Os portões de Valhala

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O povo parecia ter acreditado na instável aliança feita pelos reis Harald Finehair e Bjorn Ironsise, a qual colocava a irmã mais nova da rainha em um casamento com o Rei dos Reis. As pessoas pareciam confiantes com a chance de retornarem as suas vidas normais, sem a possibilidade de serem massacradas pelos homens de Harald.

Porém, em um outro lado desse acordo, a rainha de Kattegat, e seus demais amigos e seguidores, não confiavam na desistência daquele ataque. Para Adalyn e os demais, Harald não abriria mão tão facilmente de Kattegat daquela forma, apenas em troca de um casamento e uma promessa de paz, e por isso todos se preparavam para o possível golpe que o rei planejava dar. Talvez tivesse aceito a aliança ao perceber que sua vitória não seria tão fácil como havia pensado de início, ou apenas desejasse matar Bjorn na frente do povo, os poupando para "provar" suas boas intenções com os cidadãos de Kattegat.

Seja qual fosse a estratégia de Harald, Adalyn também teria a dela. E por isso, o final da futura cerimônia já teria um final decidido em seus muitos pensamentos, antes mesmo de se iniciar.

Adalyn lutava incansavelmente contra o sentimento de derrota que se apoderou dela desde o momento em que Edith tomou a frente naquela negociação. Prometeu protegê-la, e agora, parecia tê-la entregue de bandeja para uma morte certa.

Seus olhares distantes vagueavam pelo salão, enquanto aquele sentimento pesado martelava em sua mente.

Se sentiu fraca e impotente durante horas, mas como a Escolhida de Odin poderia ser fraca? E por isso tentava ao máximo lutar contra seus pensamentos, e buscar uma forma de sair vitoriosa daquela irritante situação. Buscou pensar que aquilo era uma provação dos Deuses para ela, a testando para ver até onde a sua capacidade de vencer a levaria, e isso pareceu amenizar por algum tempo a culpa que rondava a sua cabeça.

No entanto, nem todos poderiam entender o quanto poucas palavras poderiam quebrar aquelw devaneio de segurança. E com isso, a voz de Thorunn ecoou pelos quatro cantos daquele vasto salão.

- Devia ter aberto a garganta dele, era isso que deveria ter feito.- a voz de Thorunn chamou a atenção da sua mãe- Não acho que Edith possa durar uma semana longe de você ou de Ubbe.

Thorunn foi criada por Ivar, logo, a franqueza que percorria o seu ser era mais forte do que qualquer outro sentido. Talvez não fizesse por maldade, mas isso despertará novamente o pesar de Adalyn.

- Por quê diz isso, Thorunn?- Adalyn questionou a filha, ainda mantendo a expressão pacífica marcada em sua face.

- Ela só está viva ainda porque é sua irmã...- Thorunn deu de ombros, e pareceu se lembrar o quanto era recorrente ver Edith com os seus ombros retraídos- Olha, eu gosto de Edith por ser minha tia e a melhor arqueira que conheço, mas as pessoas não a enxergam assim. Para eles, ela é só a estrangeira que adorava um deus inimigo, só isso. Acha que vai demorar quanto tempo para que ela irrite alguém? Duvido que Harald a proteja como você.

Proteção. Adalyn havia falhado e isso a irritava.

- Edith não cresceu como você ou como qualquer outro aqui. Era a filha caçula entre nós quatro e por isso acabava sendo apagada em mais conversas do que consigo me lembrar agora. Ela só está tentando se forjar como nós, e talvez isso leve algum tempo.

- E acha que quando ela se casar com Harald, vai ser mais rápido?- Thorunn, por mais que não admitisse, ainda possuía a mesma curiosidade infantil que encantará Adalyn anos antes- Não quero que ela morra, mãe.

- Não precisamos nos preocupar com isso, Thorunn, a sua tia não vai se casar com Harald.- Adalyn sorriu minimamente para a filha, em uma tentativa de passar certa segurança para a mesma- Nem que para isso eu precise destroçar a terra e aquela coroa que ele tanto ostenta.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now