Capítulo 26

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A lua alta no céu e as posturas cansadas dos guardas anunciam o fim da hora do búfalo, a noite fria e o vento como navalhas passam por meu corpo enquanto piso cuidadosamente sobre as telhas tentando não causar ruídos, me espremo contra a parede e evito olhar para baixo enquanto me esgueiro até os muros, a noite está silenciosa e não escuto nada além das batidas do meu coração.

Assim como prometido há um cavalo ao lado no portão leste e curiosamente não há guardas em seus postos, pulo desajeitada e sinto meu corpo se chocar contra o chão, terra gruda em minha roupa já úmida de suor, sinto dor em todo meu corpo mas luto para fingir que ela não está lá levanto e vou até o cavalo de pelagem marrom escuro, não há ninguém em volta a essa hora, a cidade está deserta e os poucos guardas adormecidos em seus postos ou com os olhos pesados de mais para conseguir enxergar mais que um metro a frente de seus olhos.

Me seguro firme acima do cavalo logo que ele começa a correr sem eu ao menos precisar guiá-lo, me seguro nas redeas o melhor que consigo para não cair, apesar de quando criança ter fugido algumas vezes com Yáng Shun as memorias são vagas pelo tempo e não me dão segurança ou habilidades o suficiente em montaria mesmo assim o cavalo parece saber qual caminho percorrer e com leveza ele corre deixando a cidade para trás em pouco tempo, viro meu rosto para trás vendo à distância a sihueta de outro cavalo e sorrio comigo mesma por meu plano ter durado tanto tempo e na hora certa ele ter vindo atrás de mim, apesar de não gostar de me usar como isca as circustâncias me fizeram tomar essa decisão.

O tempo passa e cada vez que olho para trás ele está um pouco mais perto, o barulho do rio faz um arrepio percorrer meu corpo ao trazer memórias a tona. as montanhas ficam cada vez mais proximas escuto o homem atrás de mim gritar para que u pare, logo vejo as primeiras pedras se erguerem de ambos os lados e um volto passar correndo por cima antes de desaparecer nas sombras.

Finalmete o cavalo e seu cavaleiro correm ao meu lado, em meio a escuridão da noite consigo ver seus olhos brilhando e seus cabelos ainda mais escuros que o manto negro da noite, suas mãos me puxam para seu cavalo enquanto ambos ainda correm, sinto seus braços em volta de mim e ergo minha cabeça encontrando seus olhos pouco acima dos meus, meu corpo está molhado de suor e a tempo não consigo ignorar a dor que sinto, mesmo assim me recuso a desistir.

- Me solte!

Grito alto pois não é apenas ele que quero que escute, tento me soltar de seus braços que como toras não se mechem.

- Fique parada, não estamos sozinhos.

Sorrio comigo mesma ao ouvir suas palavras e jogo minha cabeça para trás ecertando seu nariz com força e pulando para o chão, no mesmo momento varias tochas aparecem sobre nós.

- Fique longe da gōngzhǔ!

Escuto a voz de Yáng Shun ecoar poderosamente pelas montanhas e sorrio lembrando da promessa que havia feito e da orgulhosa resposta de Shang Lín.

- Parece que agora tenho o poder de cumprir minhas palavras Xià. Contudo terei que adiá-las por hora já que a alarmante noticia de que Yan está pronta para guerrear contra Líang chegou até mim, infelizmente acredito que tenha poder o suficiente para impedir isso, então eu peço... não eu imploro para que acabe com isso, imploro por meu pai... imploro por meu povo, afinal o povo que mais sofre em uma guerra, os inocentes, as crianças e os idosos, eu imploro por paz eu proponho uma tregua de dois anos entre os três estados.

Ele da um passo a frente logo que termino de falar, seus olhos são de pura furia, não ha estrelas neles e sim trevas que parecem me engolir.

- E se eu não aceitar? O poder que demonstra não é seu!

Abaixo meus olhos antes de novamente os erguer para onde Yáng Shun está e ergo um de meus braços com o punho fechado, o som de cordas sendo puchadas e flechas miradas fazem meu coração acelerar.

- Então não tem o porque de eu adiar minhas palavras, com certeza a morte do principal general de Yan deixaria o povo em luto por tempo o bastante para os dois estados se unirem e esmagarem seu imperador junto com seu exército.

Ele se aproxima mais um pouco e faço um sinal para que não atirem ainda, ele fica ainda mais próximo.

- E o que garante que não vai cravar uma flecha em minhas costas assim que me virar?

Sua voz sai como um suspiro arrepilante que me faz estremecer, reúno o restante de minha coragem antes de respinder, minha visão está pesada e minhas pernas tremulas.

- Apenas minha palavra.

Digo baixo, não por opção e sim por sentir minhas forças se desvair.

- Mulher perversa!

Vejo ele se virar para Yáng Shun.

- Eu aceito a proposta, dois anos de paz mas a mulher volta comigo!

Cambaleio levemente para trás antes de recuperar meu equilibrio e me mantenho em silêncio, sabendo que Yáng Shun não deixará que me leve.

- Acha que tem condições de negociar Shang Lín? Hoje o pouparei graças a gōngzhǔ, não que seja merecedor de tamanha bondade depois de toda dor que lhe causou. Vá embora antes que mande meus homens atravessá-lo!

Ele volta a olhar para mim.

- Acredito que tenha sido uma batalha justa, aceito minha derrota porém nos veremos novamente gōngzhǔ e não me deixarei levar por sua atuação, um dia você provará o amargo que me forçou a provar, não me deixarei levar por sentimentos ou meras emoções e não serei misericordioso.

Sinto algo dentro de mim se apertar e lágrimas lutam para sair apesar de eu não entender o motivo ou mesmo suas palavras sobre sentimentos.

A queda de LíangWhere stories live. Discover now