A Cruz e o Machado

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Durante a sua infância, Adalyn escutou sua mãe contando para ela e para suas irmãs sobre as atrocidades vikings, sobre como aqueles invasores eram cruéis e impiedosos, eram monstros. Cornelia costumava ignorar o assunto, enquanto Edith e Augusta choravam assustadas somente em pensar em algum possível ataque daquelas pessoas em Caellun. Contudo, Adalyn contrariava qualquer bom senso em relação a isso, pelo menos aos olhos de quase todas as pessoas. Quando pequena temia sentir a fúria viking tão perto, porém conforme foi crescendo começou a se sentir curiosa e até de certa forma atraída por aquele povo tão sanguinário. Sua curiosidade surgiu a partir do momento que soube que as mulheres também lutavam naquelas invasões, e que pelo o que ouvia eram tratadas tão bem quanto aos homens. E foi esse pequeno detalhe que ela se viu atraída pelos vikings.

Talvez seja culpa de ter sido tão interiorizada pelo desejo de um herdeiro homem do seu pai, o rei Augustine. Ou talvez seja culpa da infeliz mania de sua mãe de achar que as filhas eram frágeis demais para o mundo exterior, chegando até mesmo a proibir as princesas de deixar o muro do castelo. E foi por causa dessa mania irritante que Adalyn passou a reprimir cada um de seus choros, se tornou inimiga de suas lágrimas já que via elas como uma demonstração de fraqueza, e foi por esse motivo que acabou se tornando praticamente incapaz de chorar.

As vezes em alguns dias, sentia seu peito arder e seus olhos queimarem, mas nada além disso acontecia. Nada. Augusta a chamava de "insensível por natureza", e talvez realmente fosse isso. Ada havia se tornado insensível. Entretanto, à algumas semanas quando o enorme exército viking invadiu as terras de Caellun a jovem acabou tendo a respostas para isso. O medo e a aflição que sentiu em apenas ao pensar em seu povo sofrendo e sua família morrendo foi o suficiente para saber. Então não, ela não era insensível. Adalyn só havia conseguido controlar suas emoções. A raiva, o medo, a tristeza, a felicidade. Tudo fácil de se controlar, e de se manipular.

E fora essa característica da personalidade da jovem princesa que parecia ter sido a sua grande salvação em sua vida em meio aos vikings.

Principalmente agora quando os seus pés estavam pisando em poças de sangue na cidade de York. Havia ficado do lado de fora e distante do massacre, mas mesmo assim havia conseguido escutar os pedidos de misericórdia das pessoas.

Contudo, abraçada pela sua capa de controle ela seguiu em frente, buscando seu marido e seus cunhados pela multidão viking formada pelas ruas da cidade. E enquanto isso, tentava ignorar o fato de estar pisando em sangue ou o choro de um bebê que ela jurava escutar. Talvez fosse algo da sua cabeça. Sua mente brincando com as suas fraquezas, já que por mais engraçado que fosse crianças era um de seus pontos fracos. Adalyn ficava mexida e ressentida com qualquer coisa ruim que envolvesse crianças, possivelmente pelo fato de ser tão ligada em Edith. E por esse motivo preferia acreditar que aquele choro era fruto da sua fértil imaginação.

E foi quando encontrou os três, encostados na parede do lado de fora da igreja da cidade, e vários corpos à sua frente. Ada desviou dos corpos como se eles não fossem nada, ou pelo menos tentava pensar dessa forma.

- Perdeu toda a diversão.- Adalyn não sabia se encarava aquela frase de Ivar como uma simples brincadeira ou uma provocação.

- Vocês se machucaram?- Adalyn percebeu os rostos dos três ensanguentados, mas sua pergunta pareceu divertir o mais novo.

- Não é nosso sangue.- Ivar respondeu a pergunta da jovem, e com isso recebeu um olhar de Ubbe.

Adalyn gostaria de entender como aquilo era tão natural para ele, mas por um lado sabia o que Ivar estava tentando fazer. Queria vê-la com raiva ou medo pelas ações dele, e por isso ela continuava com aquela mesma expressão passiva.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora