A queda de Líang

Capítulo 47

Minha cabeça dói, a luz do sol da manhã faz meus olhos doerem, esfrego eles com as pontas dos dedos, me sinto descansada, é a primeira noite em semanas que consigo dormir sem que meu sono seja perturbado, me sento e olho em volta, a campina se estende até onde meus olhos alcançam, há um amontoado de carvão mostrando onde havia uma fogueira, massageio a cabeça dolorida, não lembro de termos parado.

Minha mente parece mais clara e apesar de toda tristeza que assola meu coração ainda estar aqui, consigo pensar claramente, apesar de me sentir suja e traída não vejo mais apenas chamas e sangue, seguro o tecido azul escuro que me cobre, a capa é pesada mas quente. Me sinto cheia de dúvidas sobre o que pode ter ocorrido e sobre o que ainda vai acontecer.

Os pássaros cantam a distância, estou sozinha, poderia facilmente sair e escapar de suas garras mas meu corpo grita para que eu fique. Para onde eu iria? Devo tratar Shang Lín como meu salvador ou captor? Ele não parece querer me machucar, qual seria o motivo disso? Ele teria ordens de me manter viva? Teria algum interesse político? Há alguma maneira de me usar como última descendente de Líang? O que planeja para mim é ainda mais cruel que a morte? Ou Yan..

- Está acordada.. como está se sentindo?

A voz calma atrás de mim faz com que me assuste e interrompa meus pensamentos. Me viro para ele, está parado a poucos metros de mim, me sinto inquieta perto dele.

- O.o que aconteceu?

Vejo ele se aproximar e se abaixar a minha frente, sua mão se aproxima de meu rosto e eu recuo assustada. O que ele está fazendo? Meu coração bate forte, ele olha em meus olhos e então encosta a mão em minha testa.

- A febre baixou, aqui coma.

Ele pega meu pulso rapidamente e coloca uma pequena maçã em minha mão. Antes que eu recuse escuto meu estômago roncar e meu rosto esquentar de vergonha, mordo a maçã.

- Obrigada, o que aconteceu ontem?

Vejo sua postura mudar levemente, as vezes penso que suas leves mudanças de expressão ou em sua postura são apenas fruto de minha imaginação, talvez apenas queira me convencer que há emoções nele, afinal ele é o homem que me sequestrou mas que também me resgatou, o homem que já me machucou mais já tratou de minhas feridas, que já me alimentou e cuidou de mim. Como não haveria sentimentos em seu coração? Espero que me responda mas ele apenas continua olhando para mim, abaixo meus olhos.

- Você desmaiou de febre.. vamos logo já perdi muito tempo esperando a princesa acordar, logo estaremos em Yan.

Ele se vira indo até o cavalo, sua postura é impecável e seu tom de voz não se altera em momento algum, sorrio comigo mesma já acostumada com suas palavras frias, mas ele cuidou de mim noite passada mais uma vez e não consigo nem ao menos lembrar para poder o agradecer.

Me levanto, não me sinto ansiosa para ir a Yan ou reencontrar seu imperador, só de pensar nas cicatrizes deixadas, mas não vou dificultar seu trabalho mais uma vez, afinal por ter me livrado de casar com Yáng Shun eu o pagaria até mesmo com minha vida.

- Tudo bem..

Me aproximo dele mas antes que chegue até o cavalo ele se vira e me ergue pela cintura me montando e logo em seguida monta junto, o cavalo não precisa nem ser induzido a andar, é como se já soubesse o que deve fazer, aperto minhas mãos, sinto um misto de sentimentos crescer dentro de mim, ansiedade, nervosismo, tristeza, medo.

- Wángzǐ... O que vai acontecer comigo?

Por alguns segundos não recebo uma resposta, fecho os olhos e baixo a cabeça, por que ele tem esse costume de não me responder?

- Minhas ordens são de recuperá-la e a levar viva de volta ao imperador, não tenho conhecimento de seus interesses ou o futuras ordens.

Sua voz soa como sempre, não me viro para ver seu rosto que provavelmente está com a mesma expressão de sempre, suas palavras parecem mais sinceras que nunca e isso não me faz sentir mais calma.

- Se... ele o mandasse me matar..... Gostaria disso?

Esqueço até mesmo de respirar ao esperar por sua resposta.

- Não.

Suspiro aliviada, talvez não me odeie o bastante para desejar minha morte.

- Mas o faria?

Arrisco mais uma vez a lhe perguntar, meu coração bate forte e os poucos segundos antes da sua resposta parecem horas.

- Sim.