A Dama do Escudo

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Ainda era possível sentir seus ferimentos ao forçar sua perna ao chão, ou então ao passar muitas horas em pé trabalhando ao lado do restante do exército. No entanto, nenhuma dor era relevante o suficiente para fazer com que Adalyn parasse os seus planos naqueles dias.

As duas noites estavam chegando ao fim, acabando com as poucas horas de preparo que o massacrado exército de Bjorn e Harald haviam tido. Houveram inúmeras perdas do lado deles, vários feridos que não conseguirão lutar, além é claro, dos covardes que fugiram ao ver o retorno de Adalyn e de sua proposta mortal, já que para muitos lutar contra Ivar mais uma vez significaria seu extermínio total.

Olaf fora um dos que quase fugiram com o retorno de Adalyn, e a sua permanência foi ganha por sua estranha admiração com Lagertha. Pelo menos, por enquanto.

E em certos momentos, o único pensamento de Adalyn era como o seu corpo seria exposto após a sua derrota. Era quase inevitável lutar contra esse insistente sussurro em sua mente, pensar em como seus filhos seriam criados por Ivar em seu louco reinado. Seus filhos, Thorunn, Heimdall e Hela, os dois mais novos que ali havia carregado em seu ventre e lutado para trazer ao mundo, enquanto a mais velha havia sido uma dádiva dos deuses para ela e para Ivar.

E assim, apenas cinco motivos a impediam de desistir daquela batalha. Thorunn, Heimdall, Hela, Edith e seu gigantesco orgulho. Não, ela preferia ser enforcada do que ter que se ajoelhar em busca de piedade.

Tal pensamento fez com que ela retornasse a sua atenção para o seu verdadeiro trabalho ali, dando continuidade aos planos que criara junto aos outros lideres. Observar as cordas em suas mãos deixavam toda aquela sensação ainda mais real, o medo, o medo de fracassar e perder tudo o que havia conquistado. Ao olhar para as cordas sabia que a vitória e a derrota estavam em suas mãos.

Nó após nó, tronco após tronco, amarras após amarras. O seu pensamento permaneceu o mesmo em todos esses longos processos. Tudo estava em suas mãos, até mesmo o início e o final daquela batalha seriam de sua responsabilidade.

O campo de batalha em seu campo de visão, tão pacífico em comparação ao banho de sangue que se transformaria ao nascer do sol do dia seguinte. Em busca de algum sinal, buscou o conhecido corvo no céu, mas acabou não encontrando nada além das nuances do início da noite.

Adalyn olhou em volta, olhou para todas aquelas pessoas que trabalhavam ao seu lado, todos a espera de algo que ela não poderia dar para os mesmos. Não poderia entregar nenhuma certeza do final daquela batalha, nenhuma certeza de vitória, nada além de seus planos e de suas palavras. O futuro era extremamente incerto.

Incerteza. Era isso que a rodeava naquele mesmo instante, ao mesmo tempo em que suas mãos já ardiam pela quantidade de cordas que havia amarrado, de madeiras carregadas, de armas que havia buscado. Foi então que percebeu que, mais uma vez, sua vida estava interligada as escolhas de Ivar. Tudo dependeria se ele sairia ou não para a guerra, ou se escolheria se abster atrás de suas muralhas. Todos os passos para o plano que havia feito dependiam do filho de Ragnar.

O pensamento causará tanta raiva em si que acabou apertando com força demais o nó, fazendo com que sua mão ardesse ainda mais pelo atrito com o material. As pontas dos dedos apresentavam diversos calos, as palmas das mãos repletas de peles e de pequenos cortes, totalmente diferente da textura de anos atrás. Suas mãos já não eram diferentes das de Ivar, de Bjorn ou de Lagertha, e isso provava ainda mais que a menina que viveu em Caellun deixará de existir desde o seu casamento. A princesa de Caellun estava enterrada por trás daquela mão calejada, por trás das cicatrizes que cobriam partes do seu corpo e também, por trás de suas escolhas ao decorrer daquelas anos. Aquela princesa certamente não teria orgulho das mortes que causou, nem mesmo se sentiria satisfeita ao decapitar alguém.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now