O Corvo

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Adalyn havia adormecido na tenda de Helga assim que se cansou da discussão entre os filhos de Ragnar, principalmente por saber que em breve eles partiriam para enfrentar os soldados do Wessex e isso causava certo desconforto em sua mente, já que sempre pensou que uma dia faria parte daquele povo, e agora seu marido e seus novos conhecidos marchavam rumo a morte daqueles cristãos. Em sua mente já estava claro que os vikings sairiam vencedores naquela batalha, tanto pelo seu grande numero e tanto por sua astucia. E por isso, dormir pareceu uma ótima fuga para os seus vários pensamentos. Se sua mãe estivesse ali a mandaria se ajoelhar e clamar a Deus pela alma dos saxões, porém ela não sentia nenhuma vontade de pedir algo para o seu Deus, porque em sua mente não havia nada que ele poderia fazer para ajudar aqueles homens.

Pouco tempo depois ela já havia despertado, sentindo os fracos raios de sol pegando em sua pele, no entanto aquilo não parecia ser o único motivo para ter acordado, na verdade ela se sentia observada.

Ao abrir seus olhos buscou por Helga, mas a mulher parecia concentrada demais cuidando de sua filha para encarar a princesa. Observou o redor da tenda, porém o acampamento estava relativamente vazio após a partida dos guerreiros, e com isso se perguntou se já estava sendo atormentada por algum tipo de loucura graças á suas companhias, no entanto antes mesmo que pudesse rir de seus próprios pensamentos percebeu um corvo em um galho bem próximo a tenda que ela estava. Adalyn possivelmente nunca conseguiria explicar o que sentiu, contudo sabia que aquela corvo estava a olhando sem qualquer descanso, parecendo até  mesmo intrigado pela jovem.

Sempre gostou de observar aquele pássaro, desde sua infância na verdade, suas penas negras sempre chamaram a atenção da princesa de Caellun, entretanto sua mãe odiava corvos já que para a mesma eles representavam algum tipo de mau agouro, representavam a morte e azar para a rainha. E talvez seja por isso que Edith sempre teve medo daquelas aves, gritando a plenos pulmões assim que as avistava, e chegando até mesmo a pedir para o pai caçar e exterminar. Augusta era indiferente, achando as falas da mãe e os gritos da irmã mais nova um completo exagero. Enquanto isso Adalyn não conseguia enxergar mau algum daquele ser.

No entanto, suas lembranças foram interrompidas pela chegada de um segundo corvo, ele também pareceu encara Adalyn mas com bem menos afinco do que o primeiro corvo, e em poucos segundos os dois voaram juntos e sumiram das vistas da princesa.

- Posso trançar seu cabelo?- a voz de Helga chamou a atenção da garota, que ainda esperava algum retorno daqueles corvos.

Adalyn olhou para os fios brancos, que já pareciam totalmente fora de ordem. Porém aquilo não foi o único motivo para aceitar que a mulher arrumasse o seu cabelo, na verdade percebeu que Helga estava chateada pela recusa do mesmo pedido de Tanaruz.

- Claro.- Adalyn sorriu verdadeiramente para a mulher, agradecida pelo acolhimento da mesma.

As mãos de Helga eram ágeis e delicadas e Adalyn quase não sentia seus toque em suas mechas, e a mulher parecia muito satisfeita em arrumar o cabelo da jovem, como se aquilo significasse muita coisa para ela. Adalyn se lembrou de sua própria mãe naquele momento, a rainha de Caellun sempre tentou fazer alguns penteados nos cabelos das suas filhas, mas a total falta de paciência e habilidade a impossibilitaram de tal coisa, e por isso passou apenas a pentear os fios das três meninas, já que sua enteada nunca apreciou passar algum tempo ao seu lado, e então uma a uma ela as penteava, era como dizer "eu te amo", ou pelo menos era isso que Ada entendia pelos atos da sua mãe. 

- Posso fazer uma pergunta?- Adalyn questionou Helga após alguns minutos em pleno silencio. 

- Faça sua pergunta.- a viking respondeu sem demora alguma.

- Por que o Ivar é daquele jeito?- Adalyn percebeu que não havia estruturado bem a sua pergunta, e possivelmente Helga entenderia alguma outra coisa.

- Ele nasceu assim.- a resposta dela também não demorou a surgir- A mãe dele, a rainha Aslaug, fez uma profecia de que Ragnar e ela não deveriam dormir juntos por três dias, ou então a criança nasceria sem ossos em suas pernas, e como o Ragnar era o Ragnar não acreditou nela.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora