Capítulo 54

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(Líang Mei)

Corro pelos verdes jardins de Líang, as rosas vermelhas balançam no vento, abelhas voam baixo. Estou feliz, todos a minha volta estão sorrindo, uma serva como sempre está me acompanhando.

- Senhorita o imperador solicita sua presença no pátio interno de sua mansão.

Me viro em direção a voz, o soldado que me fala é alto, sua aparência me é familiar, por alguns segundos me perco em seus olhos negros.

- Obrigada.

Digo tentando voltar minha atenção e me afastar de seus olhos cativantes.

- Líang Mei me perdoe, fui egoísta por toda minha vida, mergulhei em ódio e vingança, me forcei a ser como sou, fiz coisas horríveis.. toda vez que fecho os olhos...

Me viro novamente para o soldado ouvindo suas palavras confusas mas que me fazem querer chorar sem ao menos entender o porquê.

- O que disse?

Pergunto com algo trancado em meu peito.

- Pra me acompanhar.. gōngzhǔ..

Olho para ele, não há expressão em seu rosto ele apenas parece frio, o sigo enquanto me guia pelos jardins e corredores que tanto conheço.

- Se puder me perdoar um dia... Sou um tolo por tê-la feito sofrer tanto, apenas abra os olhos e olhe para mim mais uma vez.

Não entendo o que ele diz mas sinto meu peito se apertar, e então de costas vejo meu pai imperial no jardim, antes que pergunte o significado de suas palavras ele não está mais lá.

Ando até meu pai e paro ao seu lado.

- A cada dia está mais bela... Se parece muito com sua mãe, tem suas sobrancelhas.

Ele fala se virando para mim, mas o que ele fala parece algo que já ouvi, é como se soubesse cada palavra que se seguiria.

- Ela era a mulher mais bela e gentil que conheci eu a..

Sinto uma lágrima molhar meu rosto, é o mesmo dia em que ela morreu, anos depois mas o mesmo dia.

- O senhor a amava..

Completo sua frase e ele olha para mim, seus olhos estão avermelhados.

- Sim, foi a única mulher que amei, eu não a merecia mas mesmo assim ela me amou, e você é minha filha, a filha de meu único amor, a jóia mais preciosa que possuo.

Ele acaricia meus cabelos enquanto sorri e então coloca em preso a eles um harpim dourado.

- Era de sua mãe e..

Então sinto meu corpo cair e água o envolver mas logo depois sou puxada para fora dela, um jovem me tira da água, seu sorriso retira minhas preocupações, ele se veste com roupas finas e parece alegre.

- Gēgē..

Me abraço a ele assustada, olho para o lago e então vejo alguns guardas correndo em nossa direção.

- Calma Mei Mei eu sempre vou estar aqui.

Ele me ajuda a levantar.

- Só acorde, pode me odiar, me punir ou matar.

Olho para Gēgē mas ele não está mais lá e sim vejo seu rosto pálido e seus olhos como estrelas na escuridão.

- Por que precisa ser tão teimosa?... O que estou dizendo, eu não deveria tê-la deixado estar em tal situação.

Sinto uma lágrimas escorrer por meu rosto.

- Mei Mei por que está chorando?

Novamente vejo Yáng Shun que limpa delicadamente meu rosto, é noite e lanternas chinesas iluminam a escuridão. Mas então em meio a outras pessoas um homem estende a mão para mim, sua postura impecável e nenhuma expressão, porém o fato de estar ao lado de Gēgē começa a me angustiar, o vejo sorrir para mim e isso faz com que sinta medo, corro em direção ao homem de branco e seguro sua mão.

Sinto meu corpo doer, abro os olhos mesmo com as pálpebras pesadas, há um homem com a cabeça debruçada sobre meu corpo, vejo sua respiração, ele está adormecido, tento me levantar mas meu corpo ainda dói, começo a lembrar do que aconteceu, olho para meus pulsos ainda avermelhados, me pergunto como não estão roxos, meu corpo dói mas a dor é suportável.

Encosto no rosto do homem adormecido, por que ele está aqui? Mandou que me matassem mas agora parece estar cuidando de mim, não entendo tal comportamento. Afasto uma mecha de cabelo do seu rosto e ele agarra meu pulso fazendo com que um leve grito de susto escapa por minha garganta, solto meu pulso com um único puxão e me encolho, olho em volta, estou em seu quarto. Por que estou em seu quarto? Puxo os cobertores cobrindo meu corpo, sinto meu corpo tremer de medo, seus olhos me analisam por alguns segundos e sinto medo do que ele planeja fazer comigo.

- Você acordou... Acordou...

Ele estende a mão em minha direção, tento me afastar mais ainda encontrando a parede em minhas costas, ele para antes de encostar em meu rosto e recua.

- Sinto muito, não quis a assustar.

Sua voz está suave, sua expressão de sempre parece mais abatida.

Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto, não por medo ou por estar com ele mas sim por ter sido apenas um sonho, a poucos minutos estava com meu pai, estava em casa e tudo era como antigamente, mas agora nada mais importa.

- Por que não me deixou morrer? Afinal mandou me matar, acho que deveria seguir em frente quando toma uma decisão ao invés de ficar mudando de ideia.

Digo baixo olhando para baixo.

- Quando mandei que a matassem?... Sinto muito, não há o que eu possa dizer que a faça acreditar em mim, realmente o que fiz foi imperdoável, mas juro que não mandei a matar.

Ele puxa uma adaga e antes que tenha tempo de me assustar ele a coloca em minha mão.

- Nunca menti para você, se não acredita pode se vingar agora mesmo.

Ele segura minha mão e preciona a adaga contra seu peito, lembro de seu ferimento feito por mim, e de seu rosto na caverna, então lembro dele cuidando de mim na pousada e me alimentando. Mesmo que tenha me ferido diversas vezes ainda devo minha vida a ele, e devo por tê-lo me resgastado.

Sinto seu corpo se mover para frente contra a ponta da lâmina afundando sua sua carne na lâmina.

A queda de LíangOnde histórias criam vida. Descubra agora