O Soar da Guerra

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O cheiro da podridão parecia ter se intensificado ao decorrer dos anos, ou talvez seja os restos de algum sacrifício que estariam se decompondo naquela velha e afastada cabana. A coleção de ossos espalhados parecia ter aumentado pelo local, deixando a sua aparência ainda pior do antes. E além disso, aquela mesma sensação estranha e temerosa ainda percorria o corpo de Adalyn ao empurrar os tecidos finos e desgastados que estavam pendurados no teto.

Na sua última visita ao Vidente, ela ainda era casada com Ivar e havia escutado diversas coisas indecifráveis, e por muito tempo teve certeza que nunca voltaria a ver aquele ser que deixará de ser homem à tempos. Uma criatura condenada a viver gerações, séculos naquela terra, enquanto os deuses sussurravam suas decisões para o mesmo. E agora, ela estava ali para outra visita, na qual buscava mais respostas que a atormentavam a dias.

E a sua espera o ancião já estava, de costas para a rainha, enquanto parecia se aquecer nas chamas ao seu lado.

- Outra vez a rainha de Kattegat... os deuses me avisaram de sua chegada, menina...

A voz do Vidente ainda causava arrepios macabros em sua pele, como se a sua mente a ordenasse a fugir de perto do próprio.

- O que você quer?- a velha e rouca voz parecia cansada pelos anos de sua existência.

- Se os deuses avisaram sobre minha vinda, talvez já devesse saber o que desejo perguntar.- Adalyn, a contra gosto, se aproximou ainda mais do ancião, e se sentou em frente ao mesmo.

Um grunhido forçado saiu pelo rasgo que deveria ser a sua boca, talvez fosse o som do que deveria ser uma risada.

- Nem mesmo a dor e a perda tiraram suas palavras afiadas, minha rainha...- a face da criatura se virou em direção a jovem- Pobre menina, ela nem mesmo sabe o que pede aos deuses... Pergunte logo o que quer saber...

- Sei que uma guerra está nos portões de Kattegat, mas preciso saber se existe alguma chance de vencermos Harald.- Adalyn não gostava da sensação de ser observada pelo Vidente, era como se houvesse um peso em seus ombros.

- Você não sabe de nada, menina... ou não estaria aqui. Você nem mesmo viu o início do fim.- a pouca luminosidade deixava a aparência dele ainda mais macabra, a pele que cobrirá seus olhos e deformada seus traços- O destino de Harald Finehair não está em suas mãos, menina, mas está em seu sangue... Assim como a guerra não está em seus portões, mas sim nos mares turbulentos e traiçoeiros.

Um arrepio estranho percorreu o corpo da jovem ao final da fala do homem, cujas falas estavam carregadas de dezenas de interpretações, mas a última frase a fizera questionar se o verdadeiro ataque de Harald aconteceria pela praia.

- Veio até aqui para saber o que os deuses planejaram para seu inimigo, menina? Se for, está fazendo as suas perguntas erradas.

Adalyn percebeu que ele não daria o final da guerra em suas mãos, nada além de respostas que ela remoeria por horas ou dias.

- Eu ainda terei uma coroa ao final dessa guerra? O que você, ancião, sabe sobre o meu futuro?

- Eu vejo o fim sangrento dos tempos... as trevas e a escuridão irão corroer o mundo, e a podridão levará tudo o que pertenceu aos homens...- o Vidente deu uma longa pausa, ofegante por suas palavras- E você Adalyn, a Escolhida de Odin, e eu vejo o seu trono sendo construído pelos cadáveres dos mortos, e sendo forjado pelas espadas deles... Sim, eu vejo... vejo que a sua fúria queimará o mar. Sua morte já foi decidida pelos deuses, eu já a vi morta e fria em suas más escolhas...

Um trono feito de morte, era isso que ela teria.

- Meu marido e meus filhos irão sobreviver às minhas más escolhas?- a rainha o questionou, percebendo uma das faces de tal frase.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now