A queda de Líang

Capítulo 48

(Shang Lín)

Não posso me deixar levar por meros sentimentos por uma mulher, forço minha mente a se manter focada e revejo vez após vez o que seu pai causou em minha família, consigo escutar seus gritos em minha mente e logo isso faz meu coração novamente se endurecer, ela é a última descendente de Líang, jurei me vingar e como última de sua família ela terá que pagar o preço.

Durante o restante da viagem não respondo a mais nenhuma de suas perguntas e logo ela desiste de fazê-las, torturo minha mente revendo minha família borrada pelo tempo, o sangue visto pelos olhos de uma criança poupada apenas por capricho. A raiva volta a possuir meu corpo, sinto raiva de mim mesmo por ter cuidado e desenvolvido tais sentimentos por ela, mas qualquer resquício deles será eliminado de meu coração.

  Porém a pior tortura que poderia afligir meu coração são as lágrimas silenciosas e soluços que a mulher de aparência frágil a minha frente derrama, sei o que ela sente em seu coração e o pesar de sua família, não importa o quão cruel ou odiavel ele era continuava sendo seu pai. Além disso a dor da traição que ela provou pela primeira vez ainda é amarga, não a consolo e tampouco a deixo descansar, não quero que pense que me importo com seu bem estar ou que serei um aliado.

- Wángzǐ...

Escuto sua voz fraca a minha frente no cavalo, ela me chama assim que atravessamos os portões da grande Yan.

- Quieta!

  Digo mais alto que gostaria a interrompendo, guio o cavalo rapidamente pelas ruas cheias de pessoas, comerciantes, escravos e nobres, todos se afastam correndo e se curvam ao me ver passar, qualquer um que fique por meu caminho teme pagar com a vida.

- Comporte-se diante do imperador, lembre-se de sua posição inferior.

Digo próximo a ela, vejo seu rosto virar levemente para meu lado mas o que vejo em seus olhos avermelhados pelas lágrimas não é o medo que esperava encontrar mas junto a sua tristeza há raiva.

- Ele não é meu imperador, como última descendente real de Líang e herdeira direta não vejo como minha posição possa ser inferior, ele não é meu senhor.

Sua voz não estremece nem ao menos uma única vez, sorrio dentro de mim ao pensar em como farei para que tema até mesmo pronunciar Líang em minha presença, porém algo mais profundo dentro de mim guerreia para que não o faça.

Desço do cavalo assim que entro no pátio do palácio principal, alguns soldados correm até mim e eu lhes entrego o cavalo cansado bem como minha espada, não olho nos olhos da garota parada ao meu lado apenas seguro seu braço e a puxo comigo assim que minha presença é anunciada, há grande comoção ao me ver retornando, me ajoelho perante meu rei, mas vejo de canto de olho a mulher em pé ao meu lado.

- Shang Lín, levante-se.

A voz do imperador ecoa por todo grande salão.

- Obrigada Bìxià.

Me ergo e a nossa volta vejo vários oficiais cochichar entre si.

- O grande general Shang Lín retornou mais uma vez vitorioso e trouxe consigo novamente um prêmio para Yan.. isso merece um grande banquete, mandem que aprontem tudo para essa noite ainda.

A grande comoção entre os oficiais em sinal de aprovação, um eunuco corre em minha direção trazendo uma pequena taça de vinho, brindo a sua majestade e então o bebo devolvendo a taça a bandeja.

- Alguém.

Assim que o imperador fala dois homens aparecem a sua frente já curvados, esperando por sua ordem.

- Levem a mulher.

Me viro para Líang Mei, vejo em seus olhos a esperança que eu a salve e dentro de mim dois lobos batalham entre si, um deseja protegê-la e o outro quer apenas ser grato ao seu salvador e vingar aqueles que fizeram mal a sua família, por fim os homens a levam para longe de meus olhos sem que eu nada faça para impedí-los.

- A corte está dispensada até o anoitecer.

Volto meus olhos para o imperador assim que escuto suas palavras e volto a me curvar ao vê-lo levantar.

- Shang Lín me acompanhe em um chá.