prendia o meu cabelo, colocava minha mochila nas costas e pegava o meu facão sobre a mesa.

— Eu preciso fazer isso — eu lhe disse antes que ele pudesse me impedir.

— Eu sei — ele murmurou e sorriu sem mostrar os dentes — Eu só ia pedir para que tomasse cuidado.

— Eu vou — eu coloquei a lista dobrada no bolso traseiro da calça e peguei uma lanterna.

— Pode deixar, eu cuido dela — Aiken se aproximou da gente, me fazendo suspeitar que ele estava escutando a conversa.

Ele se colocou no meio de nós dois para pegar outra lanterna que também estava em cima da mesa.

— É melhor que cuide mesmo — Carter disse, soando ameaçador, e então deu as costas.

— O triângulo amoroso já acabou? Podemos ir? — Ayla debochou, parecendo animada para arriscar a própria vida.

Aiken me encarou, perguntando silenciosamente se eu estava pronta.

Suspirei.

— Vamos nessa — eu disse, saindo da sala e seguindo pelo corredor.

Amon veio atrás de nós. Ele ficaria responsável pela porta, para fechá-la e abri-la quando chegássemos.

— Uma batida melódica e então saberá que somos nós — Aiken determinou, puxando seu facão do cinto modificado preso ao seu tronco.

— Boa sorte — Amon desejou ao abrir a porta de emergência.

— Obrigada. Nós vamos precisar. — eu o respondi ao sair com os gêmeos.

Assim que ele fechou a porta atrás de nós, um barulho estrondoso veio a seguir, me fazendo encolher os ombros pelo susto.

— Mas que merda foi essa? — perguntei irritada por demonstrar o meu medo.

— Trovão — Ayla sorriu de lado, segurando uma risada.

— Isso é bom — Aiken disse e logo explicou: — Vai atrair os mortos para o lado de fora e os raios vão acabar os matando de vez.

— Não são muito inteligentes, são? — eu brinquei e ele me respondeu com um sorriso, antes de começar a caminhar.

— Não, não são.

Ninka Baker e Os RecrutasWhere stories live. Discover now