O nascimento do Herdeiro

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Os raios de sol invidiam aos poucos aos aposentos do rei e da rainha de Kattegat, de uma forma acanhada e quase imperceptível para o ponto alto da manhã, em decorrência principal a forte nevasca que havia assolado a terra no dia anterior, cobrindo assim cada pedaço de terra visível por neve.

Os fortes ventos assustavam os mais desavisados, e a baixa temperatura pegava alguns habitantes de surpresa.

O cenário extremamente branco de Kattegat parecia combinar em perfeita sincronia com a sua rainha, e com as suas mechas brancas. Além disso, fora em um dia como aquela que a jovem havia chegado ao mundo à alguns anos antes. Em meio à tantas tempestades, deveria se existir uma calmaria quase certeira, um ponto de paz.

E era em meio ao estranho cenário do vazio e silêncio grande salão de Kattegat, que essa calmaria tinha fim. O grito agudo de Adalyn preenchia cada pequeno canto do lugar, se ecoando por meio das direções e das muitas mesas vazias. Em toda a sua vida, nunca havia se quer imaginado uma dor como aquela em que sentia naquele momento, seu corpo inteiro tremia após outra contração e o suor já havia se acumulado pela sua pele. Era estranho pensar que passava por aquilo desde o momento em que a tempestade começou a castigar Kattegat, e após poucos minutos uma poça de líquido se formava aos seus pés. Tudo parecia piorar conforme as horas se passaram, e a jovem começava a ser atingida pelo desespero de não ver seu bebê nascendo.

As histórias de Hilde a assustavam, a forma a qual a mulher havia perdido os seus filhos. Além disso, as várias mulheres que faleceram em seus partos passavam a serem lembradas pela mente exausta da rainha.

Dizer que não estava com medo era um eufemismo. Contudo, Adalyn não temia a sua morte, e sim a morte da criança a qual havia carregado todos aqueles meses. O sangue do seu sangue. E em uma súplica silenciosa pedia a misericórdia dos deuses, a bênção de Frigg para que aquele bebê viesse ao mundo saudável e bem. O seu único desejo era ver aquela criança em seus braços, e perceber que todos os medos que a corroiam não passavam de grandes bobagens, apenas.

Entretanto, os seus rápidos pensamentos foram interrompidos quando outra dor insuportável a atingia por inteiro, e logo se via colocando todas as suas forças restantes em uma tentativa de trazer seu filho ao mundo. Outro grito rasgava a sua garganta naquele momento, porém nada de diferente aconteceu ali.

Adalyn jogou o seu corpo para trás, tentando ao máximo se recuperar em suas forças perdidas para mais uma tentativa, a qual ela tinha certeza que não demoraria a vir.

- Minha rainha?- a parteira chamou a atenção da jovem, e seu tom trazia mais preocupações para a mesma.

Ao encarar a pequena e velha mulher sentiu o seu estômago se apertando em grande preocupação. A mão da mesma estava cheia de sangue. O escarlate vivo pintando a sua mão calejada, muito mais sangue do que o normal. E assim, as piores coisas começavam a passar em sua mente.

- O que vamos fazer?- a voz cansada e rouca abandonou os lábios da jovem, porém os seus olhos não estavam na mulher, e sim na figura de seu marido sentado à alguns metros dela, com a cabeça entre as mãos.

- Meu temor é que a criança sufoque se não nascer logo. Estamos desde a tarde de ontem tentando.

- E o que nós podemos fazer?

A voz de Adalyn conseguia passar certa rigidez mesmo em seu momento mais frágil, ao reforçar a sua anterior pergunta.

- A senhora tem duas opções, creio eu.- a voz da mulher trouxe certo arrepio na jovem, assim como para as duas escravas que a ajudavam naquele parto- Podemos tentar mais, ou então...

O olhar da parteira abandonava Adalyn e seguia até o seu punhal próximo a cama. A lâmina brilhando ainda mesmo sobe as sombras de seu quarto.

E assim, o medo a assombrava mais uma vez. Não temendo sua morte, e sim de não ver o seu filho crescer. E naqueles instantes desejava ter a sua mãe ao seu lado, a auxiliando e lhe dando a força e o suporte que apenas ela conseguiria dar. Sua mãe saberia as palavras que usaria para dar força a sua filha mais velha, e a manteria focada até o respirar de seu primeiro neto.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora