Capítulo 44

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Vento bate contra a janela fechada de madeira me fazendo despertar, a primeira coisa que vejo são estrelas apesar de estar em um lugar fechado, por alguns segundos me perco neles mas então a fria realidade me puxa contra vontade e como o vento gélido de inverno ela me atinge, sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e tento me sentar então percebendo que estou o segurando por sua manga, seus olhos continuam fixos em mim como sempre inexpressivos mas sinto sua mão em minhas costas me ajudando a sentar, o solto rápido, percebendo que novamente posso me mover enxugo minhas lágrimas.

Sinto meu corpo doer mas nada se compara a dor da traição em meu peito, vejo o homem se virar ainda sentado ao meu lado e pegar algo fora do meu campo de visão, não estremeço, sinto como se algo faltasse dentro de mim, como se tivesse me tornado uma casca vazia e simplesmente não me importo com o que ele fará comigo.

Ele coloca uma colher a frente de meus lábios, sinto o aroma de um ensopado de costela com raiz de lótus invadir minhas narinas, o aroma que sempre me foi agradável faz meu estômago revirar.

- Coma!... Sabe que não serei gentil se tiver que forçá-la.

Ouço suas palavras suaves e firmes entrarem por meus ouvidos, penso em como uma voz, um sorriso e o calor de um abraço podem ser enganadores, lentamente abro a boca deixando que me alimente. Sinto o alimento quente passar por minha garganta colher após colher e então engasgo, sinto o gosto salgado das minhas lágrimas se misturar ao sabor da sopa, tusso várias vezes e sinto sua mão repousar em minhas costas.

- Não serei hipócrita ou tentarei te consolar falando palavras aveludadas e agradáveis sobre o ocorrido, mas desejo mantê-la segura, não sei o motivo ou a razão mas a protegerei e manterei ao meu lado.

Ergo meus olhos para de encontro com os seus, então em dias pela primeira vez sinto algo retornar para mim, uma pergunta que nada tem a ver com Yáng Shun, e sim o por que de um príncipe e general de Yan estar interferindo no que poderia causar uma guerra, qual seria seu interesse pessoal? Ou qual seria o interesse para seu reino? O que eu teria a oferecer para qualquer um deles? Aperto minhas mãos sobre os cobertores.

- Agora você fica em silêncio?

Vejo suas sombrancelhas ficarem mais próximas, sua voz fica levemente mais ríspida, quase imperceptível mas noto a leve mudança em sua expressão.

- Não foi fácil resgatá-la.

Enxugo meus olhos mais uma vez, a cada vez que minha mente vagueia para o palácio suas palavras me puxam de volta para o presente e fazem minha mente voltar.

- Espera um agradecimento Diànxià?

Reconheço que me resgatou, eu não suportaria respirar tendo o homem que destruiu minha vida ao meu lado como marido, respiro fundo, não sei qual sua intenção mas me sinto exausta, mesmo sem as imagens em minha mente as lágrimas ainda rolam por meu rosto.

- Não... não me agradeça pois..

Fecho meus olhos assim que ele volta a falar, sinto os cílios molhados antes de o interromper.

- Obrigada.. obrigada por salvar minha vida, sei que odeia a mim assim como odiava minha família,mesmo assim... Não tenho como agradecer assim como não tenho mais nada, eu pagarei minha dívida a você com minha vida e o servirei se assim desejar.

Digo entre lágrimas, não há mais vida, expectativas ou um futuro para mim, então pelo que resta eu lutar?

- Tenho centenas de servas e milhares de soldados, por que precisaria que me service?

Escuto suas palavras frias e quando abro meus olhos ele não está mais lá, novamente estou sozinha, encolhi minhas pernas contra o peito, cada sombra movimento ou barulho me assusta, há um tapete vermelho no chão, meus olhos se fixam nele ele parece se espalhar como sangue no chão.

A queda de LíangWhere stories live. Discover now