Capítulo 15

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 O vento leva os dias consigo, me mantenho acordada noite após noite com medo de fechar os olhos e ao mesmo tempo ansiosa pelo resgate de meu pai imperial, não importa o tempo que passe sou sua filha favorita a joia de seu reino, como ele mesmo me chamara e sei que nunca me deixaria nas mãos dos inimigos. Aos poucos volto a caminhar normalmente, em todos esses dias o assassino não cruzou seu caminho com o meu e agradeço em meu coração por isso.

 Observo pela janela de meu quarto o pátio externo, os soldados estão mais agitados que nos outros dias e suas posições parecem ter sido trocadas, minha rotina tem se mantido a mesma sem poder sair do quarto todos evitam falar comigo, consigo apenas algumas vezes trocar poucas palavras com Li-Wei, apesar de não falarem comigo elas tem me tratado com mais consideração desde que me machuquei, o sol da manhã brilha alto no céu e o vento balança os galhos das arvores em um ritmo que faz meu coração doer, é como se estivessem dançando uma triste melodia. Fecho os olhos cansada e baixo a cabeça.

- Pretende ficar apenas observando ou tem algo a dizer xiongshou?

  Pergunto me virando e olhando para os olhos do homem que já está a algum tempo parado atrás de mim, ele da um passo em minha direção mas não recuo, não tenho para onde fugir.

- Vou levá-la a um lugar, me siga!

 Ele diz e se vira logo saindo de meu quarto, demoro alguns segundos ainda temerosa antes de o seguir, cerro os punhos tentando controlar o nervosismo estará ele me levando novamente para a mansão do imperador? Mesmo com a dúvida perturbando minha mente o sigo, andamos elos mesmos corredores mas desta vez quando saímos no patío interno não ha homens treinando apenas o cavalo e mais dois guardas já montados, ele me coloca no cavalo e monta, me sinto incomodada ao perceber que já estou acostumada.

 A cidade passa rápido por meus olhos, logo tudo que há a frente é um vasto campo coberto por seu glorioso manto de flores, preciso me segurar no cavalo para não cair, ele corre como nunca antes tinha visto. Meu coração bate rápido e fecho meus olhos pelo tempo de um insenso, penso eu. Ele está tentando nos matar? Quando penso em gritar o cavalo reduz e aos poucos, com o coração ainda batendo forte em meu peito, abro os olhos. 

 A paisagem aos poucos muda, há pedras espalhadas e uma rala vegetação que parece lutar para permanecer, estamos em um lugar alto e o vento passa como uma fina lâmina por meu rosto, decido ficar em silêncio e tentar lembrar das dezenas de mapas que estudei em minha infância, então no horizonte, interrompendo meus pensamentos eu vejo fumaça, uma fumaça negra subindo para as nuvens e tingindo o horizonte com sua cor fria. Estremeço ao pensar no que pede causar tanta fumaça, uma floresta? Um frio percorre minha espinha e evito pensar no que mais poderia ser.

 Ao aproximarmo-nos mais meu esqueço até mesmo de respirar, sinto meu corpo ser tomado pelo pânico mais puro, pelo simples terror, apesar de querer chorar as lágrimas não caem, é como se algo as impedisse, talvez o medo. Há casas, ou o que sobrou delas, ainda com brasas acesas, homens correm carregando jarros e baldes de água, gritos ecoam por todos os lados, crianças cobertas por fuligem choram sentadas no chão, mulheres gritam sobre os corpos de seus maridos.

 - Quem fez is.sso?

 Consigo perguntar, minha voz sai trêmula e minhas mãos tremem de pura raiva, teria sido seus homens que massacraram um simples vilarejo?

 Ele para o cavalo e logo após ele descer pulo no chão coberto de cinzas antes que ele me ajude.

- Veja você... Isso acontece a anos já princesa, seu pai mata a todos.

 Ele vira um cadáver com o pé e um grito escapa por minha garganta ao ver um soldado usando o brasão de Líang morto sob seu pé, nego com a cabeça.

- Não é verdade, você está mentindo.

 Ele não nega ou tenta se defender apenas caminha com sua usual postura me deixando parada encarando o rosto do soldado, por vários minutos fico apenas fitando seu rosto e então lentamente me afasto, uma mulher está sentada com o rosto escondido entre as mãos, me aproximo dela.

- Com licença, quem fez isso?

 Não sei bem como perguntar e gaguejo um pouco, ela ergue a cabeça aos poucos e vejo sua expressão mudar totalmente.

-Você! É você mesmo! Eles estavam procurando você!

 Ela praticamente grita e me empurra, tropeço em minhas próprias pernas e caio sentada, antes de levantar vejo várias pessoas se juntarem ao redor.

- É ela!

- É a princesa!

-É ela mesmo?

 Com lágrimas nos olhos começo a levantar mas sinto um pé acertar minhas costelas, solto um leve grito de dor.

- Qual é seu nome?

 Sinto as lágrimas escorrerem e soluços escapam por minha garganta, sinto outro chute e me encolho um pouco.

- Quem é você?

A mesma voz pergunta mas não vejo seu rosto.

- Líang Mei...

  Não minto, se meu pai fez isso a pessoas inocentes eu mereço morrer, se foram meus homens que fizeram isso eles devem vingar suas familia. Sinto meu corpo ser arrastado por alguns metros, abro meus olhos quando me soltam, há um menino de uns dez anos à minha frente.

- Vamos jovem mestre, deve vingar seu povo e sua casa!

 Meu coração bate forte em meu peito ao ver uma adaga grosseira em sua mão, seu rosto está coberto de fuligem e inchado pelo choro, as pessoas a sua volta o incentivam.

- Vingue-nos jovem mestre!

- Deve se vingar!

- Mate!

 O garoto soluça algumas vezes, é como se estivesse em uma luta interna, então ele grita e ergue a adaga sobre minha cabeça, fecho os olhos apenas esperando a dor mas ela não vem, escuto exclamações e abro meus olhos, a lamina está a centimetros do meu rosto e o assassino segura firme o pulso do garoto.

- Não faça isso, não vai agradar ninguém sujando suas mãos, com o tempo você vai crescer e se tornar um grande lider, não deixe o medo lhe transformar em alguém desamparado e sem esperança como essas pessoas e como essa mulher, seja um homem que cuida do seu povo e de sua família assim como seu pai sempre foi.

 Shang fala, e o garoto deixa a lamina cair, cai no chão ao meu lado, seus gritos ecoam e parecem partir meus ossos, me levanto lentamente, Chang está com uma mão sobre o menino o consolando.

- E.E.Eu...

 Tento falar alguma coisa mas não consigo, o homem ergue os olhos para mim, dentre a escuridão deles posso ver como que uma chama ardendo, corro, apenas forço minhas pernas a correrem para longe, não consigo respirar direito, é como se a fumaça quisesse me sufocar, como se as cinzas das historias, historias de pessoas, lembranças de uma vida, de gerações inteiras estivessem me sufocando.

A queda de LíangWhere stories live. Discover now