Capítulo 18

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(Dez anos depois ano do Galo, dias atuais)

 As mãos calejadas imploram por um descanço enquanto moo chá, minhas costas doem pela posição curvada para qual não fui criada, coloco o pó das ervas e derramo água fumegante, me ergo, minhas roupas são simples como as de uma escrava de médio escalão mas são quentes, os dias estão cada vez mais frios com o passar das semanas, caminho com um pouco mais de liberdade pela mansão e minhas tentativas de fugas foram deixadas para trás aos poucos, minhas mãos estremecem de frio fazendo a bandeja tremer, paro entre um salão e outro vendo os homens de preto em seu treino rotineiro, em seus movimentos em perfeita sincronia, abaixo minha cabeça e volto para meu caminho. O que resta de minha honra é o que não me permite curvar em frente ao Xiānshēng  quando as portas se abrem, largo grosseiramente a bandeja em sua frente fazendo um pouco do chá cair em sua roupa. Ele leva o chá aos lábios sem sem se importar com a sujeira que fiz ou com o fato de que o fiz o mais amargo que consegui.

- Bom! Acenda meu incenso e vá.

 Cerro os dentes e em silêncio vou até o outro lado acendendo os incensos, vejo sua cama logo a frente, parece confortável e bem aquecida diferente da que uso, pisco algumas vezes e desvio meus olhos, não me sinto disposta a falar o que penso ou sinto, não sinto necessidade de conversar com as servas ou ganhar suas confianças, apenas existo como uma brisa indesejada em uma noite de inverno.

 Ao chegar em meu quarto vou a janela como todos os dias, o céu está cinza como uma pérola, vejo os guardas se preparando para trocar de turno, aos poucos vejo um padrão em suas posições, olho para o portão tão próximo mas tão longe, volto para dentro e deixo minhas roupas cairem quando me preparo para entrar em um banho preparado por Li-Wei, ao sentir a água tocar minha pele um arrepio se espalha por meu corpo, a água que deveria estar quente já esta quase fria, lavo os cabelos e saio o mais rápido da água e volto a vestir as roupas, deixo os cabelos ainda molhados soltos e caminho até o centro onde não há moveis e deslizo meus pés e braços dançando sem uma melodia, seguindo o ritmo do vento e então fecho meus olhos e tento passar de minhas memórias para meus pés os estranhos movimentos que aqueles homens repetem vez após vez, ergo lentamente uma perna acima da cabeça e logo após deslizo a mesma abaixando todo meu corpo e fazendo um circulo com a perna em volta de meu corpo. Bato de leve em um vaso o derrubando, por sorte ele não quebra, sinto meu corpo aquecido pela dança então vou para cama e me cubro confortavelmente, massageio minhas mãos antes macias agora com alguns calos espalhados, sinto as lágrimas rolarem por meu rosto, sinto saudades de casa.

- Estou esperando, sei que não vai esquecer.

A queda de LíangWhere stories live. Discover now