Capítulo 50

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Tento inutilmente soltar o aperto em meus braços o que faz apenas com que a corda machuque ainda mais meus pulsos, tudo que planejei não saiu como esperava, apenas espero que o homem que me arrasta sem cuidado ainda seja o homem que cuidou de meus ferimentos.

Sinto meu corpo entrar em desespero e me debato tentando soltar inutilmente, pelo que parece uma eternidade luto para acompanhar o passo do cavalo em que ele está. Mas em momento algum imploro ou choro, por misericórdia, me pergunto se há qualquer sentimento no coração desse homem, então o cavalo para, estamos novamente em sua mansão, a sensação de estar presa nesse mesmo lugar faz com que eu falhe comigo mesma, sinto meu corpo fraquejar e minha garganta secar.

Quando ele desce do cavalo não consigo olhar em seus olhos meus olhos se fixam no brilho da lâmina em sua mão.

- O que eu deveria fazer? Te matar? Cortar seus braços e pernas? Não daí você não dançaria... Desrespeitou o imperador na frente de oficiais... deveria bater até..

Então ergo meus olhos para ele, olho em seus olhos negros.

- Não finja que não é pessoal, nunca lhe fiz mal mesmo assim insiste em me arruinar, se vai fazer alguma coisa seja sincero com seus sentimentos, devo minha vida a você e estou disposta a pagar então se deseja a tirar vá em frente... Conhece as tradições de Líang, tenho mais de desesseis anos como posso dançar para alguém que não é meu marido? Não me transforme em uma meretriz. Minha família está morta General não me obrigue a virar as costas para o que me resta de dignidade não me faça desonrar minhas tradições por favor.

Me sinto cansada com suas farsas em que finge se importar, ele parece gostar de cumprir a ordem de seu imperador, não consigo diferenciar seus sentimentos, hora ele parece se importar porém a maioria de suas atitudes mostra que quando penso que ele é bom, sempre que o vejo como o homem que me salvou, cada vez mais me parece uma atuação, não sei o que é real ou não. Sua postura continua a mesma assim como sua expressão, mas a força que ele emana deixa claro sua aprovação. Porém eu não poderia desonrar a memória de minha família ao dançar para alguém que não é meu marido ou meus pais.

- Bom... Não está em Líang. Apenas avise quando decidir obedecer o imperador, não perderei tempo.

Ele se vira puxando a corda ainda presa em meus pulsos, o vento da noite faz meu corpo tremer sob o fino tecido branco que mal cobre meu corpo. Acompanho seu passo tropeçando vez após vez, então ele para abaixo de uma árvore.

- O que vai fazer?

Pergunto pensando em que castigo seria aplicado em uma árvore, afastada de todos. Logo recebo minha resposta quando ele joga por cima de um galho a corda e a puxa erguendo meus braços acima da cabeça, sinto meus pés erguerem mas não sair do chão.

- Ficará aqui sem comida ou água até que mude de ideia..

Ele se vira, mas pela primeira vez noto algo diferente em sua postura sempre calma, há uma certa inquietação, provavelmente apenas uma ilusão causada pela minha vontade de que seja real.

- Shang Lín... O que lhe fiz que não fosse para minha sobrevivência?

Grito para ele mas ele não para ou responde, apenas continua a caminhar calmamente me deixando sozinha na noite fria.

Não demora para meus braços começarem a doer assim como minhas pernas e pés, ele ergueu o bastante para não deixar meus pés totalmente no chão mas não o bastante para todo peso ser deixado nos braços, assim a dor de distribuiu, sinto meu rosto suar pela dor, a noite parece me engolir e por mais que tente apenas memórias ruins vem a minha mente, posso ver o fogo, as chamas, e o sorriso de Yáng Shun.

- Bàba... Eu não o decepcionarei mais uma vez... Mama... Sinto sua falta, prometo que serei mais forte, eu preciso ser mais forte, consegui sair do palácio e estou viva...

Tento pensar no que deu certo e no que deu errado em meu plano, sabia dos riscos de provocar o rei mas nunca conseguiria escapar de lá sem que alguém me tirasse, um plano arriscado mas o único que tinha.

- Vá embora!!

Grito quando mais uma vez meus pensamentos são interrompidos pelo rosto de Yáng Shun enquanto cuidava de mim em sua tenda.

Pior que a dor física que estou sentindo é a escuridão trazendo tudo aquilo que temo de volta para mim, escuto ruídos a minha volta, meu corpo todo estremece com o frio e a dor, as cordas parecem cortar meus pulsos e o peso nas pontas dos pés fazem eles latejar, escuto ruídos a minha volta que me fazem ficar acordada, e a cada vez que o sono é mais forte momentos daquela noite voltam para me perturbar.

A queda de LíangWhere stories live. Discover now