As rosas ficam especialmente bonitas nesta época do ano. O perfume cobre todo o jardim junto ao manto de pétalas, tão graciosas quanto a mais fina seda do imperador.
Puxo uma com meus dedos e a levo até o nariz, sentindo seu maravilhoso aroma. Eu as invejo. Um dos espinhos perfura meu dedo, então afasto rapidamente a mão e vejo uma pequena gota de sangue carmesim.
— Gōngzhǔ está ferida?
— Não, Lihua. Estou bem!
Sorrio para uma de minhas servas que me acompanha hoje e ela suspira aliviada. Ela sabe o que lhe aconteceria se eu me ferisse, por isso preciso ter cuidado com cada passo que tomo.
Volto a caminhar enquanto o sol da manhã aquece minha pele. Fecho meus olhos por alguns segundos e retiro uma mecha de cabelo que caiu sobre meu olho e sorrio antes de continuar a caminhar pelo jardim. Procuro ignorar as dezenas de guardas espalhados por todos os lados. Apesar de não terem me falado, ouvi boatos sobre os rebeldes e espiões, então temo pela vida de meu pai e minhas irmãs, sabendo que além dos muros existem esses tipos de monstros. Por isso, nem eu, nem minhas irmãs mais novas temos a permissão para sair dos limites do Palácio.
Suspiro cansada, viro as costas para o muro e começo a retornar.
— Gōngzhǔ, o professor de música chegou!
Dou meu melhor sorriso em sua direção. Eu não gosto de ser chamada apenas de princesa, mas sei que não adianta insistir. É como se o fato de dirigirem a palavra a mim as condenasse imediatamente e nunca entendi esse temor. Nunca passou por minha mente feri-las de modo algum e meu pai é um homem justo.
Caminho com as costas retas e as mãos juntas à frente do corpo como me fora ensinado. Subo os degraus de pedra polida e vou até a sala onde aprendo música. Ao entrar vejo o homem à minha frente se erguer e me fazer uma reverência. Como sempre, sorrio para ele e retribuo o gesto. Dois guardas ficam parados junto à porta durante todo o tempo em que estou praticando a flauta Dizi.
Passo o restante de minhas horas livres com minhas irmãs ou realizando pequenas tarefas dadas a mim.
Após tomar um chá quente no final da tarde, vou para meu quarto onde Lihua solta meus cabelos em frente ao espelho e sinto as mechas negras caírem até minha cintura. Ela os escova pacientemente enquanto eu apenas encaro meu reflexo no espelho.
Quando a lua já começa a aparecer ela me ajuda a tirar minha roupa e prepara um banho quente. Sinto meu corpo relaxar ao entrar em contato com a água. A água está perfumada e sinto o perfume grudar em minha pele. Suspiro algumas vezes e quando a água já está ficando morna saio dela e visto minha longa camisola. Sinto o tecido macio cair sobre minha pele e agradeço por não precisar dormir com trajes tão desconfortáveis como aqueles que vestia antes. Deito na cama e sinto ela aconchegar todo o meu corpo. O vento bate forte contra a janela e Lihua garante a mesma está trancada para que o vento não entre.
— Precisa de mais alguma coisa, Gōngzhǔ?
Sua voz sai como um sussurro. Como se eu já estivesse adormecida, volto meu rosto para ela e sorrio.
— Não preciso. Tenha uma boa noite, Lihua!
Ela faz uma reverência mas ouço um leve boa noite antes que ela saia. Fecho meus olhos e espero que o sono me preencha.
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A queda de Líang
RomanceNa China antiga, os segredos eram mais valiosos até mesmo que o ouro. Conspirações e traições rodeiavam o grande império Líang. Alheia a tudo o que acontece fora dos muros e da tirania dos soldados e do próprio pai, Líang Mei, primeira princesa do...