A queda de Líang

Capítulo 69

É como se mil agulhas fossem cravadas em meu coração, algo parece trancar em minha garganta e minha tristeza transborda por meus olhos. Ainda o vejo partir com sua armadura acobreada brilhando no sol e dezenas de cavalos com seus cavaleiros indo de encontro ao restante do exército, apesar de ter sido a cinco dias.

Enxugo minhas lágrimas, ele voltará dentro de algumas semanas. Sete meses foi o tempo que tivemos juntos, apenas sete meses que passaram como em um único momento, um momento cheio de paixão onde a cada minuto fiquei ainda não apaixonada e me deixei levar pelos meus sentimentos. Mas agora a realidade fria e solitária volta de uma vez.

Dou as costas para a janela depois de horas olhando para o vazio, caminho pela sala cheia de coisas mas vazia de vida, vejo sua cítara e lembro de sua melodia. Me sinto exausta e minha cabeça dói, saio da sala e caminho em direção a biblioteca, me sinto levemente tonta assim que entro e me apoio na mesa a minha frente, enxugo mais uma vez minhas lágrimas e tento me concentrar nos mapas e informações sobre o terreno que Shang Lín irá enfrentar, tento pensar que assim talvez o ajude e talvez diminua meu próprio sofrimento.

Suspiro quando sinto a tontura passar e abro mais um mapa sobre a mesa, toda minha vida conheci o mundo apenas por mapas e desenhos, a leitura deles já é algo comum para mim, passo a mão sobre a linha de divisa entre Yan e Jin, só sorriso de Yáng Shun volta a minha mente para me amedrontar, a dor que ele me causou é como uma ferida que não cicatriza.

Abro um rolo após o outro, muitos dos quais já li quando nova mas jovem de mais para compreender todas as estratégias apenas as usava para coisas fúteis e jogos.

- Gōngzhǔ...

Me viro vendo Li-Wei trazendo uma bandeja, outra serva a acompanha trazendo mais pratos.

- Não comeu nada o dia inteiro...

Sinto o cheiro da carne de porco agridoce e do arroz me causar náuseas e corro até a janela a abrindo, sinto o vento fresco contra meu rosto, olho para cima e vejo as estrelas brilhando, uma lágrima escorre por meu rosto.

- Não estou com fome.

Escuto a porta se fechar e passos vindo até mim, Li-Wei para ao meu lado e coloca uma mão em meu ombro.

- Está tudo bem gōngzhǔ?

Fungo algumas vezes antes de me virar para ela.

- Já pedi pra não me chamar assim, sabe que não é uma serva pra mim... Estou bem só preocupada e cansada.

  Volto a olhar pela janela, de longe vejo três lanternas de kongming vermelhas subir ao céu, uma logo abaixo da outra vindas do mesmo lugar, engulo em seco.

- Está pálida gōng. Jiějiě devo chamar um médico?

Me viro rápido para ela, minha garganta seca e meu coração acelerado com o sinal.

- Não! Preciso de um cavalo agora.

  Digo rápido e alto  Ela faz uma leve reverência e sai parecendo assustada, olho mais uma vez para as lanternas altas no céu.

Ao sair vejo Tiang Ming parado com dois cavalos prontos.

- Eu vou sozinha Tiang Ming.

Digo rápido montando no cavalo sem sua ajuda e já saindo, porém o vejo logo ao meu lado.

- Tenho ordens de te manter segura, e também de ser totalmente leal a senhorita, só vou desobedecê-la se estiver se pondo em risco.

Estou nervosa de mais para argumentar então apenas acelero tentando ir o mais rápido possível pelas ruas quase vazias.

Paro em frente a mesma casa que sei que vieram as lanternas, há o brilho de chamas dentro da casa ainda então entro rapidamente seguida por Tiang Ming. Vejo Qin Tiao se ajoelhar rapidamente e o ajudo a levantar rapidamente o segurando em um dos braços, atrás dele vejo um de meus homens deitado sobre uma cama de palha, ele está enfaixado e as faixas sujas de sangue.

- O que aconteceu Qin Tiao?

Então seus olhos baixos se erguem e ele puxa sua espada apontando para Tiang Ming e me puxa para trás de si.

- Ele está comigo, não vai falar nada do que ouvir aqui não é mesmo Tiang Ming?

Vejo ele apenas fazer que sim com a cabeça então volto para frente dele e abaixo seu braço baixando a espada.

- Eu vim o mais rápido que pude quando vi as lanternas, o que aconteceu? Eu viria em dois dias.

Pergunto já com lágrimas nos olhos, meu coração está apertado por não saber se são notícias para o imperador ou para mim, talvez para ambos.

- Ele foi descoberto quando tentava voltar, acham que está morto, e por muito pouco não está.. mas ele trouxe isto.

Ele estende um pequeno rolo manchado de sangue, o abro rapidamente e jogo para longe, não pode estar certo, sinto o desespero tomar conta de mim, como ele poderia ter todo esse poder?

- Não pode estar certo.

Me viro para sair mas antes que atravesse a porta volto a ficar tonta e minha visão escurece.