Capítulo 25

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A triste melodia de uma cítara preenche o ambiente e faz meu coração se apertar em angustia aperto firme o mapa e carta em minhas mãos, assim que o médico se virou para pegar mais alguns remédios enquanto me tratava, a jovem espiã que estava como sua ajudante me entregou sem ser percebida a carta juntamente com um mapa dobrado, os escondi rapidamente antes que o velho médico voltasse sua antenção ou visse o pequeno movimento, mas antes que ela recolhesse o braço vi escondido em sua roupa uma adaga semelhante a que deixaram para mim quando acordei nesse lugar.

Eu estava errada não foi Shang Lín apenas para caçoar de mim como se não oferessece ameaça mesmo armada. Foi meu gēgē que a mandou... Ele já estava cuidando de mim.

As tristes notas da música desconhecida fazem lágrimas correr pelo meu rosto, lágrimas de saudades de casa, saudades de minha família e de minha vida, mas também lágrimas de raiva por minha vida roubada e agora meu corpo para sempre marcado.

Enxugo as lágrimas e volto a abrir o mapa analiso cada rota até as montanhas Huá e cada terreno, sei que tal conhecimento não se compara a alguém que conhece o terreno pessoalmente mas em toda minha vida conheci o mundo através dos mapas, preciso da vantagem do tempo ao meu favor, a estratégia se baseia no engano e em tirar vantagens da situação, mas também aquele que não reconhece suas fraquezas não pode ser vitorioso. E preciso admitir que minhas fraquezas são bem mais numerosas que as do inimigo e esse tabuleiro só poderia ser virado se eu conseguisse chegar as montanhas Huá.

Volto a abrir a carta e releio " Yan e Líang estão prontas para começar uma guerra, esperarei nas montanhas Huá, sei que conseguirá escapar, um cavalo estará pronto no portão leste a meia noite." Eu reconheceria essa letra em até mil anos separados, rasgo a carta nos menores pedaços que consigo e os escondo no quarto, é até mesmo difícil andar com as feridas abertas, como conseguirei fazer o que Yáng Shun me pede, sei que ele jamais me abandonaria ele é meu gēgē, crescemos e estudamos juntos e se ele pede para mim ir é por que confia e conhece as mesmas estratégias que estou usando e que passei minha vida estudando e lendo a respeito as escondidas.

Mesmo assim meu limitado conhecimento não se compara ao conhecimento prático em artes marciais que enfrentaria se Chang Lín me encontrasse. Escondo o mapa rapidamente quando escuto passos e sento na cama deixando os lábios entreabertos tento manter a mesma expressão que usei nos primeiros meses que estive aqui.

- Eu trouxe chá, vai ajudar com a dor.

É Li-Wei que entra carregando uma bandeja, dou meu melhor sorriso para ela e levanto demonstrando mais dificuldade do que realmente sinto, vejo uma figura alta parada na porta, Chang, não olho diretamente para ele e apenas finjo não o ter visto, pego o chá e sinto o aroma adocicado invadir minhas narinas, levo aos lábios e tomo um pequeno gole.

- Bom, muito bom Li-Wei, obrigada.

Quando vou levar o chá novamente aos lábios deixo o copo cair no chão espalhando o mesmo, cambaleio para trás, vejo ela tentar me socorrer e impedir que eu caia mas deixo meu corpo amolecer e cair, bato a lateral de meu corpo no chão e sinto uma leve pontada de dor no ombro e alguns cortes em minhas costas abrem mas não faço nenhum som apenas mantenho meus olhos fechados, escuto passos rápidos entrarem no quarto.

-Xiānshēng por favor me perdoe eu não sei o que aconteceu ela parecia bem, será que a dor foi de mais para ela?

Sinto meu corpo ser erguido e colocado sobre a cama, então quando sinto ele se afastar seguro sua roupa ainda com os olhos fechados.

- Por favor, está doendo, por favor...

Balbucio e viro a cabeça de um lado para o outro.

- Vá buscar um médico agora!

Escuto sua voz e ela não está calma como sempre, mantenho minha respiração o mais irregular que consigo. Finja ser incapaz e fraca quando for atacar, quando estiver perto pareça estar longe e quando estiver longe pareça estar perto, confunda o inimigo e simule fraqueza para baixar suas defesas.

- Por favor não me machuque mais xiōngshǒu... por favor pare...

Digo baixo ainda com os olhos fechados e dou um soco na cama.

- Ninguém vai te machucar, sinto muito que tenha sido machucada mas fique calma agora está tudo bem você está segura eu não vou te machucar.

Ouço sua voz calma e isso por alguns instantes faz meu coração doer, por que ele está dizendo coisas assim?

- Não!... sai de perto de mim...

Balbucio mais fraco e aos poucos faço minha respiração voltar ao normal, escuto passos saindo do quarto e as portas se fechando mas mesmo assim não abro os olhos ainda.

A queda de LíangWhere stories live. Discover now