O sacrifício

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Havia se completado apenas duas semanas desde o nascimento do príncipe de Kattegat, e mesmo em tão poucos dias muitas coisas pareciam ter mudado na vida de seus pais e nos habitantes do reino. O sistema de proteção do lugar era cada vez mais fortificado pelo rei, que temia uma próxima invasão de seus inimigos. Além disso, uma espécie de altar fora montado no coração de Kattegat, e ainda vários pontos de fogueiras, e em poucas horas o sacrifício que seria oferecido aos deuses fora comentando com afinco por todos os cidadãos. Muitos viam com bons olhos os sacrifício, mas outros criticavam o rei pela escolha.

A neve se mantinha em boa parte da superfície da terra, mas as nevascas e tempestades pareciam ter dado uma trégua para Kattegat. Aos olhos de Ivar, aquilo significava um sinal dos deuses, aprovando as suas decisões e o sacrifício. E por isso os preparativos para aquele dia se intensificaram ainda mais, forçando até mesmo os pescadores a não lançarem suas redes ao mar, e nem mesmo que os comerciantes vendessem seus produtos. Para Ivar, todos deveriam parar para observar e admirar as suas ações. No entanto, a rainha não se agradava com as escolhas do marido já que via o olhar de desagrado e medo nos olhos de várias pessoas que passavam pelo grande salão.

Adalyn entendi que para se manter no trono o apoio do povo era de extrema necessidade, pelo menos para se manter de forma pacífica, ou então a única escolha que sobraria era a tirania.

Em grande parte do tempo, desejava apenas ignorar aqueles insistentes sinais de que o marido se perdia em seus atos. Queria acreditar que suas erradas decisões estavam tendo reflexos em sua falta de experiência e em sua pouca idade. Contudo, isso parecia tolice ao se lembrar de como Ivar liderava o seu exército em meio a York e na guerra com Lagertha. Não, ele não era inexperiente e nem tolo. Era apenas facilmente movido por seu orgulho e grande ego.

Por isso agradecia ao nascimento de Heimdall, já que desde que o menino havia nascido acabou tendo muito tempo para ocupar a sua mente. Na verdade, desconhecia o que era uma boa noite de sono à duas semanas. Heimdall contrariava tudo o que a sua mãe havia lhe contado sobre recém-nascidos e até mesmo o que havia aprendido com suas irmãs mais novas. O menino raramente dormia por longas horas, ficando a maior parte da noite e do dia com os seus olhos azuis arregalados, e observando tudo e todos ao seu redor, e não aceitava que outras pessoas o tirassem dos braços de sua mãe ou de seu pai. Dizer que estava cansada era um eufemismo. Adalyn estava exausta pela falta de sono e de descanso, além de se sentir culpada por não conseguir dar atenção para Thorunn como antes.

Sua consciência se tornava menos pesada ao ver a filha atrás do pai na maior parte dos dias, observando de perto todas as suas criações que protegeriam Kattegat, como a fortificação do muro de madeira que circulava o território deles. Aos poucos se tornava quase impossível adentrar o local sem alguma autorização.

- Minha rainha?- a voz de uma mulher chamou a atenção da jovem sentada ao trono, que acalentava o filho em seus braços.

A mulher era uma das várias escudeiras de Adalyn, que trazia informações para a mesma quando Ivar não estava no grande salão.

- Diga, Siv.- a rainha fez um movimento para que a escudeira se aproximasse do trono, e assim a mulher o fez, se sentando aos pés de Adalyn, próximo o suficiente para que palavras sussurradas não fossem ouvidas pelas pessoas erradas.

A mulher parecia extremamente tensa, olhando para os lados em diversos momentos. Parecia temer as consequências do que iria contar.

- Siv, os homens de Ivar foram com ele, não precisa se preocupar.

- Não me preocupo comigo, senhora, me preocupo com você.- Siv sussurrava lentamente para Adalyn.

- E por quê?- Adalyn observou os olhos azuis do filho se fixando na mulher ao chão, como se entendesse o que ela estava contando.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now